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Abel Ferreira pede ações contra violência: 'vivemos uma crise de valores'

Do UOL, em São Paulo

27/02/2022 21h19

Abel Ferreira aproveitou a entrevista coletiva depois do empate do Palmeiras com a Inter de Limeira, por 0 a 0, para pedir ações contra os casos recentes de violência no futebol. O treinador citou o que considera uma "crise de valores" e disse ser necessário que as entidades se manifestem.

Na última semana, os ônibus de Bahia e Grêmio foram alvo de ataques enquanto se encaminhavam para seus respectivos jogos. O goleiro Danilo Fernandes, da equipe baiana, foi atingido na sexta-feira (25) por estilhaços de uma bomba, que abriu um buraco na lateral do veículo. Ele foi levado ao hospital e passa bem.

Já o caso gremista aconteceu ontem, antes da partida contra o Inter. O ônibus da equipe foi alvo de uma pedra e barras de ferro. O meia Mathias Villasanti foi um dos mais atingidos pelos estilhaços. Ele foi levado ao hospital, cumpriu o protocolo para concussões e já está em casa.

"Nesse momento que vivemos, em uma crise de valores sociais, onde vemos guerra na Ucrânia, a violência no futebol brasileiro... eu não posso ter o cargo e não fazer a função do meu cargo. Quem é responsável, tem que dar um passo em frente, dar a cara e assumir e dar exemplo para a sociedade", cobrou Abel.

"Tem que se fazer alguma coisa, não podemos ficar olhando para o lado. Quem for o responsável precisa dar um passo à frente. Não adianta ter os cargos e não fazer a liderança dos cargos que têm. É uma reflexão que todos temos que fazer porque urge na nossa sociedade a necessidade de paz. É um valor que está muito em falta. Precisamos de paz, tranquilidade... quando eu morrer, nem o motivo vou escolher. Vamos todos para o mesmo lugar", prosseguiu o treinador.

Depois do empate por 0 a 0, o Palmeiras agora se prepara para o jogo de volta da Recopa Sul-Americana. A equipe recebe o Athletico, no Allianz Parque, na quarta-feira (2). O primeiro jogo terminou em empate por 2 a 2.

Confira outras declarações de Abel Ferreira na entrevista coletiva:

Qual foi a intenção ao escalar Deyverson e Navarro para atuarem juntos?

Jogamos há três dias e não há outra maneira. O futebol brasileiro tem essa particularidade de ter muitos jogos seguidos. E mesmo assim tivemos lesões físicas do Scarpa e do Luan, fruto dessa intensidade. Não há outra maneira, uma equipe que quer jogar no limite sempre vai ter lesões. Jogando com essa intensidade de jogos é perfeitamente normal.

Como dissemos desde o primeiro dia que chegamos, temos que fazer gestão de energia para jogar com a máxima força. Dentro dos jogadores disponíveis que não jogaram no último jogo, procuramos olhar como sempre fazemos para as características dos jogadores.

Por causa disso, decidi ter o Deyverson como centroavante mais fixo e o Navarro poder jogar um pouco fora da posição dele, mas também dar minutos e experiências para ele, porque acreditamos nele. É um jovem, tem 21 anos. Eu tenho paciência, como tivemos com Zé Rafael, Luan e muitos outros que às vezes nós temos a tendência de criticar, mas temos que dar tempo. É um jogador de qualidade, de quem eu confio. Portanto, tenham paciência, o futebol não se faz em dois dias. Nós acreditamos nele, tem muito potencial. Temos uma proposta para vendermos se quisermos, que é um sinal que ele tem qualidade. Mas sabemos que a camisa de centroavante do Palmeiras pesa muito, mas vamos torná-la mais leve, ter paciência, vamos ajudá-lo como fazemos com todos os jogadores aqui dentro.

Foi essa nossa dinâmica e tivemos que calcular os jogadores porque não há outra forma de sermos competitivos e intensos a não ser rodando a equipe. Foi isso que eu aprendi no futebol brasileiro. Por mais que eu queria manter a mesma equipe, não há como porque vai acabar pagando lá na frente pela quantidade de jogos que temos.

O que pesou para o Palmeiras finalizar menos que o adversário?

Um pouco de tudo. Jogar às 16h, com 35 graus, é muito duro, jogar com um gramado com um palmo de altura é muito duro, o jogo acaba por ficar lento, requer dos jogadores um esforço extra, o jogo fica lento, a bola tem que ser jogada rápida, quando você mete o pé enterra a chuteira.

O que faltou hoje aos nossos jogadores foi ter um pouco mais de calma para tomar as melhores decisões. Não foi um jogo com muitas oportunidades, nosso adversário teve uma e nós tivemos duas. Foi um jogo difícil por três razões: temperatura muito alta, grama muito alta e um sistema com dois centroavantes e com jogadores que não tinham jogado no último jogo.

Liderança do Zé Rafael dentro do elenco?

O Zé Rafael é nosso Robocop, é aquele jogador que todo treinador gosta, sabe que vai entregar tudo que tem e nós tivemos paciência para usar e crescer. Estamos falando de um jogador com 25 ou 26 anos. E precisamos ter a mesma paciência com os jogadores nomes que chegaram: o Atuesta, o próprio Navarro.

É a mesma paciência que temos com o Zé, que foi capaz de suportar a pressão, as críticas, acreditando sempre naquilo que o treinador dizia. O que espero dos torcedores, sinceramente, é que apoie os nossos jogadores, esses são os nossos jogadores e esse é o nosso elenco. Não é meu, é nosso. Por norma, costumo sempre apoiar os meus jogadores.

Giovani pode aparecer mais vezes nos próximos jogos?

Ele já apareceu, foi campeão da Libertadores, já jogou Libertadores conosco. Portanto, tudo no tempo de Deus. É um jogador que nós acreditamos, tem muito potencial. Agora é conforme as oportunidades forem aparecendo, ele aproveitar. Quando estiver que jogar na nossa equipe, joga, quando tiver que jogar no sub-20 vai jogar. É um jogador que faz parte do nosso elenco, mas não de agora. Já foi campeão da Libertadores.

Meia de origem é uma posição que acha carente no elenco?

Dissemos há muito tempo o que precisávamos. Hoje a questão não teve a ver com isso. Estava muito calor, um gramado muito alto, um jogo lento. Mas eles bateram, tentaram... é verdade que criamos poucas oportunidades. Fica o positivo quando não se pode ganhar, não se perde.

Vamos levar um ponto, queríamos mais, mas a equipe não conseguiu produzir para sair daqui com outro resultado. Ficam os aspectos defensivos, concedemos muito pouco ao nosso adversário e fica por isso. Vamos continuar a trabalhar com nossos jogadores, melhorar o nosso processo. Estamos no início e acreditamos que esses jogadores têm muita margem até pela idade que tem. Quando olhamos para o nosso elenco, tirando o Lomba que é mais experiente, são jogadores com idade entre os 18 e 24 anos. É uma equipe com presente e com futuro.

Dentre os desfalques Gomez, Scarpa e Menino, apenas o Gomez deve atuar na quarta-feira?

Vamos ver. Normalmente não costumo contar com jogadores que venham de lesão. Temos 27 jogadores e acreditamos neles, como foi o caso no último jogo que não tínhamos disponíveis os dois zagueiros que costumam jogar mais vezes, que é o Luan e o Gomez. Olhamos para os jogadores que estavam na melhor forma, que foi o Kuscevic e o Murilo, sem problema nenhum. Se fosse possível jogar o Renan também jogaria, como já jogou no ano passado em jogos importantes.

Oitava final pelo Palmeiras. Qual delas lhe trouxe mais aprendizado como treinador?

Todas, porque são muitas finais seguidas. Se me perguntassem se esperava chegar em oito finais, não esperava. Nunca pensei nisso. Agora, que trabalho para isso, eu trabalho. Sei quanto custa chegar às finais, sei quanto custa ganhá-las, sei quanto custa perdê-las.
Eu tenho uma máxima na minha vida: tudo vem para nos ensinar. Sejam coisas positivas ou negativas, tudo vem para nos ensinar.

O que você acha de mais um treinador português trabalhando no Brasil?

Muito sinceramente, o Brasil tem... costumo dizer que é o campeonato da Europa. Na história do Brasil acho que são apenas sete treinadores português. Aqui temos mais de 200 milhões de pessoas, lá em Portugal são 10 milhões. Já foram mais de sete treinadores brasileiros para lá na história...

[Vítor Pereira] é mais um treinador, os treinadores portugueses são qualificados. Existe a globalização do futebol. Temos treinadores brasileiros com muita competência, temos o Tite que é muito bom e ele apresenta seu trabalho por números, por resultado.

O Vítor é uma pessoa que eu conheço, aprendi a admirar quando ele era treinador do Porto, depois ele seguiu sua carreira além das fronteiras. Ele vai para um rival, essa pergunta tem que ser feita ao presidente. Mas conheço, é um bom treinador, isso é fruto da globalização. Se formos a Portugal encontraremos estrangeiros, na Inglaterra há mais técnicos estrangeiros do que ingleses.

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