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Ancheta marcou Pelé e tirou Grêmio da fila antes de brilhar no The Voice +

Reprodução/Instagram Atilio Ancheta
Imagem: Reprodução/Instagram Atilio Ancheta

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

27/03/2022 04h00

A voz apresentou Atilio Ancheta a milhões de brasileiros em 2022, pela participação no 'The Voice +', mas quase cinco décadas atrás o timbre do uruguaio chegou a Porto Alegre como um acessório do então zagueiro da seleção charrua. Em poucas semanas, quem conheceu Ancheta ouviu, literalmente, que o ex-jogador do Grêmio era mais do que um marcador de atacantes com direito a duelos contra Pelé, na Copa do Mundo de 1970.

Aos 73 anos, Ancheta carrega desde pequeno o hobby que embala a atual fase da vida. Cantar era algo tão fácil na rotina que estava presente até no dia a dia no clube.

"Nas viagens de ônibus, na volta [do pessoal do time], em concentrações, eu sempre cantei algumas músicas", contou Ancheta em recente entrevista à Rádio Gaúcha.

A cantoria do zagueiro embalou, inicialmente, tempos difíceis para o Grêmio, que viu o rival Internacional conquistar títulos estaduais e faturar o tricampeonato brasileiro. Ancheta, em particular, tinha de lidar com as comparações com Elias Figueroa, zagueiro chileno do Inter.

Ancheta foi contratado pelo Grêmio em 1971 depois de ser apontado como um dos melhores jogadores da Copa do Mundo do México, disputada no ano anterior. No jogo Brasil e Uruguai, Ancheta correu para atrapalhar Pelé na lendária jogada com o goleiro Mazurkiewicz. O gol brasileiro não saiu e a recuperação do então jovem do Nacional-URU foi elogiada à época.

"Naquele lance a gente aqui em Porto Alegre conheceu o nome. Meses depois, ele chegou ao Grêmio. E no Grêmio, foi brilhante", lembra Lauro Quadros, histórico jornalista gaúcho e comentarista contemporâneo de Ancheta como jogador.

O Grêmio desembolsou cerca de US$ 100 mil à época, além de repassar Chamaco ao Nacional, de Montevidéu. Somente em 1977 o time gremista encerrou o jejum de títulos e Atilio Ancheta estava lá. Assim como no Gauchão de 1979 e 1980.

Em 1981, Atilio Ancheta se aposentou como jogador do Nacional e depois voltou ao Brasil, onde fixou residência desde então. E o hábito de cantar, claro, continuou. Com evoluções.

A diferença dos estádios para os estúdios é apenas uma letra, como frisou um texto da revista Placar de julho de 1988. Foi quando Ancheta virou notícia pela gravação de um disco com dez boleros. O vinil teve até texto de apresentação.

"O Ancheta me convidou para escrever a apresentação do disco e me senti extremamente honrado. A gente tinha uma relação muito boa", lembrou Lauro Quadros. "Mas esses dias vi ele cantando e fiquei impressionado. Ele cantava bem antigamente, mas agora está melhor ainda. Eu ouvi e chamei minha mulher para ver. O Anchete está melhor agora", brincou.

Entre a aposentadoria como jogador e a participação no reality show musical, Ancheta teve uma sorveteria, foi auxiliar técnico do Avaí, treinador no Rio Grande do Sul e mais tarde observador técnico do Grêmio.

Atilio Ancheta é um dos 46 homenageados pelo Grêmio na Calçada da Fama, memorial para ídolos do clube que atualmente está cravado na esplanada da Arena do Grêmio. Em eventos organizados pelo clube, o ex-zagueiro chegou a dar canja como cantos. Mas agora o zagueiro que já foi cantor nas horas vagas, busca o sucesso como o cantor que já foi zagueiro.

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