Atletas brasileiros saem de bunker em comboio e pegam trem para deixar Kiev
O grupo de jogadores brasileiros, familiares e amigos conseguiu pegar um trem e sair de Kiev após deixar o bunker em um hotel da capital ucraniana, onde eles passaram os últimos dias em meio à guerra contra a Rússia.
Os cerca de 50 brasileiros se dividiram em carros e foram em comboio até uma estação de trem de Kiev. Parte do trajeto foi exibida em uma live no Instagram de Maria Paula Marinho, esposa do zagueiro Marlon Santos, do Shakhtar Donetsk.
"Foi uma correria, porque fomos avisados de última hora. Estamos todos os brasileiros juntos. Estamos indo para a estação de trem, foi informado que está com trem para sair agora", disse Maria Paula, chorando.
"A Ucrânia se pronunciou que entre 17h e 8h todas as pessoas que estiveram na rua são vistas como pessoas de risco, inimigos. Todo mundo com a bandeira do Brasil colada na frente [dos carros]. A gente vai ter que sair andando e deixar o carro. Estamos tentando pegar o trem. Vai dar tudo certo. Estamos com três crianças, vou ter que desligar, orem bastante pela gente. Nos vemos no Brasil, se Deus quiser", acrescentou, antes de encerrar a live.
Em seu canal no Telegram, a Embaixada do Brasil em Kiev vem informando sobre trens que partem de diferentes cidades da Ucrânia com destino a locais perto da fronteira. Pouco antes das 9h (horário de Brasília), uma mensagem falava sobre trens partindo da capital.
"Segundo a última nota da UZ (empresa de trens ucraniana), há trens saindo hoje de Kiev para locais perto da fronteira, incluindo Chernivtsi (16:50), Uzhhorod (17:00) e Lviv (18:00). As pessoas só devem se dirigir à estação, porém, se considerarem que há segurança suficiente. Deve-se chegar na estação também com bastante antecedência antes do toque que se inicia às 17:00", informou a Embaixada. O toque de recolher em Kiev passou a valer às 17h (horário local, 12h de Brasília) de hoje e vai até às 8h de segunda-feira (28).
Mais tarde, veio a confirmação de que os brasileiros conseguiram embarcar em um dos trens que levará o grupo até Chernivtsi, perto da fronteira com a Romênia. Na sequência, eles pegarão um ônibus disponibilizado pela Embaixada brasileira para cruzar a fronteira. A viagem deve levar cerca de 11 horas.
Um dos brasileiros a bordo é o atacante Vitinho, ex-Athletico e atualmente no Dínamo de Kiev. O atleta aparece com uma bandeira do Brasil ao lado de outros brasileiros em foto enviada ao UOL Esporte pelo escritório de advocacia de Igor José Ogar, que defende o jogador.
O empresário Will Dantas, do atacante Pedrinho, do Shakhtar, declarou no Instagram que o atleta ex-Corinthians ligou para avisar que também conseguiu pegar o trem.
Pedido de ajuda
Hoje mais cedo, o grupo de jogadores e familiares divulgou um novo vídeo nas redes sociais pedindo ajuda. Porta-voz dos brasileiros, o zagueiro Marlon se mostrou indignado com a situação.
Na noite de ontem, por falta de segurança, eles decidiram não seguir à Estação Central de Kiev e tentar pegar o trem oferecido pelo Itamaraty como alternativa para chegarem à fronteira da Ucrânia com a Romênia.
"Mais uma vez a gente está aqui reunido, desta vez indignado, estamos cansados, agoniados, e a falta de alimento, de fralda, de leite tem aumentado, e a gente não tem uma solução e está muito difícil aqui para a gente. A gente pede ajuda, por favor", disse Marlon, seguido pelo volante Maycon, também do Shakhtar.
"A única solução que deram para nós foi esse tal de trem, mas nós estamos em uma área onde, infelizmente, está acontecendo uma guerra. Até chegar ao trem ou ao metrô, a gente teria que andar um quilômetro, mais ou menos, com crianças, idosos. Não teríamos suporte da embaixada para chegar neste local com segurança. Todos concordam aqui que fica inviável chegar até lá e, por isso, tomamos a decisão de nos manter aqui, seguros, com vida, pelo risco que correríamos se chegássemos até lá", declarou o ex-jogador do Corinthians.
Grupo do Dnipro deixa a Ucrânia
Os brasileiros Bill, Busanello e Felipe Pires, jogadores do SC Dnipro-1, da Ucrânia conseguiram atravessar nas primeiras horas da manhã de hoje a fronteira com a Romênia e já estão a caminho do Brasil.
Os jogadores estavam em Dnipro, quarta maior cidade do país, e, para chegar à Romênia, tiveram que atravessar metade da Ucrânia em um percurso de cerca de 1.000 km até a fronteira vizinha.
"Pessoal, conseguimos sair pela fronteira Ucrânia x Romênia! Graças a Deus deu tudo certo. Estou no aeroporto a caminho do Brasil, mas a nossa luta não terminou, tem outras pessoas presas na Ucrânia sem saber o que fazer e sem saber para onde ir! Orem, ajudem, façam o que for possível para tentar resgatá-los daquele caos que está", contou o jogador por meio de sua conta oficial no Instagram.
Lucas Rangel, jogador do Vorskla Poltava, está viajando a pé para a fronteira com a Polônia, a oeste. O jogador começou o trajeto de carro, mas afirmou que, com a proximidade, o congestionamento deixava os veículos parados por horas nas estradas.
Guilherme Smith, Cristian e Juninho, jogadores do Zorya, estão caminhando para sair de Lviv, onde chegaram de trem hoje. Eles aguardaram transporte para tentar sair da cidade, mas não conseguiram e também resolveram ir andando até a fronteira com a Polônia.
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