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Grêmio: Como clássicos e queda na Copa do Brasil forjaram jeito de atuar

Roger Machado, treinador do Grêmio, encontrou uma nova forma de atuar e o time cresceu - Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Roger Machado, treinador do Grêmio, encontrou uma nova forma de atuar e o time cresceu Imagem: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

27/03/2022 04h00

O Grêmio pode ainda não estar pronto para disputar a Série B, mas encontrou um caminho. A avenida que surgiu no horizonte desde a chegada de Roger Machado foi aberta com a eliminação na Copa do Brasil e influência dos clássicos contra o Inter, e parece ser o caminho mais firme para o sucesso na Arena.

Ontem (26), o Grêmio bateu o Ypiranga por 1 a 0, no jogo de ida da decisão do Gauchão. No próximo sábado (2), jogará por qualquer vitória ou empate para ser pentacampeão do Estadual. Depois do jogo, Lucas Silva, autor do gol, foi o primeiro a relacionar o crescimento ao esquema fortalecido contra o tradicional oponente. "Entendemos a forma de jogar", disse.

Mas o processo começou antes, com um rompimento, e foi duro de engolir. A queda na primeira fase da Copa do Brasil foi ruim por vários motivos, técnicos ou financeiros, mas serviu como pico do descontentamento, como ápice da necessidade de mudança.

Foi no jogo contra o Mirassol que Roger percebeu quanto era necessário mudar. Até ali, ele ainda buscava utilizar a base deixada por Vagner Mancini. Tinha jogadores que foram contratados antes de sua chegada entre os titulares, como Orejuela e Janderson. Via o meio-campo funcionar de forma diferente.

Os gols sofridos não só serviram para abreviar a participação no torneio de mata-mata, mas para mostrar que era necessário e imperativo que o ex-lateral entrasse em ação rapidamente para contornar o que acontecia em campo. E a partir dali, o modelo se fortaleceu.

O Grêmio ainda oscilou, empatou com o Novo Hamburgo e foi amplamente dominado pelo Inter. Foi quando uma nova queda dura mostrou que o caminho poderia ser uma equipe mais firme na defesa, estabilizar o rendimento com um sistema defensivo sólido e apostar no contra-ataque. E é o que se vê refletido em campo hoje.

Em seguida, a vitória sobre o Ypiranga fechando a fase de grupos e, principalmente, a semifinais com o Inter solidificaram o plano. O Grêmio achou uma forma de jogar com um jogador mais criativo pela ponta (Campaz), um trio central com capacidade de marcação e passes em progressão (Lucas Silva, Villasanti e Bitello) e um jogador de força pelo outro lado (Elias). Diego Souza fecha o setor.

"Temos um meio com retenção e qualidade pelo centro, um meia ponta, que é o Campaz, e o Elias que é um jogador de força. Temos muito a amadurecer em combinação de jogadores e características, cada um com a sua maneira, mas acho que encontramos um ponto de equilíbrio", explicou o treinador.

Neste novo momento, Bitello cresceu de rendimento como organizador. Villasanti, que até então era contratação criticada, foi fixado como primeiro marcador de meio, e Lucas Silva foi das críticas ao gol que coloca o time mais perto da taça.

"O Roger é um cara muito identificado com o Grêmio, sabe a forma que a torcida gosta de ver o nosso time, é o comandante do vestiário, no campo quando o jogo começa, e tem todos seus auxiliares com uma estrutura de organização. Eu admiro muito o trabalho deles. Ele trouxe a cara e a cultura do Grêmio. Ele conhece essa cultura como poucos, pois viveu desde sua infância até a maturidade profissional no clube [foi jogador desde a base no Grêmio]. Foi auxiliar, depois treinador, correu o Brasil e voltou com mais experiência, aliada à cultura do Grêmio. É o casamento ideal", elogiou o vice de futebol Denis Abrahão.

E a mudança de rendimento e resultado tem ainda outro reflexo positivo: a confiança voltou. Se antes os jogadores se sentiam ameaçados, carregavam sobre os ombros o peso de ter a segunda divisão no calendário e não conseguiam conquistar a torcida, hoje já aparentam se movimentar com passos firmes pelo campo.

"O jogador de futebol é 100% confiança: 50% confiança nele mesmo e 50% confiança no trabalho. Um sem o outro não funciona. Não há uma temática para saber como e quando as coisas vão andar. Vamos fazendo experiências, e no futebol brasileiro tem que fazer com as competições em andamento. Vamos vendo em treinos e jogos, pedindo uma coisa ou outra, é uma alquimia, se vai combinando em estrutura. O maior aprendizado que tive com os treinadores que trabalhei é achar rapidamente uma forma de jogar nesse nosso calendário horroroso, e depois ir buscando combinações de características. Você vira um escalador, que escolhe bem as peças para ir ao campo", explicou Roger.

O fim do caminho aberto por Roger é a volta para Série A. Mas, no próximo sábado, o Grêmio pode muito bem passar pelo primeiro oásis de sua trajetória recente. Basta empatar para ser campeão gaúcho e ganhar ainda mais força de olho no alvo prioritário.

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