Saul Klein: acusado de estupro deixa Ferroviária após gestão caótica
"Se escrever um livro, os caras vão achar que é folclore. Ninguém tem ideia do que seja aquilo ali. Vi coisas que nunca vi na minha vida, nem em clube de várzea alguém chegou próximo de fazer as coisas que o Saul fez"
A frase dita ao UOL Esporte por uma fonte ligada à Ferroviária em condição de anonimato ajuda a explicar os bastidores do clube comandado a ferro e fogo por Saul Klein, filho do fundador das Casas Bahia Samuel Klein e sócio majoritário — de 2019 pelo menos até o dia de hoje (25) — do clube de Araraquara.
Acusado por 14 mulheres de estupro e aliciamento no fim de 2020, em série de matérias publicada pelo UOL, Klein divulgou uma nota oficial informando seu afastamento do comando da Ferrinha em dezembro do mesmo ano. A reportagem apurou que, na prática, isso não aconteceu.
O UOL ouviu que Klein nunca mais apareceu em Araraquara e que a maioria dos funcionários não mais teve contato com ele. Mas fontes ligadas à cúpula do time dizem que em nenhum momento os responsáveis pela gestão deixaram de responder ao empresário.
As graves acusações, que incluem estupro, aliciamento de mulheres e tráfico de pessoas tornaram o clima no clube difícil. Antes, Klein era um cartola excêntrico. Depois das denúncias, virou também um problema para patrocinadores — foram eles que exigiram o afastamento após as acusações e motivaram a publicação da nota oficial sobre a decisão.
A principal patrocinadora do clube é uma empresa que tem uma mulher na presidência: Liliana Aufiero, da Lupo, representou uma revolução interna ao ser a primeira figura feminina no comando da empresa. Ela exerce o cargo há mais de três décadas. A própria Ferroviária tem como bandeira o futebol feminino. A equipe feminina da Ferrinha é vista na cidade como patrimônio local e houve sensação de afastamento dela da própria cidade após as acusações contra Klein.
Interferência constante
Saul Klein era o tipo de cartola que opinava em tudo no clube. A interferência no trabalho dos treinadores era constante, contam fontes ouvidas pela reportagem. Um ex-funcionário do clube afirma que, mesmo sem aparecer fisicamente, Klein fazia suas próprias vontades serem cumpridas. "Mesmo antes das acusações, ele não era muito presente no dia a dia, mas 'enchia o saco'. Queria escalar o time, fazia contratação sem avisar. Do nada chegava jogador, técnico..."
Uma dessas atitudes teria ocorrido quando um treinador foi contratado por Saul sem aviso ao restante da cúpula. Quando o técnico, conhecido no interior de São Paulo, chegou ao vestiário, encontrou outro profissional trabalhando e precisou explicar que o cartola o havia contratado para o cargo.
A interferência do dirigente não se restringia ao pré-jogo ou pós-jogo. Saul Klein costumava telefonar durante os jogos da Ferroviária para os responsáveis pelo time, dando orientações e pedindo substituições. Outra fonte ouvida pelo UOL afirma que "às vezes dava para atender, mas em outras não tinha condição. Os pedidos não tinham pé nem cabeça". A mesma pessoa revelou à reportagem que até mesmo árbitros eram alvo de "conversas sugestivas" com o mandatário.
Fim de 'era Saul Klein'
As acusações foram tornando o clima na Ferroviária insustentável. Hoje, a venda das ações de Saul Klein é vista internamente como solução. Diretores avaliam que o investidor vem protelando sua saída há muito tempo e atrasando os avanços do clube. Recentemente, a Ferrinha, reconhecida por ser uma força nas categorias de base, perdeu o homem forte da captação de talentos, Marcelo Teixeira, e outros funcionários do departamento. Todos são bem vistos no mercado nacional e foram disputados por times como Red Bull Bragantino, Santos e Athletico-PR.
A reportagem apurou que a cervejaria espanhola Estrella Galicia já acertou a compra das ações que pertencem a Saul. O anúncio do fim da 'era Saul Klein' estava marcado para a última segunda-feira (21), mas foi adiado devido à classificação da Ferroviária para o troféu do interior.
Procurada pelo UOL, a assessoria de imprensa de Saul Klein se manifestou da seguinte forma:
"A assessoria de imprensa de Saul Klein em nota refuta as afirmações realizadas e esclarece que:
Independentemente de sua participação no comitê consultivo de apoio na gestão da Ferrovia SA, é fundamental esclarecer que se trata de sociedade, com estrutura empresarial, possuindo diretoria e gerência independentes, cujos integrantes possuem autonomia e responsabilidade a partir da Lei e de seu estatuto para a tomada de decisões."
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