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Último encontro com Vítor Pereira marcou fim da carreira de jogador de Abel

Os técnicos Vitor Pereira, do Corinthians, e Abel Ferreira, do Palmeiras - Fotos: Marcello Zambrana/AGIF/Montagem UOL
Os técnicos Vitor Pereira, do Corinthians, e Abel Ferreira, do Palmeiras Imagem: Fotos: Marcello Zambrana/AGIF/Montagem UOL

Bruno Andrade

Do UOL, em Lisboa (Portugal)

17/03/2022 04h00

Já eram líderes e tinham voz de comando, mas ainda faltava a tradicional "braçadeira de treinador", item obrigatório nos bancos de reservas do futebol português. Foi assim que Abel Ferreira e Vítor Pereira se encontraram em campo pela última vez. Os principais personagens de Palmeiras e Corinthians, que se enfrentam nesta quinta-feira, no Allianz Parque, pelo Paulistão, foram adversários no Estádio do Dragão na reta final da edição de 2010/11 da Liga.

Com o número (favorito) 78 nas costas e um vigor físico para dar e vender, Abel era o lateral-direito titular do Sporting. Tinha 32 anos e vislumbrava mais algumas temporadas pela frente. Mais velho e trazendo no currículo como jogador passagens por clubes de menor expressão em Portugal, como Estarreja e Avanca, Vítor, aos 42 anos e dono de uma volumosa cabeleira bem penteada para trás, trabalhava no papel de auxiliar de André Villas-Boas no Porto.

No dia 16 de abril de 2011, os dragões estavam a um passo do título nacional. Lideravam com folga a competição. Mesmo assim, dentro de casa, foram para cima dos leões e venceram a partida por 3 a 2, com dois gols do colombiano Falcao García e outro do brasileiro Walter, ex-Internacional, Fluminense, Goiás e Athletico Paranaense.

Mal sabiam eles que o clássico disputado há pouco mais de dez anos seria um "divisor de águas", especialmente para Abel Ferreira. Na semana seguinte, durante um treino, o lateral sofreu uma grave lesão no joelho direito. Rompeu os ligamentos, precisou ser operado e, depois de vários meses de tratamento e também de muita reflexão com a família, optou por encerrar a carreira.

Abel Ferreira, jogador - Barrington Coombs - PA Images via Getty Images - Barrington Coombs - PA Images via Getty Images
Abel Ferreira, em ação pelo Sporting em 2010
Imagem: Barrington Coombs - PA Images via Getty Images

Já formado em Educação Física e com diversos estudos extras para se tornar treinador, Abel, então, teve naquele jogo contra o Porto de Vítor Pereira a sua melancólica despedida como atleta. Não esperava ter dado ali o adeus aos gramados, mas, por outro lado, estava preparado para o próximo passo dentro do futebol.

"O Abel anotava em bilhetes tudo aquilo que acontecia e ouvia de orientações nos treinos. Guardava todos os papéis em casa", revelou o amigo e ex-zagueiro brasileiro Anderson Polga, com quem o agora comandante do Palmeiras compartilhou o vestiário de 2005 a 2011, ao UOL Esporte.

Também nos tempos de jogador, Abel Ferreira costumava reunir os companheiros mais experientes de elenco do Sporting, sobretudo durante as concentrações, para fazer discussões sobre táticas. Uma resenha de alto nível.

Assim como Abel, Vítor Pereira, antes mesmo de parar oficialmente de jogar, sabia o que queria para o futuro: orientar equipes,. Grandes equipes, no caso. Natural do norte de Portugal, o recém-chegado treinador do Corinthians tinha, entre outras metas, liderar o Porto.

Antes de ser o braço direito de Villas-Boas num time azul e branco que fez história, tendo, por exemplo, vencido a Liga Europa de 2010/11, Vítor foi treinador das categorias de base do clube. Ganhou experiência e depois foi dirigir o Santa Clara. Voltou à casa para também deixar uma marca significativa como treinador principal, numa trajetória que começou poucas semanas depois do confronto com Abel Ferreira.

Vítor Pereira e André Villas-Boas - Joern Pollex/Bongarts/Getty Images - Joern Pollex/Bongarts/Getty Images
Vítor Pereira (dir.), nos tempos de assistente de André Villas-Boas pelo Porto, em maio de 2011
Imagem: Joern Pollex/Bongarts/Getty Images

"O Vítor era um velho conhecido no nosso clube, então todos já conheciam muito bem o trabalho e a personalidade dele. A efetivação como treinador depois da saída do André para o Chelsea ao término da temporada não foi uma surpresa. Foi, talvez, uma aposta. Ele tinha muitas qualidades para assumir o cargo", destacou o ex-goleiro brasileiro e ídolo portista Helton, ao UOL Esporte.

"É um profissional que defende com unhas e dentes as suas ideias", completou.

Como treinador dos dragões, Vítor foi bicampeão da Liga (2011/12 e 2012/13) e também bicampeão da Supertaça (2011 e 2012), algo que Abel esteve muito longe de atingir em Portugal, visto que não ergueu nem sequer um troféu nas três temporadas em que treinou o Braga (2016/17, 2017/18 e 2018/19).

No Brasil, no entanto, o contexto é totalmente diferente. Uma década depois do último duelo entre eles, Abel Ferreira é hoje visto como um dos maiores nomes de todos os tempos do Palmeiras, onde conquistou duas vezes a Copa Libertadores. Está consolidado. Vítor Pereira, por sua vez, vai fazer apenas o seu terceiro jogo à frente do Corinthians. Há um longo caminho para percorrer.

Os dois portugueses não são amigos, mas conversaram algumas vezes nos últimos meses. Não são inimigos. Há respeito mútuo, especialmente agora que levam juntos a bandeira de Portugal para o outro lado do Oceano Atlântico. São, como gostam dizer para pessoas próximas nos bastidores, apenas adversários.