Como Vini Jr se tornou modelo para Endrick até na alimentação

É horário do almoço em Madri, na Espanha. Em uma bela casa no bairro de La Moraleja, próximo ao CT do Real Madrid, sentam-se à mesa duas das maiores esperanças do Brasil para os próximos anos: Vini Jr, titular do Real e dono da casa, e seu convidado ilustre, Endrick, de apenas 15 anos, campeão da Copinha pelo Palmeiras.

A refeição, servida pelo chef particular de Vini Jr, chega igual para os dois e o atacante merengue logo brinca.

"Não faz isso com ele. Ele está de férias, deixa comer o que quiser."

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Todos na mesa riem, e o estafe do jogador responde com a explicação desse nada ocasional encontro na capital da Espanha.

"Ele veio aqui porque você é um bom exemplo, fica quieto (risos). Ele tem o resto das férias para comer o que quiser."

O diálogo foi contado ao UOL Esporte por Frederico Pena, CEO da TFM Agency, que gerencia a carreira das duas estrelas brasileiras. Endrick, de fato, estava de férias e aproveitou para, além de viajar à Disney como sugeriu o técnico Abel Ferreira, assistir ao jogo entre Real Madrid e Paris Saint-Germain (FRA), pela Liga dos Campeões.

O encontro promovido pela agência tem explicação e não foi exclusividade para Endrick. Segundo Pena, a intenção é mostrar aos jogadores os bônus de chegar ao nível de Vini Jr, mas também os sacrifícios que precisam ser feitos pelo alto rendimento.

"Como agência, nossa referência para mostrar 'se você quer chegar nessa nível, olha o tipo de coisa que você tem que fazer na sua vida'. Em diversas ocasiões a gente já levou atletas para viver o dia a dia dele [Vini]. Geralmente, o cara tem aquela visão de que o jogador de futebol não é atleta, é artista. O Vinicius é extremamente inteligente e entendeu isso desde o início. Por outro lado, ele teve os estímulos certos e a carreira dele teve um sucesso extremamente precoce que gerou para ele um retorno financeiro que, óbvio, acaba ajudando tudo. Muito mais fácil você fazer isso tendo condições de pagar essa conta toda, porque a conta é cara. O Endrick ficou hospedado na casa do Vinicius. Ele ficou lá e comia a comida que o Vini comia. Para nós é: você vai para ver a parte boa de chegar nesse nível e entender que por trás disso tem uma série de sacrifícios", explicou.

Entre os jogadores com carreiras geridas mela mesma empresa de Vini Jr, conhecer o ambiente mais badalado de um astro do futebol e toda estrutura complexa que o cerca não é uma exclusividade de Endrick. O mesmo já aconteceu com Marquinhos, atacante do São Paulo, Nathan, lateral direito vendido pelo Vasco ao Boavista de Portugal, além de Marcos Paulo, meia que deixou o Fluminense em negociação com o Atlético de Madrid e está emprestado ao Famalicão, de Portugal.

O chef de cozinha é apenas uma engrenagem da grande máquina que cuida do extracampo da carreira de Vini Jr na Espanha, onde ele mora com a família. É uma função relativamente nova no estafe do jogador, mas que é visto como de fundamental importância no crescimento do atacante na Europa.

"Hoje, cada vez mais a alimentação é um pilar de fundamental importância, tirando principalmente o açúcar e dosando durante a semana, dependendo de como ela será. Qual a dosagem dos alimentos, carboidratos, qual tipo de proteína, se é carne branca ou vermelha, verduras... E é uma coisa difícil. É um sacrifício grande. Vemos vários casos no futebol de atletas sendo criticados na imprensa por engordarem. Essa parte do cara continuar na linha e se alimentar bem, é difícil. Então, você ter um chef e conseguir entender qual é o cardápio que está sendo passado e o porquê, fazendo com que o atleta coma aquilo que é necessário e com sabor — que é uma coisa de extrema importância, porque (dieta) muda a vida do cara, fica naquela dor de cabeça, mau humor... Demorou três anos para achar a pessoa certa", explicou Pena.

Nesta temporada, Vini Jr vem sendo um dos melhores jogadores do Real Madrid e já ultrapassou, por muito, seus números em participações em gols. Foram 34 jogos até aqui na temporada 2021/22, com 16 gols e oito assistências. Além disso, há a consolidação como titular da seleção brasileira, faltando menos cerca de nove meses para a Copa do Mundo.

Endrick, por sua vez, ainda não estreou no time principal do Palmeiras. Nas competições nacionais, nem permissão legal tem para isso. É que o primeiro contrato profissional não pode ser assinado antes de ele completar 16 anos, em 21 de julho. Mesmo que ele siga com contrato amador em um primeiro momento, 16 anos também é a idade mínima para que jogadores sem vínculo profissional disputem competições organizadas pela CBF, como o Brasileirão. A mesma regra se aplica ao Campeonato Paulista.

Enquanto isso, o jeito é controlar o apetite de bola em outros campos.