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'Agoniados', atletas brasileiros pedem proteção para deixar bunker em Kiev

Do UOL, em São Paulo

26/02/2022 09h25

O grupo de jogadores brasileiros, suas famílias e profissionais do futebol ligados ao Shakhtar Donetsk e ao Dínamo de Kiev divulgou um novo vídeo, hoje (26), após não conseguir deixar a capital ucraniana em meio à guerra contra a Rússia. Cerca de 50 brasileiros estão instalados em um bunker de um hotel em Kiev.

Porta-voz do grupo, o zagueiro Marlon, do Shakhtar, se mostrou indignado com a situação. Por falta de segurança, eles decidiram não seguir à Estação Central de Kiev e tentar pegar o trem oferecido pelo Itamaraty como alternativa para chegarem à fronteira da Ucrânia com a Romênia.

"Mais uma vez a gente está aqui reunido, desta vez indignado, estamos cansados, agoniados, e a falta de alimento, de fralda, de leite tem aumentado, e a gente não tem uma solução e está muito difícil aqui para a gente. A gente pede ajuda, por favor", disse Marlon, seguido pelo volante Maycon, também do Shakhtar.

"A única solução que deram para nós foi esse tal de trem, mas nós estamos em uma área onde, infelizmente, está acontecendo uma guerra. Até chegar ao trem ou ao metrô, a gente teria que andar um quilômetro, mais ou menos, com crianças, idosos. Não teríamos suporte da embaixada para chegar neste local com segurança. Todos concordam aqui que fica inviável chegar até lá e, por isso, tomamos a decisão de nos manter aqui, seguros, com vida, pelo risco que correríamos se chegássemos até lá", declarou o ex-jogador do Corinthians.

No vídeo, uma mulher ainda pediu: "A gente não quer luxo, a gente só quer profissionais que venham salvar e ajudar a gente". Por fim, um homem falou que a embaixada portuguesa conseguiu retirar os portugueses do bunker com segurança.

"Nós acreditamos no governo brasileiro. Sabemos que eles têm preocupação conosco, mas, sem querer fazer um comparativo, a embaixada portuguesa já efetivamente ofereceu veículos para um plano de fuga dos seus cidadãos, e, enquanto isso, nós estamos aqui, sem algo claro e tudo por nossa conta e risco."

"Como que iríamos para um trem e, inclusive, a embaixada deixou claro que esse trem não garantiria que todos os brasileiros pudessem realmente embarcar, andar dois quilômetros, tendo vários tiros aqui, bombas a 800 metros de nós, várias crianças, pessoas com idade? Então, realmente, a única opção que tivemos foi ficar aqui e estamos aguardando realmente algo efetivo com funcionários e profissionais que realmente garantam a nossa integridade física para podermos sair da Ucrânia", finalizou.

Há dois dias, o grupo de brasileiros publicou um primeiro vídeo pedindo ajuda ao governo brasileiro para deixarem a Ucrânia. Pouco depois, o embaixador do Brasil em Kiev, Norton Rapesta, afirmou que jogadores e familiares seriam evacuados.

"Nós vamos evacuar os brasileiros. Jogadores de futebol. Todo mundo", disse Rapesta à BBC. O embaixador não deu detalhes de como será a evacuação.

Sem escolta

O grupo de jogadores brasileiros, suas famílias e profissionais do futebol ligados ao Shakhtar Donetsk e ao Dínamo de Kiev foi avisado ontem (25) pelo Itamaraty, com pouca antecedência, de que um trem partiria com destino à cidade de Chernivsti, no oeste da Ucrânia, de onde poderiam tentar chegar à Romênia.

"Nós fomos avisados do trem muito em cima da hora e sem nenhuma estratégia de segurança. Não era viável sair, nos deslocarmos todos. Ainda mais naquele horário. Estamos aqui ainda", disse ao UOL Esporte o empresário Augusto Nogueira, que representa o lateral Vinicius Tobias, de 18 anos, que transferiu-se do Internacional para o Shakhtar no fim de janeiro.

"Temos crianças, desde bebês de 3, 4 meses, até crianças de 6, 7 anos. Não há a mínima segurança para sair à rua. Estamos ouvindo barulho de bomba aqui no hotel."

O empresário afirma que já começam a faltar alimentos e água no hotel. "A situação está crítica, e estamos muito preocupados. Mas não pretendemos sair sem que tenha a mínima segurança. Acreditamos que o governo brasileiro vai achar uma forma de nos tirar daqui."

O contato do grupo de brasileiros com a representação diplomática brasileira se dá apenas por canais eletrônicos — pelo site ou pelo Telegram. Foi por meio do aplicativo de mensagens que o grupo foi informado, às 21 horas de Kiev, que o trem sairia apenas uma hora depois. Ninguém da Embaixada do Brasil em Kiev os procurou. "Ninguém [nos procura]. Só nós e Deus", lamentou Nogueira.

Além de Vinicius Tobias, que completou 18 anos às vésperas da invasão russa na Ucrânia, estão no bunker do hotel Ópera jogadores como o zagueiro Marlon, ex-Fluminense, o meia-atacante Pedrinho, ex-Corinthians, o atacante David Neres, ex-São Paulo, e o lateral Dodô, ex-Coritiba.