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Gaúcho - 2022

Gre-Nal ajudou Porto Alegre a superar enchente com 70 mil desabrigados

Centro de Porto Alegre tomado pela enchente de 1941, a maior da história - Acervo Fotográfico, Museu da Comunicação Hipólito José da Costa
Centro de Porto Alegre tomado pela enchente de 1941, a maior da história Imagem: Acervo Fotográfico, Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

24/02/2022 04h00

O Gre-Nal carrega uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro. Há quem coloque o clássico gaúcho entre os principais duelos do mundo. Mas Grêmio e Inter, acostumados com lados opostos, já estiveram unidos para ajudar a recuperar Porto Alegre após a maior enchente de sua história.

Entre abril e maio de 1941, registros nunca antes vistos e jamais igualados de chuvas ocorreram pelo Estado. Entre 10 de abril e 14 de maio, jornais registraram a maior quantidade de chuvas dessa época do ano: 629,4 mm.

Não bastasse isso, a chuva espalhou-se pelos principais rios que deságuam no Guaíba, que banha a capital gaúcha. Taquarí, Jacuí, Gravataí, Caí e Rio dos Sinos, todos mandaram ainda mais água para Porto Alegre.

O combo que gerou a maior enchente da história da cidade foi completo com o vento sul vindo da Lagoa dos Patos, que empurrou ainda mais água em direção ao município. O Guaíba atingiu o maior nível já registrado, 4,76 m. O município ficou inundado por 22 dias.

A consequência da inundação, que tomou o centro e muitos bairros da cidade, foi imediata. Serviços públicos foram interrompidos, estabelecimentos fecharam, escolas pararam de funcionar, houve prejuízo para o comércio e a indústria.

Segundo jornais da época, o número de desabrigados chegou a 70 mil. A quantidade significava, naquele período, um quarto da população de Porto Alegre.

Obviamente, diante de um cenário catastrófico, o futebol ficou em segundo plano. O calendário de competições deixou de ser seguido. Inter e Grêmio pararam. O Inter jogou até o dia 6 de abril, o Grêmio ainda fez mais três jogos adiante. O Campeonato Municipal foi paralisado.

Mas bastou a chance de voltar a jogar para que os dois maiores clubes da capital se unissem. Inter e Grêmio marcaram dois clássicos amistosos cuja renda seria destinada aos impactados pela enchente. O encontro valeria a Taça Irmãos Foernges.

No primeiro jogo, no campo da Timbaúva, casa do Força e Luz, em 18 de maio de 1941, houve empate em 2 a 2. Carlitos e Russinho marcaram para o Inter, Ivo e Malaquias fizeram os gols do Grêmio.

No duelo decisivo, no mesmo estádio, em 25 de maio daquele ano, o Inter venceu por 3 a 2 e levou a taça graças aos gols de Carlitos, Villalba e Tesourinha. Foguinho, duas vezes, fez os gols do Tricolor.

A taça foi para o museu vermelho, mas ali não estava em jogo a glória de bater o rival. O troféu não era físico, era moral. Inter e Grêmio se uniram para ajudar a cidade e contribuíram para reconstrução de Porto Alegre.

Os reflexos da enchente de 1941 estão até hoje presentes na vida da capital gaúcha. Para evitar que o cenário se repetisse, foi construído um muro que separa o Guaíba do Centro Histórico, o Muro da Mauá. A obra foi finalizada em 1974. Além dele, foi feito um sistema de drenagem e diques para evitar novas catástrofes.