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Técnico campeão mundial dava dicas de sexo a mulheres de astros da seleção

Carlos Bilardo finge beber champanhe em jogo do Estudiantes contra o River Plate, em 2004. Histórias do treinador viraram série - AFP: France Presse
Carlos Bilardo finge beber champanhe em jogo do Estudiantes contra o River Plate, em 2004. Histórias do treinador viraram série Imagem: AFP: France Presse

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

24/02/2022 04h00

É hoje (24) o lançamento da série documental "Bilardo, O Doutor do Futebol" pela plataforma HBO Max. São quatro episódios de aproximadamente 45 minutos que contam histórias de vida e carreira de Carlos Bilardo, treinador campeão mundial pela seleção da Argentina em 1986 e vice quatro anos depois. Uma das passagens da série fala sobre sexo e mostra como o ambiente do futebol naquela época era sexista.

No terceiro episódio, três titulares da conquista de 86 se divertem ao contar que o treinador exercia um controle tão grande sobre o elenco que incluía até conversas particulares com as esposas dos jogadores para orientações sobre temas pessoais. "Uma loucura", se diverte Jorge Burruchaga, logo depois de se aprofundar no assunto em uma cena marcante da série.

"Ele tinha conversas, às vezes reuniões, para explicar a elas [esposas dos jogadores] como tinha que ser a namorada do jogador, a mulher, quanto aos descansos. Chegou até a dizer como tinham que fazer sexo (risos)", disse o ídolo da seleção.

O ex-companheiro Ricardo Giusti completa, também aos risos, sobre o tipo de orientação que Carlos Bilardo passava nestas reuniões: "Ele dizia a elas: 'cuidado quando fazem amor, as mulheres têm que ficar em cima'. Que trabalhem as mulheres (risos)".

Sergio Batista é outro que participa da resenha dizendo que às vezes tentava mudar de posição sexual na cama, mas as namoradas e esposas não permitiam, seguindo os conselhos de Bilardo.

O assunto é uma lenda urbana do futebol argentino há muitas décadas, e o próprio Bilardo já falou publicamente sobre isso. Ele é contrário a que os jogadores façam sexo nas horas que antecedem aos jogos e sempre pregou regimes de concentração rígidos, às vezes isolamentos de um mês antes de torneios importantes.

Para o caso de os jogadores transarem, o conselho do treinador era de que se esforçassem pouco na cama. "Que trabalhem as mulheres", como lembrou Giusti. Segundo a teoria de Bilardo, que também era formado em Medicina e se baseava neste argumento para convencê-las, os homens por baixo se desgastam menos fisicamente. "Os homens olham para o teto, as mulheres para os homens", já disse Bilardo, ainda mais polêmico em outra declaração: "As pessoas hoje não sabem fazer amor."

Em 2010, Bilardo foi coordenador técnico da seleção argentina dirigida pelo ex-comandado Diego Maradona, que liberou sexo na concentração durante a Copa do Mundo da África do Sul e permitiu que as esposas e namoradas dos jogadores também viajassem para o país. A decisão foi notícia na Argentina justamente pela postura flexível oposta à do ex-treinador.

A série "Bilardo, O Doutor do Futebol" foi produzida durante um ano e meio, tem 38 entrevistas e apresenta imagens familiares inéditas gravadas nas últimas décadas. Bilardo tem 82 anos e saúde fragilizada por causa de uma doença neurológica degenerativa.

Outras curiosidades da série:

Briga histórica com Menotti

Cesar Luis Menotti - Reprodução - Reprodução
Cesar Luis Menotti, técnico campeão pela Argentina na Copa de 1978 e rival de Carlos Bilardo
Imagem: Reprodução

Carlos Bilardo divide a prateleira dos técnicos mais importantes da história da Argentina com César Luis Menotti, que foi campeão mundial em 1978. Ambos deixaram vasto legado e dividiram o país entre "menottistas" e "bilardistas" num conflito que virou até livro. A série conta os bastidores dessa briga e traz uma entrevista com Menotti que nem os produtores esperavam fazer.

Menotti admite que talvez tenha começado a briga quando deu uma entrevista criticando a seleção argentina às vésperas da Copa do Mundo de 1986, no México. Dizem que Bilardo leu a tal entrevista e precisou se medicar durante um ataque de fúria porque se sentiu traído. A partir daí os xingamentos foram de lado a lado durante décadas, sem que quase nunca seus times se enfrentassem.

Um campeão sem festa

Maradona - Bongarts/Getty Images - Bongarts/Getty Images
Maradona e Rummenigge, antes da final entre Argentina e Alemanha na Copa do Mundo de 1986
Imagem: Bongarts/Getty Images

A Argentina foi campeã do mundo em 1986 num jogo em que abriu 2 a 0 diante da Alemanha, cedeu o empate e fez o gol da vitória só aos 38 minutos do segundo tempo, com Burruchaga. Quase não há imagens de Bilardo sorridente com a conquista ou abraçado aos jogadores. Na série, eles contam que encontraram o técnico cabisbaixo num canto do vestiário. "Não posso entender como minha equipe toma dois gols de bola parada num jogo".

Bilardo parecia que tinha perdido a Copa do Mundo. Ele não ficou com a medalha e não tirou foto com a taça. A reflexão que fez depois é que não há sucesso absoluto só pelo fato de ter sido campeão mundial.

Mulheres no treinamento

Bettina - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Bettina Stagñares em treino do time masculino do Estudiantes comandado por Bilardo, em 2003
Imagem: Reprodução/Instagram

O último trabalho de Bilardo como treinador foi no Estudiantes, entre 2003 e 2004. Ele já tinha mais de 60 anos e foi para o clube onde é ídolo. Certo dia, levou duas jogadoras do time feminino — Bettina Stagñares (hoje gerente de futebol feminino do clube) e Paola Vinai — para o treino do masculino. Disse para os atletas as tratarem normalmente. Tudo corria bem até que um jogador chamado Israel Damonte fez uma falta grave numa delas e ganhou uma bronca de Bilardo na frente de todos.

Damonte reagiu: "Mas não era para tratar normal?". Bilardo, então, explicou que o próximo adversário do Estudiantes era o melhor time de bolas paradas do campeonato, isso significa que tratar normalmente é tirar a bola do adversário "com bisturi" para não fazer faltas que gerassem chances de gols. Depois daquele dia, o treinador virou entusiasta do futebol feminino no país.