Gre-Nal nos bastidores mostra rivalidade extrema e clubes distantes
Grêmio e Internacional abrem a disputa por uma vaga na final do Campeonato Gaúcho no sábado (19), mas o clima de Gre-Nal paira nos bastidores desde o final de fevereiro. O adiamento do clássico de 26 de fevereiro, por conta de ataque ao ônibus gremista e consequente traumatismo craniano em Villasanti, expôs uma rivalidade em alta dosagem fora dos microfones e longe das câmeras e distância entre as diretorias.
O Colorado recebe o Tricolor no estádio Beira-Rio no jogo de ida da semifinal do Gauchão. Na quarta-feira (23), o time de Roger Machado abre a Arena do Grêmio para o duelo de volta.
A relação institucional entre Inter e Grêmio esfriou nos últimos meses. O discurso público segue sendo de respeito entre as partes, mas pequenos atritos fora das quatro linhas, entre as diretorias, evidenciam que o clima não é mais o mesmo.
O afastamento pode se justificar pelas provocações, cada vez mais institucionais. Se antes as frases em tom de provocação eram "coisa de torcida", nos últimos anos foram abraçadas pelos dois clubes. Em um círculo vicioso de respostas.
Nas redes sociais, Grêmio e Inter já fizeram postagens provocativas. Vídeos com bastidores de vestiário revelaram passagens no mesmo sentido. Pequenos elementos que construíram o cenário atual. De mera formalidade no contato e pausa na relação de apoio e até solidariedade.
Entrevistas separadas
O caso mais visível do distanciamento aconteceu ainda no fatídico sábado, 26 de fevereiro. Romildo Bolzan Jr., presidente do Grêmio, e Alessandro Barcelos, mandatário do Inter, concederam entrevistas separadas para falar do ataque ao ônibus e consequências para a partida válida pela fase de classificação do Campeonato Gaúcho.
O Grêmio, ainda no estádio, passou a apontar responsabilidade do Inter no caso. O lado vermelho reclamou de desequilíbrio técnico pelo adiamento da partida, ainda que a diretoria tenha concordado não haver clima para a bola rolar horas depois da cena de Villasanti saindo de ambulância do estádio.
O Inter também gostou da remarcação do clássico para 9 de março. O Grêmio chegou a entrar com mandado de garantia pedindo que o adversário fosse denunciado em artigo do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) que prevê perda de pontos e mando de campo. O mesmo documento ainda solicitava jogo em outro estádio e com portões fechados. O TJD-RS (Tribunal de Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul) indeferiu ambos os pedidos da diretoria gremista.
Conta do Gre-Nal
Outro episódio que atesta uma relação mais fria. O Grêmio afirma, nos bastidores, que foi cobrado pelo Inter antes do Gre-Nal do dia 9. A cobrança foi em relação ao valor dos danos no setor visitante do estádio Beira-Rio. O valor era de cerca de R$ 35 mil e chegou a ser atrelado a liberação de ingressos para camarotes, usados por dirigentes.
Os dois clubes possuem acordo, há anos, sobre ressarcimento aos danos causados nos estádios adversários. E também seguem, há décadas, acerto sobre ingresso para dirigentes na casa do adversário. A passagem causou desconforto, ainda que o valor tenha sido pago antes da quarta-feira, 9 de março.
Sem pedido conjunto
Grêmio e Internacional fizeram pedidos pela paz nos estádios, dias depois do ataque ao ônibus gremista. Mas não houve ação conjunta. Nos bastidores, o Inter chegou a manifestar interesse em organizar uma manifestação com os dois lados da rivalidade. Sem resposta por parte do Grêmio, segundo o relato.
A FGF (Federação Gaúcha de Futebol) esboçou uma tentativa de intermediação, com reforço da detentora dos direitos de transmissão do campeonato. Nada. O Inter chegou a publicar vídeo com imagem de torcedores com a camisa do Grêmio, ao lado de colorados, pedindo paz. O Grêmio postou pedido de paz sem nenhuma alusão ao Inter.
Horário do jogo
Superado o Gre-Nal da fase de classificação, Grêmio e Inter terminaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente. Clássicos precoces, então, no Campeonato Gaúcho. E de pronto, começou uma polêmica sobre o horário do segundo jogo, na Arena do Grêmio. A partida de volta está marcada para quarta-feira e, por contrato, deveria ser transmitida em TV aberta.
Em reflexo da ausência dos estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro, a Globo decidiu investir no BBB à noite, e os jogos do Gauchão em meio de semana passaram a ocorrer à tarde. Mas o novo padrão encontrou um Gre-Nal no meio do caminho.
Mais uma vez nos bastidores, o Grêmio se mostrou incomodado com o fato de jogar em casa, com melhor campanha que o Inter, em horário atípico e que afeta o público no estádio. O Inter se mostrou disposto a cumprir qualquer definição, mas nos corredores citou o contrato com a TV como um balizador. Por fim, foi organizada grade para o Gre-Nal ocorrer após às 22h, com transmissão em TV aberta. O horário ainda não foi confirmado oficialmente, por depender de aval da Globo.
E agora?
Hoje (17), os dois clubes serão julgados no TJD-RS. O Inter responderá pela pedrada no ônibus gremista, mas sem artigo que prevê perda de pontos ou mando de campo, enquanto o Grêmio foi enquadrado em item da lei que versa sobre discriminação, em decorrência de vídeo que flagrou torcedor fazendo gestos de macaco no Beira-Rio. O Tricolor ainda responderá, no futuro, por um cântico com termo racista antes de a bola rolar no dia 9.
O vencedor do Gre-Nal, em jogo de ida e volta, encara o ganhador do cruzamento entre Ypiranga-RS e Brasil de Pelotas na final do Gauchão.
Os dois jogos, sábado e quarta-feira, ainda serão a despedida do Gre-Nal no ano de 2022. O resultado de campo pode até ajudar, mas ao que tudo indica os adversários seguirão em clima de rivalidade nos bastidores.
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