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Em dia de definir futuro, CBF acaba com 'candidato' a presidente sem nome

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Igor Siqueira e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/02/2022 04h00

Era o dia para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acabar com toda a instabilidade de meses no seu comando. O ex-presidente Rogério Caboclo seria afastado em definitivo por decisão da assembleia de federações e havia toda uma costura política e jurídica para Ednaldo Rodrigues se consolidar no cargo até abril de 2023. Mas apareceu uma decisão judicial de intervenção no meio do dia e o diretor mais velho deveria assumir o poder.

A partir daí, veio uma cartada de Ednaldo: o anúncio da nomeação de um diretor novo. Assim, a confederação passou a ter um "candidato" a presidente que nem os dirigentes sabem o nome direito. Na confusão, alguns ouviram que se tratava de um João.

Mas que João? Nenhum dos dez dirigentes de federações e da CBF consultados pelo UOL Esporte soube dizer quem é esse João.

Até isso vir à tona, a assembleia de federações ocorria como previsto no script: 26 dos 27 dirigentes ratificaram uma segunda punição a Caboclo — desta vez, por assédio moral. Com isso, sua sanção de 41 meses ultrapassava o mandato e ele estava afastado em definitivo.

Pelo rito previsto no estatuto, Caboclo seria substituído provisoriamente pelo Coronel Nunes, vice da CBF mais velho. Mas Ednaldo leu perante todos uma carta por meio da qual Nunes se licenciou, alegando motivos de saúde. O seguinte na lista era Antônio Aquino Lopes, que, tendo ido à CBF com um curativo na cabeça, também abriu mão. O cargo provisório, então, ficava nas mãos de Ednaldo Rodrigues.

O próprio baiano convocaria eleições em, no máximo, 30 dias para um pleito em que contaria com ampla maioria, 22 federações, no mínimo. Provavelmente seria reeleito. Há quem diga que os planos eram fazer em oito dias, respeitando apenas o prazo a partir da publicação em jornal de grande circulação.

Mas, durante a assembleia, os dirigentes de federações e vices da CBF souberam que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decretara, de novo, a intervenção na entidade. Matérias como a do UOL chegavam nos aplicativos de mensagens. A decisão mandava que houvesse uma nova eleição — anulando o pleito que elegeu Caboclo — e, assim, extinguindo os mandatos dos vices no poder, inclusive Ednaldo.

Além disso — uma diferença crucial nas decisões anteriores —, não havia Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e nem Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), como interventores. A nomeação, segundo orientação do presidente do STJ, Humberto Martins, foi do diretor mais idoso da confederação. Aí começava a confusão.

De partida, ninguém entendeu direito que figura seria essa, até que apareceram trechos da decisão do STJ, que foi publicada à noite no Diário da Justiça Eletrônico. Pensou-se inicialmente que a bola da vez para a presidência seria Carlos Eugênio Lopes. Mas, no papel, ele passou a ser nos últimos anos vice-presidente jurídico e não mais diretor. O mais velho, então, seria Dino Gentile — aliado histórico de Marco Polo Del Nero e responsável pela diretoria de patrimônio da CBF.

Tom de voz elevado para 'invocar' João

Os presentes à assembleia notaram o desconforto em Ednaldo. Eis que o presidente em exercício tirou uma carta (?) da manga. E começou a ler o que seria uma nomeação de um diretor. Na correria, a informação que muitos captaram foi que o nome era João. Nenhum dos cerca de dez dirigentes ouvidos pelo UOL, após a reunião, sabe ao menos o sobrenome da figura.

Até o cargo é meio incerto. Houve quem citasse a área social. Outro, de desenvolvimento. Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista, falou enquanto entrava no carro para sair da CBF que a nomeação tinha sido feita dia 17. Fato é que não houve apresentação de documento, e no site da CBF não consta o nome (nenhum diretor que está na entidade foi demitido, por ora).

Houve um ar de estupefação na sala com o tom exaltado de Ednaldo naquele momento. Ninguém conhecia o tal João ou tinha sabido da nomeação citada pelo presidente em exercício.

O pulo do gato: a depender da idade da pessoa citada pelo baiano, ela poderia, em tese, ser apontada como o diretor mais velho, ficando assim com o poder quando a CBF fosse intimada da decisão do STJ.

Sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no Rio de Janeiro - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no Rio de Janeiro
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Contra-ataque e próximos passos

Os diretores da CBF, os que estão, de fato, na atividade, não estavam na assembleia. Souberam depois do ocorrido. Alguns até começaram a redigir documentos cujo teor, segundo o UOL apurou, dá conta de que Dino Gentile (o primeiro nome dele na real é Oswaldo) é o diretor mais velho da CBF e que não houve mudança na relação de diretores nos últimos 150 dias. Se a nomeação do João aparecer em algum documento (retroativo ou não), a ideia é ter esse "testemunho" no gatilho.

Com João, jamais visto no prédio, ou sem João, a decisão do STJ está em vigor. A expectativa é que a CBF seja notificada e, conforme previsto no documento, o juiz de primeiro grau do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) formalize a nomeação do diretor mais velho.

Mas para que mesmo? Convocar uma assembleia, com participação dos clubes da Série A, para rever as regras eleitorais previstas no estatuto da CBF. Hoje, há peso três para os votos das federações, peso dois para os clubes da elite e peso unitário para quem está na Série B.

Um caminho discutido nos bastidores é que essa reunião valide o que já está no papel e assim o processo perca objeto, pois a questão central estará resolvida.

O passo seguinte é que pode gerar debate jurídico: a eleição da chapa de Caboclo fica anulada ou não?

Se a resposta for sim, não há que se convocar uma eleição para preencher a vacância, já que não há mandato em vigor. Assim, a eleição convocada em seguida, com as regras validadas, será para o período de quatro anos e sem a restrição de candidatura a algum dos oito vice-presidentes - como estava desenhado até a manhã de ontem.

A CBF pode recorrer da decisão do STJ e tentar manter tudo como estava. Independentemente disso, alguns vices, na pessoa física, pretendem recorrer. É o caso de Castellar Neto e Gustavo Feijó. A ver o que será dessa novela nos próximos dias. Quem sabe o João tenha alguma contribuição.