Acostumado a subverter a lógica na carreira, Jailson cresce no Palmeiras
Jailson, 26, vem sendo a mais grata surpresa dentre os reforços do Palmeiras na atual temporada. Com dias de clube, foi não apenas inscrito no Mundial, desbancando nomes como Gabriel Menino e Patrick de Paula, bem como entrou tanto na semifinal, contra o Al Ahly (EGI), como na final contra o Chelsea (ING).
O jogador vem conquistando cada vez mais espaço com Abel Ferreira, com direito até a balançar a rede na Recopa Sul-Americana, mesmo vindo de mais de um ano sem entrar em campo.
Subverter expectativas por nunca desistir é uma constante na carreira do gaúcho de Caçapava do Sul, interior do Rio Grande do Sul. Aos 17, quando a maioria já o imaginava no máximo como um grande jogador de futebol amador, por exemplo, Jailson passou em uma peneira no pequeno Guarany de Bagé e começou sua caminhada rumo ao profissionalismo.
"[Ser um jogador profissional] era uma realidade um pouco distante lá na minha cidade, mas eu sempre acreditei. Trago comigo desde pequeno essa confiança que tudo pode se tornar realidade com bastante trabalho", disse ele, ao UOL Esporte.
"[Foi] isso que eu sempre fiz e, graças a Deus e à ajuda de muitas pessoas que carrego comigo até hoje, as coisas foram acontecendo muito rápido", completa.
Já em sua primeira passagem por um clube, Jailson teve uma correção de rota. Inicialmente um meia, ele foi recuado para volante por Ben-Hur Marchiori, 67, técnico dele nas categorias de base do pequeno clube gaúcho.
"Eu o chamei para conversar e perguntei: qual o melhor jogador de um time, normalmente? E ele respondeu que era o camisa 10. Depois, perguntei, no meio-campo, quem costumava ser o segundo mais habilidoso. E ele respondeu que era o 8", conta Ben-Hur. "Foi então que eu disse a ele: para quê você vai entrar nessa concorrência? Aceita jogar como volante?", conta o técnico. E Jailson aceitou.
Foi já como cabeça de área que Ben-Hur o levou para o Grêmio, clube do qual é conselheiro, em 2013, para fazer um teste. E Jailson foi aprovado. "Mesmo sem ter feito formação na base, eu vi ali que ele tinha um grande potencial técnico e especialmente físico", contou à reportagem Cesar Marchiori, 31, preparador físico do sub-17 do Grêmio na época.
A coincidência com o sobrenome do descobridor Ben-Hur não é acaso. Cesar e Ben-Hur, que atualmente está na diretoria do Real Tramandaí, do litoral do Rio Grande do Sul, são pai e filho.
Mudança para Santa Catarina e titular no Mundial
Mas em Porto Alegre, ele, de início, não encontrou espaço para atuar. E acabou emprestado à Chapecoense em 2015. Em Santa Catarina, ganhou espaço a ponto de ser apontado para compor o time profissional. E diante disso, o Grêmio o pediu de volta para a temporada 2016.
"Quando me dei conta já estava jogando no time principal do Grêmio, conquistando títulos importantes", conta o volante, que por pouco não fez parte do elenco que morreu tragicamente no fim daquele ano, no fatídico acidente de avião a caminho de Medellín, na Colômbia.
No Grêmio, ele caiu nas graças de Roger Machado e, posteriormente, de Renato Gaúcho. Foi titular na final da Libertadores de 2017, contra o Lanús (ARG) e na do Mundial de Clubes, contra o Real Madrid (ESP).
O destaque no Grêmio o levou para o futebol turco. E Jailson, muito grato à família que o colocou no mundo do futebol, decidiu contratar Cesar Marchiori para ser seu preparador físico particular em Istambul, onde ele assinou contrato com o Fenerbahce.
"A preparação física no futebol turco não é tão levada a sério como no Brasil, então a gente fazia um trabalho muito importante com o Jailson. Ele nunca, em toda a carreira, perdeu um jogo por conta de alguma lesão", conta Cesar.
Da Turquia para a China e um ano sem jogar
Causou muita desconfiança nos palmeirenses a informação de que Jailson estava há mais de um ano sem jogar quando chegou ao clube. Quase a mesma estranheza sentida quando o volante entrou em campo voando.
"A gente fez mais de um ano de pré-temporada, no fim das contas", explica César. "Quando ele saiu do Fenerbahce e foi para o Dalian Pro (CHI), a pandemia ainda estava forte (agosto de 2020). Ele cumpriu 14 dias de quarentena, treinando com elásticos, exercícios de isometria, porque nem uma esteira, havia no hotel", conta Cesar.
Jailson jogou sete partidas na China, ajudou seu clube a se manter na Série A em 2020 e retornou ao Brasil para as festas de fim de ano. A volta para o Oriente, marcada para 25 de janeiro de 2021 nunca aconteceu, pois no dia 15 daquele mês, a China fechou totalmente as fronteiras para estrangeiros.
"O Jailson ficou aflito, não conseguia jogar. Chegou a receber uma proposta do Valencia (ESP), e não conseguia liberação. E nós decidimos treinar forte, porque tínhamos certeza que, cedo ou tarde, ele conseguiria a liberação do clube chinês e algum time o contrataria. Calhou que foi simplesmente o melhor time das Américas", diz Cesar.
"E foi por conta dessa preparação constante que o Jailson demorou pouco tempo para se adaptar e chegou praticamente pronto ao Palmeiras", explica César. Na próxima semana, aliás, César vem a São Paulo para se reunir com Daniel Gonçalves, chefe do Núcleo de Saúde e Performance do Palmeiras. A ideia é ver como garantir, com exercícios extra, que Jailson continue a ser opção constante para Abel Ferreira.
"Durante a pandemia, depois que os meses foram passando e eu não conseguia voltar para a China, comecei a ficar preocupado de como seria o retorno aos gramados. Acreditava que precisaria de um tempo maior de preparação, mesmo tendo treinado durante todo esse tempo com o Cesar", conta Jailson.
"A preocupação maior era a questão de ritmo de jogo. Mas fui muito bem acolhido aqui, um grupo vencedor. Acredito que ainda tenho margem para crescer, mas já estou muito feliz com esses primeiros meses aqui", finaliza o volante. Que, mais uma vez, vai superando as expectativas —inclusive as próprias.
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