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Ceni critica arbitragem e partida às 15h do São Paulo: 'o jogo não caminha'

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

28/02/2022 19h10

A realização da partida entre Água Santa e São Paulo, em Diadema (SP), às 15h (de Brasília) incomodou Rogério Ceni. O técnico reclamou do forte calor na região e o apontou como um dos problemas para o nível de futebol apresentado na vitória por 2 a 1 conquistada nos minutos finais com um gol de Jonathan Calleri.

"Não pode aceitar vir jogar às 15h com 30 e tantos graus. É difícil você querer que seu time renda os 90 minutos. A Federação e até o próprio clube poderia ter um pouco mais de força para que esse jogo fosse feito à noite. Eu sei que aqui não tem refletores, mas como a maioria da torcida era são-paulina, poderia ser em outro lugar à noite ou talvez 17h, em um horário melhor para a gente, porque nessa temperatura é desumano você cobrar que o jogador renda fisicamente os 90 minutos", disse Ceni, em entrevista coletiva depois da partida.

A Arena Inamar, casa do Água Santa, não conta com iluminação artificial. Por causa disso, as partidas em que o time atua como mandante costumam acontecer sob luz natural.

O treinador também se mostrou incomodado com a atuação do árbitro Luiz Flávio de Oliveira. Em uma das respostas, Ceni disse não ser uma reclamação apenas sobre decisões contrárias ao São Paulo. Ele apontou a expulsão de Fernandinho, do Água Santa, como um dos erros de Luiz Flávio.

"O árbitro picotou o jogo todo. Tenho dúvidas até da primeira expulsão deles, foi uma arbitragem que deixou o jogo mais lento do que provavelmente já seria por jogar nessa temperatura às 15h. Por natureza, já é um jogo mais amarrado. Você vê jogos às 11h que não caminham. Às 21h, o jogo caminha porque são 10 graus de diferença por temperatura, o jogo vai caminhar muito mais rapidamente", disse.

"Muito picotado o jogo, com faltas inexistentes para os dois lados. Não é nem reclamando a nosso favor não, mas é que o jogo tem que fluir, o árbitro tem que colaborar e ajudar para que o jogo tenha fluência", prosseguiu Ceni.

O São Paulo começou melhor a partida, mas encontrou dificuldades para furar o bloqueio armado pelo Água Santa. Depois que ficou com um jogador a menos, a equipe de Diadema chegou a se fechar em uma linha de seis defensores, que foi quebrada apenas quando a defesa tirou mal e Calleri fez o gol da vitória de bicicleta.

"Hoje, de fato, a gente não rendeu tanto, principalmente no segundo tempo, mesmo trocando os quatro homens de frente de uma vez e tentando dar mais energia. Nós não conseguimos tantas finalizações no segundo tempo. O Água Santa era uma equipe que jogou bem fechada, muito alta e boa na bola aérea. Hoje o resultado era importante para assumir a primeira colocação do grupo. Conseguimos esse objetivo, mas em matéria de qualidade, de ser um jogo vistoso, deixou um pouco a desejar", completou.

O resultado colocou o São Paulo na liderança do Grupo B do Paulistão, com 14 pontos, a mesma pontuação do São Bernardo, que perde nos critérios de desempate. O time do Morumbi tem quatro pontos de vantagem para a Ferroviária, atual terceira colocada da chave. Dois times avançarão para o mata-mata.

O São Paulo volta a campo no próximo sábado (5), quando receberá o Corinthians no Morumbi pela 10ª rodada.

Confira outras declarações de Rogério Ceni em entrevista coletiva após a vitória sobre o Água Santa:

Lesões musculares preocupam mesmo rodando o grupo? Quais atletas requerem mais cuidados?

Coincidentemente, os atletas que sentiram foram os atletas que mais jogaram nos últimos jogos. Tinham três jogadores que a gente se preocupava: Diego, Alisson e Sara. O Sara ficou de fora hoje, entrou apenas na segunda parte do jogo. O Diego teve uma sequência de jogos junto com o Alisson, que vem jogando a maioria dos jogos.

É o que eu tento explicar: se você colocar o mesmo time em sequência, você começa a ter grandes chances de lesão. Eles treinaram por 10 minutos ontem e, infelizmente, sentiram um desconforto e vão fazer uma avaliação melhor durante essa semana para ver qual é a gravidade, se vão precisar ficar algum tempo fora ou se já poderão atuar contra o Corinthians.

O que acha de ser o único treinador brasileiro nos quatro grandes de São Paulo?

Eu lamento. Acho que tem ótimos treinadores no Brasil, mas cada clube faz a contratação, o mercado é livre. Um dia também quem sabe iremos ocupar o mercado estrangeiro novamente.

Acho que é um movimento natural de mercado a vinda dos estrangeiros. Tenho amigos e ótimos treinadores que conheço que poderiam exercer essa função em outros grandes clubes. Infelizmente, esse momento vai ser necessário até que o fracasso exista também e volte-se a pensar nos treinadores do Brasil.

Porque vindo tantos treinadores assim, alguns vão fracassar, como é natural no futebol: equipes mais fortes se sobressaem e equipes que não têm um poder aquisitivo tão grande ou não vivem um momento tão bom tendem a fracassar. Quando você tem vários treinadores nessa função, vai ser deixado em aberto o fracasso de alguns e aí o mercado vai voltar.

Já teve a época dos treinadores jovens, a volta dos treinadores mais velhos, teve agora o mercado sendo aberto para os estrangeiros. E faz parte do mercado, a gente tem que encarar dessa maneira.

O que poderia falar sobre a estreia do Colorado e a do Moreira?

Sobre o Andrés, ele ainda via precisar de uma adaptação. Ele chegou e acho que fez quatro treinamentos comigo só. É um jogador com características que eu gosto, com bom passe, pode ajudar muito em bolas aéreas, tanto que no segundo gol é ele quem ganha a disputa de bola.

Ele é mais um lado a lado, um volante que joga lado a lado. Nós mudamos um pouco a maneira de jogar, com Nestor jogando mais por dentro, o que dificulta colocá-lo imediatamente no time, mas vamos tentar adaptar o mais rápido possível. É um jogador que vai agregar bastante, tem boa qualidade de passe, tem que jogar um pouco mais rápido. Na Colômbia é um futebol mais técnico, um pouco mais de liberdade. Aqui o futebol é mais rápido, mais pegado, então ele vai ter que se adaptar na velocidade de passe. Mas é um bom reforço para a gente.

Sobre o Moreira, eu vi o Moreira jogar no sub-20 logo que eu cheguei no São Paulo. Gostei muito do Moreira quando fui lá em Cotia, vi vários jogadores. Me impressionou muito o Moreira pela regularidade, um jogador equilibrado, 50/50, sabe apoiar bem, mas sabe defender bem, é ambidestro, inteligentíssimo, um menino que tem desejo de vencer, gosta de treinar, escutar, aprender. Teve sua oportunidade hoje, acho que fez um bom jogo. Para um garoto de 17 anos, acho que é elogiável a postura dele dentro de campo hoje.

A que atribui esse momento do São Paulo depois de um início em que frequentou a zona de rebaixamento?

Uma equipe que corre mais riscos do que aquela [da reta final de Hernán Crespo]. Aquela invencibilidade era cercada por muitos empates, senão me engano eram vários empates. Esse time é um time que acaba perdendo jogos porque é um time que arrisca jogar muito mais do que aquele. São características distintas, mas é importante.

Tivemos um grande jogo contra o Santos, um bom jogo contra o Campinense, em especial o primeiro tempo. E também tivemos oscilações, como no segundo tempo de hoje, que não foi bom, como no segundo tempo contra o Campinense, que caiu um pouco de intensidade depois de 16 finalizações no primeiro tempo.

Mas acho que é importante para dar confiança, assumir essa primeira posição. São mais quatro jogos e nós vamos precisar de pontos, tem dois clássicos seguidos, a Ferroviária está só a quatro pontos atrás, o São Bernardo tem a mesma pontuação, mas saldo de gols pior. Então era importante hoje que a vitória viesse, mesmo jogando às 15h, em um campo com um gramado até bom de se jogar, mas não pode aceitar vir jogar às 15h com 30 e tantos graus. É difícil você querer que seu time renda os 90 minutos.

A Federação e até o próprio clube poderia ter um pouco mais de força para que esse jogo fosse feito à noite. Eu sei que aqui não tem refletores, mas como a maioria da torcida era são-paulina, poderia ser em outro lugar à noite ou talvez 17h, em um horário melhor para a gente, porque nessa temperatura é desumano você cobrar que o jogador renda fisicamente os 90 minutos.

Por que mudou de ideia e utilizou o Luciano hoje?

Eu pensava em começar esse jogo com o Luciano, mas pelo o que eu vi no jogo contra o Campinense, eu resolvi novamente manter o Luciano no banco e dar minutos para ele. O que eu não posso é querer 90 minutos dele agora porque ele ficou muito tempo parado e é necessário que ele vá se adaptando, entrando 20, 30 minutos dessa maneira.

Eu fiz as quatro trocas porque achei que poderia dar uma intensidade maior ao jogo. O Água Santa também se fechou mais e não conseguimos dar um ritmo maior na partida, devido também à temperatura de hoje.

Mas o Luciano teve seus minutos, porque eu quero colocar o Luciano para jogar, mas eu preciso dele bem fisicamente. Enquanto não estiver, é difícil colocar mais minutos do que ele está tendo.

Existe a possibilidade de um rodízio menor nos dois clássicos?

Não sei, isso é uma coisa que a gente vai analisar na volta dos jogadores e treinamento durante a semana, ver o desgaste. Os jogadores que vêm atuando mais em sequência são os mais propícios a lesão, e tudo que nós não queremos é perder jogador por lesão muscular.

Não consigo responder.

O São Paulo caiu de rendimento no segundo tempo dos dois últimos jogos. A oscilação será algo falado com os atletas?

No Campeonato Brasileiro teve bastante time oscilando, vi vários times favoritos empatando jogos. Não vejo o São Paulo muito diferente dos demais clubes no Brasil, ou da grande maioria.

Acho que o São Paulo jogou muito bem os dois primeiros tempos, com o Campinense e aqui. O cansaço é um fator preponderante para a queda de rendimento e as equipes que se fecham bastante tiram sua velocidade de jogo.

Por natureza não somos um time veloz, somos um time de construção, não temos essa característica de velocidade. Nós temos que construir jogo e, às vezes, você... o espaço, o gramado que não é o do Morumbi ou uma Vila Belmiro, onde o jogo flui mais rápido, com mais velocidade, a gente sofre um pouco mais. Temos realmente que melhorar nosso segundo tempo de uma maneira geral. Em quase todos os jogos jogamos melhor a primeira parte.

São casos específicos, isolados, ou há algum motivo mais amplo para as lesões?

Na minha opinião, são casos específicos... Patrick estava há muito tempo parado, não estava pronto para começar a jogar, teve uma lesão já no segundo jogo, vai precisar de um período maior de treinamento para não ocorrer novamente.

E não é coincidência que os jogadores com mais minutagem são mais suscetíveis à lesão. O fato de o Sara não iniciar hoje o jogo, o Alisson que já não ia iniciar o jogo hoje, mas infelizmente teve um incômodo que não sei a gravidade ainda, assim como o Diego. São jogadores que vêm jogando mais jogos seguidos, com muitas viagens. Temos que ter cuidado para que os jogadores entendam suas funções e não prejudiquem o time para o ano como um todo, não pensar só nesses primeiros meses, mas no ano como um todo.

Como enxerga os episódios recentes de violência contra jogadores?

Reflexo do que é a sociedade no nosso país, reflexo do que é a educação no nosso país. Se tivéssemos uma classe bem unida, parava tudo. Não tem mais sentido, perdeu o sentido. Mas como nós não temos tanta coesão e sindicatos tão fortes, infelizmente vamos tocando a vida.

Mas falam "quando acontecer uma desgraça"... já aconteceu. O menino do Grêmio teve que ir para o hospital. Isso é reflexo do que virou o país, do que o ser humano entende como vida. Infelizmente, não damos sinal de melhora como seres humanos.

Qual postura os principais clubes do país podem ter para tentar coibir atitudes assim e evitar situações ainda piores?

Eu repito: quando acontecer uma coisa assim, para o futebol. Se parasse o futebol... e olha que tem países que tenho certeza que parariam o futebol em casos como esse. Mas como aqui não para, tudo segue, com clubes endividados, toca-se da maneira que for possível, então, infelizmente... se fosse sério mesmo, acho que deveria ter parado o futebol mesmo. Foram acontecimentos suficientes para parar tudo.

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