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CBF: Del Nero articula para manter peso de federações; Ednaldo nega contato

Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF - Marcelo Sayão-22.out.2015/EFE
Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF Imagem: Marcelo Sayão-22.out.2015/EFE

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

07/03/2022 09h02

Mesmo banido pela Fifa por 20 anos e sem, formalmente, poder participar das atividades relacionadas ao futebol, Marco Polo Del Nero ainda tem atuado nos bastidores da CBF, especialmente no que diz respeito ao imbróglio do momento: o processo que envolve a reforma do estatuto e, por consequência, o comando da entidade no momento.

Troca de mensagem a qual o UOL teve acesso mostra um Del Nero que diz ao interlocutor ter conversado com os demais presidentes de federação e até com o presidente interino da CBF, Ednaldo Rodrigues, sobre o assunto.

Neste conteúdo, Del Nero tem defendido que o peso dos votos das federações seja mantido na assembleia geral, que está marcada para hoje (7) à tarde. A lógica da manutenção do peso três para os votos das federações passa pela ambição de salvaguardar a força eleitoral dos dirigentes estaduais, em detrimento dos clubes. Marco Polo se mostrou satisfeito com a rápida convocação da reunião, na semana passada, logo após a confirmação de mais uma punição a Rogério Caboclo, de quem virou inimigo.

Consultado pelo UOL, Ednaldo, por outro lado, disse não saber como é a relação de Del Nero com as federações, mas classificou como "fake" (falsa) a informação de que tem mantido contato com o ex-cartola. Marco Polo não respondeu ao contato da reportagem.

"Comigo, (não fala) já há algum tempo. A última vez tem muito tempo. Não tenho tratado de nada em relação a ele", disse o presidente interino, negando que sofra influência de qualquer figurão do futebol:

"Da minha parte, não existe. Virei presidente interino por uma vontade expressa de todos os vices. Depois, na assembleia do dia 24, por todas as federações. Tenho debatido com federações e clubes, que é que fazem o futebol acontecer".

Ednaldo Rodrigues, atual presidente da CBF - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Força eleitoral em jogo

Com o peso três, as 27 federações representam, juntas, 81 votos no colégio eleitoral. Pelo desenho do estatuto feito em 2017, sem aval dos clubes, os 40 integrantes das Séries A e B, somados, significam 60 votos — o peso para quem está na primeira divisão é dois, enquanto os da segunda têm peso um. Os clubes da Série A foram chamados para a assembleia geral de hoje, após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Mas há uma discussão em vigor porque o cumprimento dessa determinação deveria ser feito pelas mãos do diretor mais velho da CBF, Dino Gentille, responsável pelo setor de patrimônio.

Só que Ednaldo Rodrigues continuou na cadeira, após o juiz de primeiro grau do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) não nomear o diretor mais velho, como havia sido definido pelo ministro Humberto Martins, do STJ.

O presidente em exercício da CBF seguiu no cargo após a vacância gerada pela punição a Rogério Caboclo. Os dois vice-presidentes mais velhos do que ele, o Coronel Nunes e Antonio Aquino Lopes, tinham direito de assumir antes de Ednaldo, mas passaram o cargo adiante. Conforme o estatuto da Confederação, eles estavam à frente do baiano na fila de sucessão nesse caso.

Com Ednaldo na cadeira, a CBF assinou um Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público do Rio, autor da ação que bateu no STJ. Um dos itens é cumprir os termos da decisão do dia 24 de fevereiro e realizar a assembleia para tratar da definição de pesos diversos entre as Federações e clubes, das exigências para candidaturas e da inclusão dos times de segunda divisão (com o respectivo peso de voto).

Os clubes têm diante de si uma chance ímpar de mudarem sua representatividade. Para a alteração de estatuto acontecer, é preciso aval de dois terços dos participantes da assembleia. Ou seja, se o cenário for de união dos 20 clubes contra as 27 federações, o peso unitário — como era antes de 2017 — voltará a ser a realidade. A assembleia de hoje acontece em um formato de "volta no tempo". É como se o jogo fosse resetado, sem a validade da reunião de março de 2017. Assim, o ponto de partida é todas as filiadas com voto unitário. Para mudar isso, é necessário haver um placar de dois terços (32 votos, neste caso) favoráveis à mudança.

Art. 37 - A Assembleia Geral Extraordinária, além dos casos previstos neste Estatuto, reunir-se-á para deliberar sobre assuntos de interesse da CBF, especialmente: I - aprovar e reformar, integral ou parcialmente, o presente Estatuto e o Código de Ética da CBF, por iniciativa própria ou por proposta do Presidente da CBF, não podendo deliberar, em primeira convocação, sem a presença da maioria absoluta das Federações filiadas, ou, nas convocações seguintes, com menos de 1/3 (um terço) das filiadas, exigindo-se para aprovação o voto favorável de 2/3 (dois terços) das filiadas presentes;

Como a inclusão dos clubes da Série B no colégio eleitoral é obrigatória, por força de lei (artigo 22 da Lei Pelé), um possível resultado após a assembleia de hoje é a mudança no equilíbrio de poder nas eleições da CBF, com os clubes passando a ter 40 votos, contra os 27 das federações.

Ontem (6), Ednaldo teve uma reunião com as federações e delegou uma comissão formada por quatro dirigentes estaduais — Reinaldo Carneiro Bastos (SP), Hélio Cury (PR), André Pitta (GO) e Mauro Carmélio — para fazer um contato prévio aos clubes das respectivas regiões. A ideia é debater previamente os pontos de vista de cada um para que a discussão na assembleia não seja tão longa.

STJ ainda deve se pronunciar

Ao longo da semana, Dino Gentille fez movimentos no STJ para ser nomeado, assumir a CBF e conduzir o processo a respeito do estatuto e, posteriormente, as novas eleições feitas sob ele.

É possível que o ministro Humberto Martins emita uma nova decisão sobre o cenário todo. Um dos pedidos de Dino, inclusive, foi de anular todos os atos de Ednaldo feitos na presidência da CBF a partir do dia 24 — e isso incluiria a convocação da assembleia geral e o TAC.

Pela troca de mensagem a qual o UOL teve acesso, Del Nero ficou incomodado que Dino entrou na disputa. O diretor de patrimônio já foi aliado de Marco Polo. Mas, pelo papo, fez o movimento sem consultar o ex-chefe.