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Seleção tem lembrança ruim para apagar em último jogo no país antes da Copa

Neymar e Casemiro durante o treino de ontem (23) da seleção na Granja Comary: grupo animado para o jogo no Maracanã - Pedro Martins/CBF
Neymar e Casemiro durante o treino de ontem (23) da seleção na Granja Comary: grupo animado para o jogo no Maracanã Imagem: Pedro Martins/CBF

Gabriel Carneiro e Igor Siqueira

Do UOL, em São Paulo e Rio de Janeiro

24/03/2022 04h00

A seleção brasileira faz hoje (24), às 20h30 (de Brasília), sua última partida no país antes da Copa do Mundo do Qatar. É contra o Chile, vale pela 17ª rodada das Eliminatórias e terá como palco o Maracanã. Foram colocados à venda 70 mil ingressos e a tendência é que esteja bem próximo da lotação. A parcial divulgada ontem dava conta de 52 mil bilhetes vendidos.

Depois da partida desta quinta-feira estão previstos mais seis desafios da seleção antes da Copa, mas serão todos fora do país: Bolívia, em La Paz, pelas Eliminatórias, já na semana que vem, e cinco amistosos contra adversários indefinidos em países ainda não divulgados pela CBF. São três em junho e dois em setembro, Seleções da Ásia, da África e a Argentina estão nos planos. Europeias, quase impossível.

A seleção tem um histórico muito bom em seus jogos de despedida do país antes de Mundiais, 14 vitórias em 19 jogos. Só uma das memórias é desagradável: em abril de 1998, o último jogo no Brasil antes da Copa disputada na França foi uma derrota por 1 a 0 para a Argentina. O curioso é o que palco foi o mesmo Maracanã do embate desta quarta-feira.

Vaias na despedida - Brasil joga mal, dá vexame e perde para a Argentina por 1 a 0 no Maracanã."
Capa do jornal "O Globo" no dia seguinte

Argentina bate Brasil e a torcida grita olé."
Capa do jornal "Folha de São Paulo" no dia seguinte

Folha - Acervo Folha - Acervo Folha
Registro da Folha de São Paulo no pós Brasil 0 x 1 Argentina de abril de 1998
Imagem: Acervo Folha

Foi só a ponta do iceberg de uma noite infeliz para a seleção brasileira, que partiu para o Mundial dois meses depois sob forte desconfiança.

Muitos elementos cercam esse jogo. Para começar, havia muita expectativa no ar. A TV Globo exibiu uma grande profusão de imagens de pessoas pintadas de verde e amarelo pelo país, além daquelas tradicionais entradas ao vivo animadas em pontos turísticos pelo Brasil. Também foi a reestreia de Pelé como comentarista da emissora, na transmissão com Galvão Bueno, Paulo Roberto Falcão e Arnaldo Cezar Coelho. Em campo, a Argentina entrou vaiadíssima por quase cem mil torcedores nas arquibancadas.

Ronaldo - Ormuzd Alves/Folha Imagem - Ormuzd Alves/Folha Imagem
Ronaldo vibra na Copa do Mundo de 1998; ele esteve em campo contra a Argentina
Imagem: Ormuzd Alves/Folha Imagem

A expectativa foi frustrada com uma exibição fraca da seleção comandada por Zagallo. O jogo foi visto como um teste decisivo para Raí como titular do meio-campo. O resultado foi o coro "Raí, pede pra sair". Cafu também não era um titular consolidado. Na transmissão da TV, Pelé fazia lobby pela escalação de Zé Carlos e Galvão dizia que ele não sabia cruzar. A torcida concordou com um xingamento que rima com o nome do lateral-direito. Zagallo estava longe de ser unanimidade e um torcedor na TV resumiu: "Zagallo, você vai ter que me engolir".

O volante Zé Elias também recebeu uma chance como titular na vaga do suspenso Dunga, mas não agradou. Terminou que nem convocado foi. Por fim, aquele dia marcou o último jogo de Romário e Ronaldo pela seleção brasileira contra seleções na história — depois disso teve um amistoso contra o Barcelona e só. Nem eles resolveram o problema.

No Maracanã, a torcida gritou "olé" para a Argentina, fez coro de "timinho, timinho" e deixou mais do que escancarada sua insatisfação. O zagueiro Júnior Baiano reclamou com veemência: "Isso aqui não é Flamengo, não é Vasco. É Brasil. Nota zero para a torcida, que tinha que apoiar o nosso time e não ficar vaiando. Isso desestimula."

A campanha na França pouco depois até que não foi ruim: avançou em primeiro lugar no Grupo A, eliminou Chile, Dinamarca e Holanda no mata-mata e acabou vice-campeã com a derrota por 3 a 0 para a França. Zagallo foi demitido dias depois e seu substituto foi Vanderlei Luxemburgo. O confuso ciclo até o Japão e a Coreia do Sul ainda teve Emerson Leão no comando antes de Luiz Felipe Scolari, o treinador do pentacampeonato mundial de 2002.

Maracanã - Maracanã/Divulgação - Maracanã/Divulgação
Maracanã visto de cima em março de 2022: estádio foi palco de 7 dos 20 jogos pré-Copa do Brasil
Imagem: Maracanã/Divulgação

Os últimos jogos da seleção no Brasil antes das Copas:

  • Brasil 3 x 0 Chile, 10/10/2017, Allianz Parque (São Paulo)
  • Brasil 1 x 0 Sérvia, 6/6/2014, Morumbi (São Paulo)
  • Brasil 0 x 0 Venezuela, 14/10/2009, Morenão (Campo Grande)
  • Brasil 3 x 0 Venezuela, 12/10/2005, Mangueirão (Belém)
  • Brasil 1 x 0 Iuguslávia, 27/3/2002, Castelão (Fortaleza)
  • Brasil 0 x 1 Argentina, 29/4/1998, Maracanã (Rio de Janeiro)
  • Brasil 3 x 0 Islândia, 4/5/1994, Ressacada (Florianópolis)
  • Brasil 3 x 3 Alemanha Oriental, 19/5/1990, Maracanã (Rio de Janeiro)
  • Brasil 1 x 1 Chile, 7/5/1986, Pinheirão (Curitiba)
  • Brasil 7 x 0 Irlanda, 27/5/1982, Parque do Sabiá (Uberlândia)
  • Brasil 2 x 0 Tchecoslováquia, 17/5/1978, Maracanã (Rio de Janeiro)
  • Brasil 2 x 0 Paraguai, 12/5/1974, Maracanã (Rio de Janeiro)
  • Brasil 1 x 0 Áustria, 29/4/1970, Maracanã (Rio de Janeiro)
  • Brasil 2 x 2 Tchecoslováquia, 15/6/1966, Maracanã (Rio de Janeiro)
  • Brasil 3 x 1 País de Gales, 16/5/1962, Pacaembu (São Paulo)
  • Brasil 3 x 1 Bulgária, 18/5/1958, Pacaembu (São Paulo)
  • Brasil 4 x 1 Paraguai, 21/3/1954, Maracanã (Rio de Janeiro)
  • Brasil 1 x 0 Uruguai, 17/5/1950, São Januário (Rio de Janeiro)
  • Brasil 2 x 0 Uruguai, 6/9/1931, Laranjeiras (Rio de Janeiro)

E agora?

A relação do torcedor com a seleção brasileira está melhor em 2022 do que em 1998. O time não disputou as Eliminatórias naquela época porque era atual campeão mundial, mas teve resultados ruins e desempenho abaixo do esperado em uma parte ciclo, mesmo com jogadores considerados tops. Desta vez a campanha nas Eliminatórias antes do Qatar é de 12 vitórias e três empates em 15 jogos, com 32 gols marcados e somente cinco sofridos - o melhor ataque e a melhor defesa do torneio. Tite espera contar com o apoio do torcedor no Maracanã.

Veja imagens do treino desta quarta-feira (23) da seleção brasileira

"Desempenho sob pressão, e pressão positiva sobre expectativa positiva. Nós todos sabemos dessa realidade, o fator real é esse. Queremos, sim, ter um grande desempenho. É uma equipe jovem que pegará uma equipe experiente, rodada, base bicampeã da Copa América. Ela [a equipe] sabe dos graus de dificuldade, que tem que marcar muito bem, tem que ser agressiva, ousada, se puder jogar bonito que faça, que tenha condição de gols. Mas neste ponto de equilíbrio estará sua boa atuação. E temos que saber jogar em cima dessa pressão. Tomara que a gente tenha competência de sair com uma boa apresentação, um bom resultado e uma boa sintonia. Essa é a pressão que temos conosco também."

FICHA TÉCNICA
BRASIL x CHILE

Competição: Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, 17ª rodada
Local: estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Data/hora: 24 de março de 2022, quinta-feira, às 20h30 (de Brasília)
Árbitro: Dario Herrera (Argentina)
Assistentes: Gabriel Chade e Facundo Rodriguez (ambos da Argentina)
VAR: Mauro Vigliano (Argentina)

BRASIL: Alisson; Danilo, Marquinhos, Thiago Silva e Guilherme Arana; Casemiro e Fred; Antony, Paquetá, Neymar e Vini Jr. Técnico: Tite.

CHILE: Claudio Bravo; Isla, Paulo Díaz, Gary Medel, Enzo Roco e Gabriel Suazo; Claudio Baeza, Aránguiz e Vidal, Alexis Sánchez e Eduardo Vargas. Técnico: Martin Lasarte.