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Santos tenta driblar 'guerra fria' entre futebol e gestão por reforços

O presidente Andrés Rueda apresenta Edu Dracena em seu retorno ao Santos - Reprodução/Santos TV
O presidente Andrés Rueda apresenta Edu Dracena em seu retorno ao Santos Imagem: Reprodução/Santos TV

Lucas Musetti Perazolli

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

27/03/2022 04h00

Depois de nova luta contra o rebaixamento no Campeonato Paulista, todos no Santos concordam sobre a necessidade de reforços para encarar o restante da temporada. O investimento suficiente, porém, causa divergências entre departamento de futebol e Comitê de Gestão.

O UOL Esporte apurou que o relacionamento entre o executivo de futebol Edu Dracena e Walter Schalka, atuante membro do Comitê de Gestão, não é dos melhores. O presidente Andres Rueda e outros profissionais e dirigentes do Peixe tentam contornar essa situação.

Na última segunda-feira (21), o departamento de futebol se reuniu com o Comitê de Gestão e com o técnico Fabián Bustos. Na conversa, Dracena mostrou as possíveis contratações aprovadas pelo treinador argentino e os analistas e pediu para o presidente Andres Rueda e os demais gestores negociarem as condições. Isso ocorreu depois de Schalka tentar reduzir os valores de reforços no mercado da bola.

Diante desse cenário, Edu Dracena passou a responsabilidade para o Comitê de Gestão depois de apresentar os nomes e as condições iniciais. Em contrapartida, ouviu dos dirigentes sobre a dificuldade financeira do clube. Rueda e Schalka alegam que, se fosse possível, o Santos investiria por esses e mais contratações. Mas reforçam a necessidade de cautela e preveem vida mais tranquila em 2023.

Esse papo entre futebol e gestão ocorreu na tarde de segunda-feira, horas antes da reunião do Conselho Deliberativo do Santos. Durante o encontro, o discreto Walter Schalka pediu a palavra e apareceu por videoconferência para dar alguns recados. Foi a primeira declaração forte desde a vitória de Andres Rueda, em dezembro de 2020.

"Não falo como representante do Conselho de Gestão, falo na minha pessoa. Inicio pedindo desculpas a todos os torcedores do Santos. Todos estamos entristecidos pelo desempenho desportivo desde o ano passado. Todos nós torcedores somos ambiciosos e queremos jogos melhores do nosso time, não o sofrimento que temos tido. A insatisfação de vocês é a minha. Assumo parte da responsabilidade. Queria deixar claro a vocês, além das desculpas, que queria o sentimento de união. O Santos tem problemas conjunturais sérios e poucos sabem. Pegamos dívida de mais de R$ 400 milhões, e ela segue elevada, mesmo pagando R$ 130 milhões na nossa gestão. Falam dos boletos pagos com ironia. Se não pagarmos, não continuamos de pé. Parabenizo o trabalho diário do presidente Andres Rueda. União é fundamental para revertermos essa situação", disse Schalka.

"Ouvi pedidos para contratarmos de qualquer jeito. Ouvi sobre Fernando Sobral [volante do Ceará], por exemplo. O presidente Andres Rueda ligou para o presidente do Ceará. Primeiro disse que não venderia de hipótese nenhuma. Empresário falou que o presidente venderia por US$ 2 milhões à vista. Infelizmente, não temos esse dinheiro. Temos que privilegiar credores, atletas, funcionários e impostos. Peço desculpas de um lado, mas de outro peço união. O Santos merece ganhar, mas também merece credibilidade financeira. Faço um convite à união pela reconstrução do Santos", completou.

As falas de Walter Schalka serviram como resposta a um pronunciamento de Edu Dracena logo depois da vitória do Santos por 3 a 2 sobre o Água Santa, na Vila Belmiro, em 19 de março, e dois dias antes da reunião do Conselho. Na ocasião, Edu cobrou reforços à diretoria. Schalka e Edu Dracena não se citaram em momento algum.

"O Santos é muito grande para estar a terceira vez brigando para não cair. Espero que a gente acorde para colocar o Santos onde ele merece, que é estar sempre brigando por campeonatos e por títulos. Tivemos uma reunião nessa semana, mapeando o mercado. Temos alguns nomes postos na mesa do presidente, juntamente com o Comitê de Gestão, para que a gente consiga fortalecer a nossa equipe, dar respaldo para esses garotos que estão vindo com muito talento. Tomara que a diretoria, com o presidente, a comissão e nós aqui consigamos trazer o mais rápido possível esses reforços para que a gente não passe o sufoco que a gente passou. A gente sabe o momento do clube, sabe da situação, mas o Santos não pode estar brigando para cair pela terceira vez", falou.

Trabalho 'político'

No meio dessa "guerra fria", o presidente Andres Rueda tenta aliar a necessidade de reforços com o orçamento apertado. Rueda vê os trabalhos de Walter Schalka e Edu Dracena como fundamentais para o clube e não quer abrir mão deles.

"Nosso time é jovem, identificamos que era importante ter um executivo de futebol bom de vestiário, com ascendência e trouxemos o Edu Dracena sabendo que poderia contribuir para o projeto. E sabíamos também da sua talvez pouca experiência. E ele está contribuindo, com as dificuldade que ele e todos nós temos. Com trabalho e discernimento, vamos superá-las. Peço desculpas pelos resultados. Tivemos critérios para as contratações. Comitê de Gestão sempre teve decisão técnica apoiada pelo diretor e executivo. Estamos tentando fazer uma engenharia financeira para trazer jogadores numa condição melhor do que poderíamos trazer. Fomos atrás de investidores, empresas e antecipação de recebíveis dentro da nossa gestão para melhorar nosso time", afirmou o presidente, também durante a reunião do Conselho.

Walter Schalka é reconhecido no Santos e fora dele pela habilidade de negociar. O membro do Comitê de Gestão foi fundamental em acordos para evitar processos na Fifa, como o do Hamburgo (ALE) envolvendo Cleber Reis, Huachipato (CHI) por Soteldo e Barcelona (ESP) por Gabigol. A atuação dele, porém, vai além da renegociação de dívidas.

Esse fato incomodava antigos dirigentes, como o executivo André Mazzuco e o gerente Jorge Andrade, mas não era um grande problema. Com Edu Dracena, o incômodo é maior, até porque o presidente Andres Rueda prometeu "carta branca" publicamente. Na prática, não é bem assim.

Austeridade por saúde financeira

Schalka é presidente da Suzano, marca brasileira de papel e celulose, e tem diversos prêmios pela atuação como empresário. O departamento de futebol entende a importância dele para a reorganização do Santos, mas acredita que o momento do clube pede maior autonomia e investimento em reforços. O empresário, em contrapartida, é a favor de austeridade e teme que o Peixe abra esse precedente e comprometa o plano da gestão Rueda.

Os desentendimentos podem atrapalhar, mas não impedem as negociações do Santos no mercado. Depois da reunião interna e do encontro de conselheiros, o Peixe tentou e não avançou por Fernando Sobral, como Walter Schalka previu. A alternativa foi encaminhar a chegada de Rodrigo Fernández, volante uruguaio do Guarani-PAR. Ele chegaria por empréstimo com obrigação de compra e o Alvinegro Praiano não precisará gastar os R$ 10 milhões supostamente pedidos pelo Ceará.

A negociação pelo atacante Emmanuel Martinez, argentino do Barcelona de Guayaquil, demanda investimento maior e é difícil. O clube equatoriano já recusou algumas propostas e resiste, porém, o Santos ainda acredita que terá um final feliz. O Peixe ofereceu R$ 8 milhões parcelados e não está disposto a esticar muito mais a corda. Por contrato, o Barcelona é obrigado a cobrir ofertas. O Santos conta com a vontade do jogador, que aceitaria abrir mão de parte dos seus direitos econômicos para vir ao Brasil.

Outra negociação em andamento é a de Bryan Angulo, atacante equatoriano do Cruz Azul. O Santos chegou a acordo com o atleta e espera pela rescisão do contrato com o clube mexicano.

Willian Maranhão, do Bahia, já foi anunciado. Antes dele chegaram os zagueiros Eduardo Bauermann e Maicon, o lateral-direito Auro e os meias Bruno Oliveira e Ricardo Goulart em 2022. A ideia do Santos é confirmar Rodrigo Fernández e fechar com Angulo e Martinez nos próximos dias. O Peixe ainda estuda a chegada de outro meio-campista defensivo já que perdeu Alison, do Al-Hazem.

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