Gre-Nal ajudou Porto Alegre a superar enchente com 70 mil desabrigados
O Gre-Nal carrega uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro. Há quem coloque o clássico gaúcho entre os principais duelos do mundo. Mas Grêmio e Inter, acostumados com lados opostos, já estiveram unidos para ajudar a recuperar Porto Alegre após a maior enchente de sua história.
Entre abril e maio de 1941, registros nunca antes vistos e jamais igualados de chuvas ocorreram pelo Estado. Entre 10 de abril e 14 de maio, jornais registraram a maior quantidade de chuvas dessa época do ano: 629,4 mm.
Não bastasse isso, a chuva espalhou-se pelos principais rios que deságuam no Guaíba, que banha a capital gaúcha. Taquarí, Jacuí, Gravataí, Caí e Rio dos Sinos, todos mandaram ainda mais água para Porto Alegre.
O combo que gerou a maior enchente da história da cidade foi completo com o vento sul vindo da Lagoa dos Patos, que empurrou ainda mais água em direção ao município. O Guaíba atingiu o maior nível já registrado, 4,76 m. O município ficou inundado por 22 dias.
A consequência da inundação, que tomou o centro e muitos bairros da cidade, foi imediata. Serviços públicos foram interrompidos, estabelecimentos fecharam, escolas pararam de funcionar, houve prejuízo para o comércio e a indústria.
Segundo jornais da época, o número de desabrigados chegou a 70 mil. A quantidade significava, naquele período, um quarto da população de Porto Alegre.
Obviamente, diante de um cenário catastrófico, o futebol ficou em segundo plano. O calendário de competições deixou de ser seguido. Inter e Grêmio pararam. O Inter jogou até o dia 6 de abril, o Grêmio ainda fez mais três jogos adiante. O Campeonato Municipal foi paralisado.
Mas bastou a chance de voltar a jogar para que os dois maiores clubes da capital se unissem. Inter e Grêmio marcaram dois clássicos amistosos cuja renda seria destinada aos impactados pela enchente. O encontro valeria a Taça Irmãos Foernges.
No primeiro jogo, no campo da Timbaúva, casa do Força e Luz, em 18 de maio de 1941, houve empate em 2 a 2. Carlitos e Russinho marcaram para o Inter, Ivo e Malaquias fizeram os gols do Grêmio.
No duelo decisivo, no mesmo estádio, em 25 de maio daquele ano, o Inter venceu por 3 a 2 e levou a taça graças aos gols de Carlitos, Villalba e Tesourinha. Foguinho, duas vezes, fez os gols do Tricolor.
A taça foi para o museu vermelho, mas ali não estava em jogo a glória de bater o rival. O troféu não era físico, era moral. Inter e Grêmio se uniram para ajudar a cidade e contribuíram para reconstrução de Porto Alegre.
Os reflexos da enchente de 1941 estão até hoje presentes na vida da capital gaúcha. Para evitar que o cenário se repetisse, foi construído um muro que separa o Guaíba do Centro Histórico, o Muro da Mauá. A obra foi finalizada em 1974. Além dele, foi feito um sistema de drenagem e diques para evitar novas catástrofes.
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