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O legado de Gaúcho: ídolo do Fla não viu Cuiabá no topo após pagar promessa

Gaúcho, ex-atacante do Flamengo, foi um dos fundadores do Cuiabá - Acervo pessoal
Gaúcho, ex-atacante do Flamengo, foi um dos fundadores do Cuiabá Imagem: Acervo pessoal

Leo Burlá

Do UOL, em Cuiabá (MT)

19/02/2022 04h00

Qualquer torcedor do Flamengo que tenha acompanhado o clube nos anos 90 tem o ex-atacante Gaúcho guardado em um lugar especial do coração. Campeão do Carioca (91), da Copa do Brasil (90) e do Brasileiro (92), o ídolo escolheu Cuiabá para fugir da badalação e viver de forma sossegada depois de pendurar as chuteiras. Após gravar seu nome na história do Fla com 98 gols, o artilheiro ainda deixaria um golaço final para marcar em plena aposentadoria.

Ao lado do amigo Neto Nepomuceno, decidiu, em uma pescaria no Pantanal, fundar uma escolinha para a revelação de talentos na região. Dada a popularidade do antigo camisa 9, o projeto chegou a atender 500 alunos, mas a ideia cresceu de tal forma até virar uma equipe profissional que hoje disputa a Série A do Brasileiro. Sim, esse Cuiabá que já andou arrancando pontos dos gigantes nacionais em sua estreia na Primeira Divisão.

Dipostos a ter um time que disputasse os torneios de base em Mato Grosso, Gaúcho e Neto ouviram de dirigentes locais que seria necessária a criação de uma equipe profissional. Após muita conversa com Carlos Orione, ex-mandatário da Federação Matogrossense de Futebol, receberam uma autorização especial para a disputa da Copinha de 2002, mas desde que os garotos se tornassem profissionais depois.

Trato feito, promessa paga. Em 2002, devidamente registrado em cartório, o Cuiabá Esporte Clube iniciou sua saga, já levando o bicampeonato do Estadual em 2003 e 2004. Ainda longe do cenário da elite, Gaúcho e o amigo iniciaram de forma artesanal a história de um clube que neste ano vai disputar a Copa Sul-Americana, ao lado de Atlético-GO, Santos, Ceará, Internacional e São Paulo.

"Nós fundamos a Escolinha do Gaúcho com a ideia de revelar jogadores, eram dois campos sintéticos que atendiam 500 alunos em três turnos. Quando veio a história de fundar o Cuiabá, um contador que é meu amigo redigiu o estatuto e registrou em cartório. O hino do clube foi feito por mim, pelo Gaúcho e pelo Henrique e o Pescuma, que são do ramo da música. Sentamos no escritório da escolinha e fizemos a letra nós quatro. O Pescuma resolveu a parte do arranjo, e o hino está aí até hoje. O Gaúcho era mais ou menos de música, mas ele tinha boas ideias", lebrou Neto, em entrevista a UOL Esporte.

Gaúcho na escolinha - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Gaúcho, segundo da esquerda para a direita, durante os tempos da escolinha de futebol
Imagem: Arquivo pessoal

O sócio de Gaúcho recordou ainda como nasceu a ideia do batismo do novo clube. Ele contou que a ideia de homenagear a capital do Mato Grosso tinha a ver com o efeito que o envolvimento de um personagem como Gaúcho exercia sobre os clubes do estado.

"O Gaúcho pensou em Pantanal, Mato Grosso, mas decidimos por Cuiabá pelo fato de não ter rejeição nenhuma. Como o pessoal dos outros clubes tinha ciúme do Gaúcho, a gente achou que Cuiabá seria um nome sem rejeição. Fomos no cartório e não tinha nada registrado, daí nasceu o clube".

O projeto caminhava bem, o futuro era promissor, mas um câncer na próstata derrubou o goleador. Iludido por alguns tratamentos ineficazes e promessas controversas de cura, Gaúcho sucumbiu à doença e morreu em 2016, tempo insuficiente para acompanhar os dias de protagonismo do Verdão.

Gaúcho no Cuiabá - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Gaúcho (de boné) já com o Cuiabá em funcionamento
Imagem: Arquivo pessoal

Com a saúde do amigo debilitada, Neto e o parceiro decidiram vender o clube para o Grupo Drebor, que ainda hoje dá as cartas no Dourado. A escolinha, por sua vez, deu lugar a um prédio residencial na Avenida Tancredo Neves, em Cuiabá.

Sem esconder a saudade, Nepomuceno fala da falta que o amigo faz e de como seria se Gaúcho estivesse por aqui para acompanhar a final da Supercopa, amanhã (20), 16h, na Arena Pantanal.

"Ele era completamente apaixonado pelo Flamengo, certamente estaria no estádio para ver a final contra o Alético-MG", afirmou o amigo.

Gaúcho comemora gol pelo Flamengo - Carlos Chicarino/Estadão Conteúdo - Carlos Chicarino/Estadão Conteúdo
Gaúcho comemora gol pelo Flamengo
Imagem: Carlos Chicarino/Estadão Conteúdo