Como São Paulo monitora ex-jogadores da base em busca de novas receitas
A aposta na revelação de talentos surgidos em Cotia tem rendido frutos ao São Paulo. Levantamento recente do CIES (Centro Internacional de Estudos do Esporte) mostrou que o clube paulista é quem mais revela jogadores para as principais ligas do mundo.
Mais do que os lucros conquistados com as vendas diretas, revelar atletas significa uma receita futura. O chamado mecanismo de solidariedade da Fifa estipula que os clubes responsáveis pela formação dos atletas dos 12 aos 23 anos sejam recompensados com uma porcentagem de cada negociação que for feita.
O São Paulo tem pelo menos 30 jogadores revelados em Cotia atuando por outros clubes nas 15 principais ligas do mundo. O número dificulta um monitoramento específico de cada uma das possíveis transações. Por isso, a diretoria aposta em parcerias.
Recentemente, o São Paulo anunciou acordo com a Rede do Futebol, que possui software que detecta as negociações que se enquadram no mecanismo de solidariedade. Apesar de ter sido oficializada apenas no início deste mês, o trabalho conjunto já acontece desde o fim do ano passado.
"O São Paulo sempre teve um trabalho forte na base e de atuação no mercado da bola. Não por acaso, somos o clube do país com maior número de talentos nas principais ligas (...) O clube monitora permanentemente situações de atletas formados pela base que possam, eventualmente, gerar receitas por meio do mecanismo de solidariedade. A parceria com a Rede do Futebol é mais uma ferramenta para que esse monitoramento tenha eficiência e agilidade para benefício do clube e um exemplo de como o São Paulo se mantém alerta à melhora de processos", explica o presidente Julio Casares.
A Rede do Futebol trabalha junto com o jurídico do São Paulo. Periodicamente, eles enviam um relatório das negociações que dão direito financeiro ao clube e repassam para o departamento são-paulino. Na sequência, a diretoria aciona a Fifa pelo TMS, sistema de transferência internacional de atletas da entidade máxima do futebol.
O monitoramento das negociações acontece para que o valor seja pago mais rapidamente. A Fifa costuma avisar os clubes que se enquadram no mecanismo de solidariedade, mas o processo tende a ser mais lento se o primeiro passo partir da entidade máxima do futebol.
"É difícil que esse controle seja feito por conta própria. Um clube do tamanho do São Paulo, com uma base enorme, não tem como monitorar o mundo inteiro para saber quais jogadores foram negociados. A gente tem uma ferramenta que me permite automaticamente identificar os formados pelo São Paulo. Como a gente tem isso, consigo dizer todos os jogadores e monitorar ao redor do mundo", explica Marcelo Nadler, um dos criadores da Rede do Futebol.
A venda mais recente que impactou o São Paulo envolveu David Neres. O atacante deixou o Ajax rumo ao Shakhtar Donetsk por 12 milhões de euros (R$ 75,8 milhões na cotação da época), com o valor podendo subir para 16 milhões de euros, ou R$ 101 milhões), dependendo das metas a serem alcançadas.
Neres permaneceu no São Paulo dos 12 aos 20 anos. Por isso, o time tem direito a receber 3% da negociação, o que variará entre 360 mil euros (R$ 2,2 milhões na cotação da época) e 480 mil euros (R$ 3 milhões).
Nos casos maiores, em que o jogador está em destaque, o monitoramento costuma ser feito pelo próprio clube. Outra cria de Cotia, o atacante Antony, atualmente no Ajax, tem sido presença constante nas convocações da seleção brasileira e tem seu nome especulado em clubes maiores da Europa. No ano passado, ele chegou a ser alvo de interesse do Bayern de Munique, mas as conversas não avançaram.
Antony ficou no São Paulo dos 11 aos 20 anos, o que renderia ao time do Morumbi cerca de 3,5% de qualquer negociação que ele seja envolvido futuramente.
Os valores recebidos pelo mecanismo de solidariedade ajudam o São Paulo em seu orçamento. O clube prevê arrecadar R$ 142 milhões em revendas de direitos econômicos em 2022, o que inclui algumas quantias que podem chegar por negociações de atletas revelados pelo Tricolor, mas que não estão mais no Morumbi.
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