Com futuro incerto, Vital explica vida na Grécia e carinho pelo Corinthians
O destino de Mateus Vital no segundo semestre deste ano é uma incógnita. O jogador está emprestado ao Panathinaikos até 30 de junho e cabe ao clube grego tomar a decisão sobre o futuro do brasileiro. Por contrato, os europeus possuem o direito de compra estipulado em 4 milhões de euros (R$ 22,7 milhões na cotação atual), porém ainda não avisaram o Corinthians sobre suas intenções. Caso o direito não seja exercido, o meia retorna ao Brasil para reforçar o elenco do Timão, agora comandado pelo português Vítor Pereira.
Autor de três gols em 28 participações com a camisa do Panathinaikos na atual temporada europeia e se preparando para a disputa das semifinais da Copa da Grécia, Mateus Vital atendeu a reportagem do UOL Esporte, na última terça-feira (23) — horas depois do clube do Alvinegro anunciar a chegada do novo treinador — e explicou seu novo posicionamento no futebol grego, a adaptação ao clima do Velho Continente e também sobre a possibilidade de retornar ao Timão em breve.
"Falo do Corinthians para todo mundo aqui. Na Grécia, todos conhecem o Corinthians, sabem da grandeza do clube, é muito respeitado mundialmente, é inegável. É um clube que eu tenho enorme carinho, a estrutura do Corinthians é comparável com os grandes da Europa, é pau a pau, não deixa a desejar em nada. Tenho carinho pelo Corinthians, se for para voltar e o Corinthians quiser isso, é do meu agrado. Tenho uma vontade enorme de voltar a vestir essa camisa", confidenciou.
Desde setembro do ano passado, o jogador, que possui contrato com o Timão até o fim da temporada 2023, mora na cidade de Atenas e tenta se adaptar à nova realidade. Por lá, Vital tem a companhia da esposa, Stefhany Oliveira, e da filha, Antonella, de apenas 2 anos.
Veja a entrevista com Mateus Vital:
Como está sendo a experiência em morar fora do Brasil e jogar no Panathinaikos?
"A experiência está sendo muito boa, muito boa mesmo. A adaptação foi um pouco difícil, a língua é complicada, bastante diferente da nossa. É a minha primeira saída do Brasil. Então, era normal que isso acontecesse, a adaptação seria um pouco difícil, mas agora me sinto bem adaptado. Para a minha filha e minha esposa, foi um pouco mais difícil, sentiram a diferença, mas faz parte do processo. Nos sentimos bem agora e estamos acostumados com a cidade e com a cultura daqui."
Como está sendo o processo de adaptação para a sua filha?
"Nós achamos alguns brasileiros aqui que nos ajudaram bastante na nossa adaptação e estamos quase sempre com eles. Para ela (minha filha), está sendo a primeira vez que está indo para a escola. No Brasil, ela ainda não estudava porque ela era bem novinha. Nós procuramos uma escola que falasse inglês, colocamos ela em uma escola americana e estamos satisfeitos. Ela está curtindo, não entende muito (risos), mas o que vale é ela estar aprendendo uma palavrinha ou outra e estar brincando com os amigos, que nessa idade é o mais importante."
Você consegue se comunicar em grego?
"No clube, a língua no nosso dia a dia é o inglês. Temos vários jogadores de outros países, então o que mais se fala é o inglês. O grego é mais mesmo para uma coisinha ou outra, um bom dia, que aqui a gente fala 'kaliméra'".
No último inverno europeu nevou na Grécia. A adaptação ao clima e à comida chegou a ser um problema?
"A questão da comida aqui foi super tranquila, me surpreendeu positivamente. É até um pouco parecida com a do Brasil. O clima daqui me pegou um pouquinho (risos) no inverno. Eu sou carioca, então gosto de praia, gosto daquele calorão de 40ºC do Rio de Janeiro. Quando eu cheguei aqui ainda estava quente, peguei o final do verão, mas quando chegou o inverno foi complicado. Nunca lidei com tanto frio, mas tive que superar. Foi uma dificuldade, foi bastante difícil treinar e jogar no frio. No fim, consegui superar."
No Corinthians, você costumava jogar aberto pela ponta esquerda e ter liberdade para criar as jogadas pelo meio e finalizar de fora da área. Hoje, na Grécia, você tem atuado da mesma forma?
"Quando eu vim para cá, logo que eu cheguei, estava jogando nessa posição um pouco mais aberta. O nosso técnico gosta que o ponta esquerda venha um pouco mais para dentro quando o time tem a posse da bola para abrir passagem ao lateral-esquerdo. O lateral sobe em direção à linha de fundo e eu caio para o meio. Com a bola, eu jogo praticamente como um meia mesmo e é o lateral quem sobe e dá profundidade ao time. No nosso time, o lado esquerdo é mais ofensivo do que o lado direito."
Não era a forma como você gostava de jogar aqui no Brasil. Você está confortável jogando nessa nova posição?
"Está sendo uma adaptação, uma posição diferente. No Corinthians, eu vinha jogando mais aberto, era uma posição que eu me sentia confortável, é a posição que eu gosto de fazer porque pego a bola de frente e posso fazer o um contra um, posso puxar para o meio e dar essa finalização que eu gosto, que é uma das minhas maiores características. Estou em uma nova posição, jogando mais de costas para o gol, é um pouco mais difícil porque você joga em um espaço um pouco mais curto, mas estou aprendendo e está sendo uma experiência boa."
Há muita diferença entre o nível técnico do futebol grego em relação ao nível dos clubes brasileiros?
"Não vou negar que o Campeonato Brasileiro é de um nível técnico um pouco mais qualificado do que o futebol grego, mas o jogo aqui é de muita velocidade, de muita força física, tem muito contato, muito contra-ataque, é um jogo muito vertical. Me surpreendeu positivamente, as equipes são muito bem postadas, muito organizadas. É um campeonato difícil e equilibrado."
Você sente que está evoluindo taticamente jogando nessa liga com característica de um jogo mais posicional?
"Sim, com certeza. O jogo aqui é mais posicional, então taticamente estou evoluindo bastante. O futebol brasileiro tem mais essa questão da improvisação, então os atletas não ficam tão postados, e aqui é um jogo mais tático. Nesse aspecto, sinto que estou evoluindo."
Pegando os seus números pelo Panathinaikos, você tem 28 jogos, três gols e uma assistência. O que chama a atenção, no entanto, é que há uma sequência como titular logo na sua chegada ao clube e, três meses depois, uma outra sequência só que desta vez como reserva. Hoje, você recuperou o espaço. Mas o que houve naquele período para que houvesse essa oscilação? Você chegou a se lesionar?
"Comecei muito bem aqui, muito bem mesmo, me adaptei rápido. Surpreendi positivamente, era o que se falava aqui na Grécia, mas, infelizmente, durante um treinamento eu tive uma lesãozinha. Me machuquei, tentei conciliar o tratamento com os jogos, mas estava sendo difícil. Não queria ficar fora, então logicamente que meu nível caiu um pouco. Depois, foi uma questão técnica. O treinador optou em me deixar um pouco no banco e fazer um rodízio. Aqui se faz muito isso, num dia você joga, vai bem, e no outro o treinador usa um jogador diferente. No Brasil, não há essa cultura, mas na Europa é algo normal. O treinador tem feito rodízios. É normal e a gente tem que saber lidar com toda e qualquer situação."
O seu contrato logo chega ao fim e o Panathinaikos tem a opção de compra no fim de junho. Os gregos ou até mesmo o Corinthians te passaram alguma informação sobre como será o seu futuro após essa data?
"Essa questão do Panathinaikos exercer minha compra ainda não me chegou nada. Acredito que a conversa esteja acontecendo com meu empresário, mas ele não gosta de falar muito sobre essas coisas. Provavelmente, devo conversar sobre isso lá perto de junho, quando se encerra o meu contrato. Preciso saber se vou continuar aqui, se vou para algum outro clube ou se vou voltar para o Corinthians, que é clube com quem tenho contrato até o final de 2023. Procuro não tomar conhecimento disso, quero ficar focado dentro de campo, ainda mais agora que é uma fase final de temporada. Quero ficar com a cabeça no futebol."
A ideia de voltar para o Corinthians é algo que te agrada?
"Com certeza, com certeza. Falo do Corinthians para todo mundo aqui. Na Grécia, todos conhecem o Corinthians, sabem da grandeza do clube, é muito respeitado mundialmente, é inegável. É um clube que eu tenho enorme carinho, a estrutura do Corinthians é comparável com os grandes da Europa, é pau a pau, não deixa a desejar em nada. Tenho carinho pelo Corinthians, se for para voltar e o Corinthians quiser isso, é do meu agrado. Tenho uma vontade enorme de voltar a vestir essa camisa."
Se você voltar, vai encontrar uma concorrência muito grande na sua posição. Hoje, o elenco tem Willian, Renato Augusto, Giuliano, Paulinho e até mesmo velhos conhecidos seus. Isso te preocupa de alguma forma ou você encara como uma oportunidade?
"Seria um enorme prazer jogar com eles. O Renato e o Giuliano eu peguei um pouco no final da minha passagem pelo Corinthians. São pessoas que dispensam comentários, craques de bola e muito humildes. Ainda não conheci o Willian, o Roger Guedes e o Paulinho. Seria um prazer jogar com eles, jogadores de renome no cenário mundial."
O Corinthians anunciou o Vítor Pereira. Trabalhar com um técnico europeu depois da sua passagem por aí pode te ajudar de alguma forma?
"Acompanhei o Corinthians anunciando ele agora há pouco (risos). Eu também estava na expectativa de anunciar o técnico, saíram vários nomes na imprensa. Eu estou sempre acompanhando o Corinthians em jogos e até mesmo em notícias. Eu aprendi a gostar e admirar o Corinthians. O Vítor vai ajudar muito o clube, ele vai ter um elenco muito qualificado nas mãos. É um técnico que por onde passou, ganhou títulos. É renomado, treinou grandes equipes, e vai ajudar muito o Corinthians. Tenho certeza que virão grandes coisas nessa temporada."
Então você tem assistido aos jogos do Corinthians...
"Dou o meu jeito aqui (risos). Procuro acompanhar porque eu gosto do Corinthians. Admirava o Corinthians antes mesmo de ir jogar no clube, sempre que tem jogo eu assisto. É um elenco qualificado, tem tudo para ganhar grandes coisas. Está sendo legal assistir, estou vendo a evolução da equipe. É um começo de temporada, teve a queda do Sylvinho, o Fernando [Lázaro] assumiu temporariamente e trouxe bons resultados, e agora chega um novo treinador com uma nova metodologia de trabalho. São ajustes, mas tenho certeza que vão conquistar grandes coisas."
Você mantém contato com o elenco?
"O cara com quem eu mais falo lá é o Mosquito, um cara que virou meu parceiro. Nossas esposas são amigas, vez ou outra a gente faz uma chamada de vídeo e ele me conta umas informações do Corinthians."
E ele pede para você voltar?
"Pede sempre (risos). Eu e minha esposa queremos estar lá perto deles (Mosquito e família). No futebol, somos um pouco carentes de amizade por conta da rotina da nossa profissão. Então, quando a gente conhece um cara gente boa, que é parceiro e te ajuda, a gente quer estar perto. Somos amigos."
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