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Por que as crias da Academia perderam tanto prestígio no Palmeiras?

Danilo, Gabriel Menino e Patrick de Paula, do Palmeiras, comemoram gol - Cesar Greco
Danilo, Gabriel Menino e Patrick de Paula, do Palmeiras, comemoram gol Imagem: Cesar Greco

Diego Iwata Lima

Do UOL, em São Paulo

17/03/2022 04h00

A muito provável negociação do volante Patrick de Paula, 22, com o Botafogo, sumariza uma situação cada vez mais evidente: aos poucos, a badalada base palmeirense foi perdendo espaço com o técnico Abel Ferreira. Mas por quê?

No time considerado titular absoluto no Palmeiras, apenas o volante Danilo é "cria da Academia", como convencionou-se chamar os atletas formados pelo clube. Os atacantes Wesley e Gabriel Veron têm recebido chances, mas não se pode dizer que estão entre os principais atletas do time.

É curioso pensar que Renan, Gabriel Menino e o próprio Patrick tinham muito mais prestígio com o técnico quando mais jovens e, em tese, menos maduros.

Nas temporadas 2020 e 2021, os garotos estiveram entre os que mais entraram em campo. Menino, Patrick e Danilo, por exemplo, foram titulares na semifinal da Libertadores de 2020, contra o River Plate, em Avellaneda, naquele que talvez seja o jogo mais emblemático da gestão Abel, excetuando-se as finais. Mas, no Mundial de Clubes, em fevereiro, um ano e um mês depois, Menino, Renan e Patrick nem foram inscritos.

Tratar a questão como uma aversão do treinador a trabalhar com os garotos é uma conclusão leviana, porém. Porque segundo relatos de pessoas ligadas ao clube entrevistadas pelo UOL Esporte, longe de serem filosóficas, as perdas de espaço dos garotos se devem a questões conjunturais, pessoais e específicas. Que por coincidência, ou não, aconteceram ao mesmo tempo.

A tese da transição para o segundo ano

A quem o indaga sobre o aproveitamento dos jogadores das categorias de base, Abel Ferreira normalmente responde com um vídeo de Pep Guardiola. Nele, ao ser perguntado sobre como enxergava aproveitar o atacante Phil Foden no seu segundo ano de profissional, o catalão responde um categórico "não sei".

Guardiola diz que o segundo ano de um garoto vindo da base pode não ter nenhuma semelhança com o primeiro. Diz ele que, quando sobe, o jogador está aberto a ouvir mais, a aceitar e obedecer sem tanto questionar. Mas que, no segundo, pode se portar de modo totalmente diferente.

É de se imaginar que Abel partilhe da tese, já que a usa como argumento. E se uma análise for feita, fica claro que a profecia de Pep se realizou no Palmeiras. Todos os jogadores da base, mais uma vez, exceto por Danilo, jogaram menos na temporada 2021 do que na de 2020.

O UOL apurou com pessoas ligadas ao elenco e ao Departamento de Futebol que Gabriel Menino e Patrick não tiveram, na visão da comissão técnica e da diretoria, o mesmo comportamento do ano anterior. Patrick, mais especificamente, gerou bastante incômodo com questões pessoais levadas para o dia a dia de trabalho, bem como com o flagra em evento clandestino durante a pandemia.

O que causa espanto é que, mesmo assim, Patrick teve participação muito decisiva no segundo ano de Abel no Palmeiras. Foi fundamental nas quartas de final da Libertadores, com dois gols nos dois jogos contra o São Paulo, e na final contra o Flamengo, no Monumental de Montevidéu.

Contratações e o fator tempo pesaram contra os garotos

As contratações feitas para esta temporada também pesaram neste momento mais complicado para os garotos. Renan, único zagueiro canhoto do elenco, viu o destro Murilo ocupar um espaço que era seu no grupo. E Jailson e Atuesta chegaram para tornar mais difíceis as vidas de Menino e Patrick.

Para completar, tanto Patrick quanto Renan chegaram ao período de preparação para o Mundial longe de suas formas ideais. Enquanto Murilo e Jailson, mesmo após longos períodos sem jogar, se apresentaram muito bem fisicamente.

Por fim, pesou também o fator financeiro. Abel e o Palmeiras sabem que, mesmo muito promissores, os jovens jogadores vão perdendo atratividade e valor de mercado à medida que jogam menos e envelhecem. Como havia no clube a avaliação de que eles não conseguiriam facilmente lugares na equipe tão logo, vender acabou sendo visto como a atitude mais recomendada para um clube que precisa de caixa —como todos, diga-se.

De qualquer forma, fica um temor para o palmeirense. No ano em que o clube finalmente ganhou a Copa São Paulo, ver tantos e promissores garotos serem colocados de lado dá um frio na espinha daqueles que imaginam Gabriel Silva, Vanderlan, Garcia, Giovani, Pedro Bicalho e principalmente Endrick vestindo verde no time profissional.

O Palmeiras voltará à era de vender talentos para bancar veteranos? A conclusão é clichê, mas é a única resposta possível, ainda mais tendo o que ocorre no presente como espelho: só o tempo trará a resposta.