Escalada da violência no Gre-Nal teve provocações, briga e agora pedrada
Pela primeira vez na história um Gre-Nal foi adiado em razão de um ato de violência. Ontem (26), uma pedrada no ônibus do Grêmio feriu jogadores e impediu o encontro com o Inter no Beira-Rio. E não é necessário memória tão potente para entender a escalada da violência no duelo gaúcho.
Ainda que a rivalidade Gre-Nal sempre tenha sido forte, o ambiente tomou proporções cada vez maiores no passado recente. Basta retornar poucos anos para perceber as provocações iniciais viraram pancadaria entre atletas e acabou com pedrada de torcedor em ônibus.
Registros de problemas entre torcedores sempre acontecem em clássicos. Brigas em locais diferentes, estações de ônibus e trem, confrontos de organizadas. Mas a ação policial, aos poucos, contornou tais problemas que tiveram proporção menor a cada ano.
Foi quando a provocação parece ter revivido o que há de pior em algumas pessoas. E foram muitas. Em 2016, por exemplo, Eduardo Sasha dançou a "Valsa dos 15 anos" com uma bandeira de escanteio. Os movimentos eram alusivos ao período do Grêmio sem conquistas relevantes.
Aquilo marcou o elenco gremista, que revidou assim que possível. Sasha foi xingado pelos colegas de profissão nas conquistas que aconteceram em seguida no Tricolor, em 2016 e 2017. No retorno do título da Libertadores, o elenco gremista desfilou por Porto Alegre cantando "um minuto de silêncio, para o Inter que está morto".
Houve, evidentemente, outros momentos de provocação. Vídeos que tomaram as redes sociais, músicas e cornetas se tornaram comuns. Com o mundo digital para catapultar qualquer manifestação, as atitudes ecoaram por todos os cantos.
Até que D'Alessandro, em 2018, reuniu jogadores do Inter e foi até lideranças do Grêmio porque entendeu que o momento era de reflexão. Pediu que as provocações parassem antes que o pior acontecesse. Maicon, principal comandante do vestiário gremista na época, utilizou o episódio para provocar ainda mais. "Eu falei que não teria arrego, que iríamos zoar ainda mais", alfinetou o volante.
Ainda em 2018, o ônibus da delegação do Grêmio já havia sido apedrejado nas cercanias do Beira-Rio. Na ocasião, ninguém se feriu e o clássico foi realizado.
O clima bélico invadiu o campo. Em 2020, o primeiro clássico da história pela Libertadores terminou em pancadaria. Os jogadores carregaram todas as provocações recentes para o gramado. Oito foram expulsos. E o que se aprendeu na situação? Aparentemente nada.
No ano passado, depois de um clássico em que já tinha acontecido um princípio de briga, confusão, e provocação com o título do Grêmio no Gauchão, os times se encontraram na reta final do Brasileiro, o Inter venceu, Patrick pegou caixões de papelão nas cores do Grêmio com a torcida e foi comemorar o possível rebaixamento do rival. Os atletas do Tricolor não gostaram, e uma nova briga foi vista.
Os atos, que de novo pararam em redes sociais e geraram uma nova onda de provocações, foram encarados como "coisas do futebol". A torcida, que já não estava nas manchetes violentas ou provocativas, dando lugar aos jogadores, desta vez retomou o leme. Fez a sua "coisa do futebol".
A pedrada que feriu Villasanti — que teve traumatismo craniano e está no hospital — e outros jogadores do Grêmio impediu o jogo e foi o ápice de um problema tratado há anos sem o rigor que merece.
"O clima é de jogo, o que nós não podemos fazer aqui é a excepcionalidade ser vencedora. Excepcionalidade são os vândalos, são os assassinos. Isso é um crime, um homicídio qualificado. Atirar uma pedra e uma barra de ferro. Assumiram o risco de matar. Poderia ter acertado qualquer um de nós que estava lá dentro. Os vagabundos precisam ser banidos do futebol, isso não pode permanecer no futebol. Vi dizer que dois foram identificados. Precisam sair", disse o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior.
"O Inter tem uma narrativa dos fatos, de certa forma não concordamos com todas as suas narrativas, mas é um direito que ele tem de expressar aquilo que imagina do que acontece. Nós somos vítimas. O Grêmio é vítima. Vítima pesada. O Grêmio sofreu um atentado hoje aqui. Por ser vítima, o Grêmio vai tomar suas providências e atitudes e pode conciliar até o limite das coisas. O que não podemos é trocar de papéis. O Grêmio foi vítima e sofreu um atentado", completou.
"A única questão que eu faço aqui, e tenho obrigação de pontuar, é que o Inter também é vítima do episódio. A camisa que uma pessoa que faz isso utiliza num momento desses, hoje pode ser do Inter e amanhã do Grêmio. Todos nós lamentaremos da mesma forma. Estávamos preparados, mobilizados, era um jogo importante, e não jogamos porque entendemos que não tinha condição. Nós também somos vítimas. Essa é a única diferença. Nós todos somos solidários, todos somos contra a violência, vamos trabalhar e ajudar nessa construção, que seja boa para todo mundo", explicou Alessandro Barcellos, presidente do Inter.
"A primeira decisão do Inter foi cancelar o jogo. Nos manifestamos antes da Federação, numa manifestação olhando o lado humano. O Inter contribuiu de forma efetiva desde o primeiro segundo que isso aconteceu, para que pudéssemos usar o que é um aparato tecnológico e identificar as pessoas que realizaram esses atos de violência. E só dessa forma, trabalhando juntos, clube, torcedor, segurança, é que vamos conseguir passar por cima disso", completou.
Mas Inter e Grêmio parecem seguir de lados opostos da mesa. Ainda que o ambiente e as palavras reflitam e peçam união, Romildo Bolzan Júnior, presidente do Tricolor não sentou à mesa para conceder entrevista ao lado do presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Luciano Hocsman, e do presidente do Colorado, Alessandro Barcellos.
Entre discordâncias e opiniões semelhantes, Inter e Grêmio querem usar o ocorrido como lição para que o clima mude, o ambiente seja menos agressivo, no campo ou fora dele, e, de novo, o clássico Gre-Nal signifique uma grande festa do futebol.
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