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Apagão no início e variações: o que vimos na estreia de Vítor Pereira

Vítor Pereira, do Corinthians - Alan Morici/AGIF
Vítor Pereira, do Corinthians Imagem: Alan Morici/AGIF

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/03/2022 04h00

Iniciar o trabalho como treinador do Corinthians com derrota em clássico certamente não era o melhor dos cenários imaginados pelo português Vítor Pereira. A derrota por 1 a 0 diante do São Paulo, porém, não foi acompanhada por um desempenho ruim, e, à parte de alguns erros defensivos e da falta de eficiência para marcar, o time apresentou pontos positivos e novidades no Majestoso.

O UOL Esporte listou o que viu de melhor e pior da equipe na primeira partida sob a gestão do técnico alvinegro, bem como as situações em que o estilo do recém-chegado comandante se imprimiu na atuação do time.

Se a falha determinante para o revés — a distração no primeiro minuto, que ocasionou o gol de Calleri, ao 50 segundos de bola rolando — foi explícita, comecemos, portanto, pelos acertos.

Como Pereira demonstrava desejar ao longo da semana, o Corinthians se apresentou com ímpeto ofensivo e com posse de bola — e de forma propositiva — na frente, sobretudo no primeiro tempo.

Precisando empatar, o time foi para cima do São Paulo e criou oportunidades claras para balançar as redes, como a bola de Paulinho na trave e o chute de Piton, defendido pelo goleiro Tiago Volpi. A equipe seguiu ocupando o campo adversário, com boas triangulações, e voltou a assustar na etapa final, em momentos consecutivos: primeiro com Willian, obrigando Volpi a espalmar após desvio na zaga, e depois em cabeceio de Jô, sozinho, defendido pelo goleiro.

Embora tenha faltado pontaria na hora de finalizar as jogadas, a postura ofensiva dos corintianos, atacando os espaços na defesa adversária e pressionando em busca do empate, foi o grande destaque do elenco alvinegro no Morumbi.

Entretanto, a queda de rendimento do primeiro para o segundo tempo foi visível, como destacou o jornalista Ricardo Perrone.

"Vendo o primeiro tempo, vejo futuro, vi muita coisa de positiva, uma posse de bola produtiva, muita troca de passes, aproximação, muita gente aparecendo como opção, mas no segundo tempo vi um passado cheio de problemas, vi o time cansar, sentir falta de um primeiro volante, o time ainda é lento."

Para além dos espaços oferecidos em contra-ataques e da ineficácia nos chutes a gol, falha sobre a qual Vítor Pereira disse após o jogo que irá trabalhar, a queda no desempenho no segundo tempo jogou luz sobre um time mais cansado, que sentiu não somente pela necessidade de buscar o empate ao longo de 90 minutos, mas o campo pesado devido ao temporal nos minutos iniciais da partida.

Na entrevista coletiva, o treinador português comentou a respeito da chuva e o cansaço. "A chuva afetou o terreno de jogo, afetou na circulação [da bola], [os jogadores com] as pernas mais pesadas, e o São Paulo mais confortável no jogo para situações de transição", disse o português que, diante da experiência e idade de boa parte de seus titulares, como os meio-campistas e laterais, apontou para o tipo de jogo que espera da equipe:

"Fundamentalmente, com as características de jogadores que temos, alguns com certa idade, teríamos que jogar não um jogo de transições, não para correr. Não pode ser o nosso jogo. O nosso tem que ser circular, de paciência. Vamos encontrar o equilíbrio entre circulação de qualidade com paciência, e melhorar a nossa dinâmica ofensiva, que tem que ser mais provocatória, aparecer mais no espaço. Hoje circulamos, mas sem profundidade. Hoje nos faltou isso, temos que melhorar."

Individualmente, cabe pontuar, os destaques negativos ficaram para Róger Guedes, disperso e com seguidos erros em lances simples, e Lucas Piton, que, além da marcação falha no gol são-paulino, apoiou mal no ataque.

Vítor Pereira tenta imprimir seu estilo

À parte do que foi bem e mal feito, outro ponto a se destacar foi que o Corinthians apresentou, em determinados momentos, características que se esperavam do técnico Vítor Pereira.

O ímpeto ofensivo e a posse de bola no ataque, vistos principalmente nos 30 minutos iniciais, são um desses exemplos.

As variações táticas e de funções dos jogadores, também. Se havia dito que começaria com a mesma escalação dos jogos anteriores devido ao pouco tempo de trabalho, promessa que cumpriu no clássico, o técnico apresentou uma disposição distinta das posições de alguns atletas. Giuliano jogou aberto pela direita, e Willian, com mais liberdade para transitar, seguiu pela esquerda.

Na etapa final, três alterações simultâneas mudaram o sistema do Alvinegro, que passou a ter uma linha de três na defesa — João Victor, Gil e o lateral Bruno Melo —, e Gustavo Silva e Willian abertos. Mais à frente, Róger Guedes ganhou a companhia de Jô. E como primeiro volante, Du Queiroz deu lugar a Cantillo, com maior qualidade na distribuição da bola e lançamentos.

Apesar da linha de três atletas atrás, Pereira destacou que a mudança tática na etapa final visava mais o ataque que a defesa. "Essa alteração tática foi no sentido de ter dois extremos bem abertos: Gustavo e Willian. Porque passaram a uma linha de 5 e precisávamos disso para vencê-los. Juntamos Roger próximo ao Jô para ter mais chances de finalização e provocar a linha adversário. A passagem para três não foi para jogar com três zagueiros, até porque porque o Bruno não é zagueiro, mas atacar mais", explicou o técnico na coletiva de imprensa.

O português reconheceu que algumas de suas alterações, como a entrada de Cantillo, não surtiram o efeito desejado, e, pelo pouco tempo de trabalho, assumiu a responsabilidade pelas mudanças e pela derrota. Com a sequência para as próximas semanas, o técnico deixou claro o que esperava do time para o Majestoso e o que espera que ela alcance nos jogos que virão.

"A intenção é, como ponto de partida, ter largura total do jogo. Se quero encontrar espaços, tenho que provocar o adversário e abrir completamente. Os extremos têm liberdade para vir para dentro. O ponto de partida é campo grande, abrir bem o campo para encontrar os espaços e circular a bola. Temos que melhorar, melhorar a nossa reação à perda, controlar o adversário quando ele chegar à linha de fundo. Temos que trabalhar", afirmou.

O próximo compromisso do Corinthians será diante da Ponte Preta, pela 11ª rodada do Paulistão, no próximo sábado (5), às 18h30 (horário de Brasília), na Neo Química Arena.

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