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Libertadores - 2022

Perfeito em Copa, Gamarra carrega frustrações na Libertadores por rivais

Gamarra durante o ano de 1998, quando defendia o Corinthians como capitão - Divulgação
Gamarra durante o ano de 1998, quando defendia o Corinthians como capitão Imagem: Divulgação

Yago Rudá

Do UOL, em São Paulo

22/03/2022 04h00

O ano de 1970 foi mágico para o futebol brasileiro. Treinada por Mário Jorge Lobo Zagallo, a seleção canarinho deu show na Copa do Mundo do México, com um ataque formado por Pelé, Rivellino, Tostão e Jairzinho. Depois da vitória convincente diante da Itália por 4 a 1, a conquista do tri foi eternizada quando o capitão Carlos Alberto Torres ergueu a Taça Jules no estádio Azteca. As imagens correram o planeta e também ecoaram em terras paraguaias. Poucos meses depois, em homenagem ao capitão daquele time, nascia Carlos Alberto Gamarra Pavón, em Ypacaraí — cerca de 30 km da capital Assunção.

O xará do lateral direito da seleção brasileira não chegou a conquistar uma Copa, mas ficou eternizado como um dos maiores atletas de seu país e até hoje tem seu nome cultuado no futebol brasileiro.

O zagueiro Gamarra virou ídolo do Corinthians, foi o capitão da conquista do Brasileirão de 1998 e disputou o Mundial do mesmo ano, na França, com a proeza de ter sido eliminado para os anfitriões, na prorrogação das oitavas de final, sem ter cometido nem uma falta sequer em quatro partidas como titular.

Com 1,79 m de altura, Gamarra passava longe de ser um gigante para a posição e, por muitas vezes, foi considerado baixo para a composição da linha defensiva. Apesar disso, quem o acompanhou nos anos defendendo o Corinthians, garante que o paraguaio era um profissional tão dedicado que compensava o problema com os treinamentos específicos de bola aérea e posicionamento dentro da área.

Gamarra Corinthians - Paulo Whitaker REUTERS - Paulo Whitaker REUTERS
Gamarra conquistou dois títulos pelo Corinthians, ambos como capitão: o Brasileiro de 1998 e o Paulista de 1999
Imagem: Paulo Whitaker REUTERS

Com a bola rolando, o paraguaio era seguro e marcou sua carreira por ser forte na marcação, mas era leal, nada violento. Foi o desempenho regular que o fez jogar em dois dos maiores clubes do futebol de seu país — Cerro Porteño e Olímpia —, quatro gigantes brasileiros (Internacional, Corinthians, Flamengo e Palmeiras) — e ainda rodar a Europa vestindo as camisas de Benfica, Atlético de Madri, Inter de Milão e AEK Atenas.

Decepção no Dérbi de Libertadores e a saída do Corinthians

Campeão brasileiro de 1998 e com um elenco recheado de craques, como Rincón, Vampeta, Ricardinho, Marcelinho Carioca, Edílson e o próprio Gamarra, o Corinthians chegou como um dos favoritos para a disputa da Copa Libertadores do ano seguinte. Depois de uma primeira fase com direito a goleada por 8 a 2 diante do Cerro Porteño, o Timão encontrou o rival Palmeiras nas quartas de final do torneio continental — conquista então inédita para alvinegros e alviverdes.

Gamarra era um dos destaques daquele time e uma das lideranças dentro e fora de campo, mas não foi capaz de livrar o Timão de uma de suas mais doídas derrotas em Dérbi. No jogo de ida do confronto mata-mata, vitória do Palmeiras por 2 a 0. Na volta, o Corinthians devolveu o resultado, mas viu Vampeta e Dinei perderem as cobranças de pênaltis que custaram a eliminação.

Pouco mais de um mês depois, o Corinthians reencontrou o Palmeiras na final do Paulistão, venceu o primeiro jogo por 3 a 0 e, na volta, viu Edílson fazer as embaixadinhas no estádio do Morumbi — eternizadas na história do clássico. O empate em 2 a 2, a vingança em cima do adversário e o título estadual marcaram a última vez que o paraguaio defendeu o Timão em sua carreira. Foram 80 jogos, sete gols anotados, dois títulos e a impressão de ter sido um dos maiores zagueiros da história do clube.

Anos depois, outra frustração em clássico de Libertadores

O bom desempenho na Copa do Mundo de 1998 e a constância pelo Corinthians de 1998/1999 levaram Gamarra ao espanhol Atlético de Madrid. No Velho Continente, ainda jogou pela Inter de Milão e AEK Atenas, antes de assinar com o Palmeiras para a temporada 2006. A passagem pelo Alviverde passou longe de ser coberta por louros, como ocorreu pelo rival da zona leste, e ficou marcada por dois momentos. O primeiro foi o encontro com Carlos Tévez, estrela argentina trazida ao Corinthians pela MSI. Em um Dérbi no Morumbi, o atacante arrancou pela esquerda, driblou dois adversários e encerrou a jogada com um drible de corpo que deixou Gamarra no chão e o goleiro Marcos vencido.

Gamarra Paraguai - Ben Radford/Allsport - Ben Radford/Allsport
Gamarra disputou a Copa de 1998 e ajudou o Paraguai a chegar às oitavas de final
Imagem: Ben Radford/Allsport

Mais tarde, o zagueiro voltou a reviver a frustração na Copa Libertadores, desta vez com a camisa verde. Nas oitavas de final daquela temporada, o Verdão pegou o São Paulo e não foi páreo para o clube do Morumbi. Gamarra foi titular nos dois jogos, assim como o fez no Dérbi de 1999, e no fim viu o rival levar a melhor e avançar na competição internacional. Apesar dos 35 anos, o paraguaio voltou a defender a seleção de seu país em mais uma Copa do Mundo naquele mesmo ano e, após a eliminação diante da anfitriã Alemanha, acabou por ser dispensado pelo Alviverde.

"Cavalheiro' nos campos

Elegância, raça e lealdade. Embora não tenha feito sucesso em campos europeus, como o fez na América do Sul, Gamarra aposentou as chuteiras com o status de melhor zagueiro paraguaio de todos os tempos e é tido como um craque no futebol brasileiro. Disputou três Copas do Mundo, foi eleito para a seleção do Mundial de 1998, ganhou quatro bolas de prata pelo seu desempenho nas edições do Brasileirão de 1995, 1996, 1998 e 2005 e está eternizado como ídolo do Corinthians.

Até hoje, o defensor é chamado de 'cavalheiro' pela sua postura em campo, habilidade com a bola nos pés, raça e, sobretudo, lealdade nas divididas com os adversários. Embora não tenha tido as glórias de Carlos Alberto Torres, certamente honrou a memória do capitão brasileiro e fez ecoar seu nome no futebol.

Vida no Paraguai e amor pelo MMA

Gamarra foi convidado pelo UOL Esporte a relembrar os momentos marcantes de sua carreira, porém não respondeu às mensagens deixadas pela reportagem. Atualmente, o ex-boleiro trabalha como empresário e vive a vida com sua família no Paraguai, onde participa das transmissões de uma rádio local e mantém a rotina de atleta nos treinos de MMA.

No ano passado, aos 50 anos, chegou a anunciar a carreira de lutador e a 'paixão para entrar na jaula', porém a pandemia da covid-19 adiou os planos do ex-corintiano, que mantém a rotina no esporte e, vez ou outra, posta algumas imagens de suas sessões de treinamento.