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Como Ceni 'sincerão' reconquistou torcida e conduziu São Paulo à final

Rogerio Ceni durante partida contra o Palmeiras - Marcello Zambrana/ AGIF
Rogerio Ceni durante partida contra o Palmeiras Imagem: Marcello Zambrana/ AGIF

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

29/03/2022 04h00

"Quando o time ganha é mais fácil, o treinador vem aqui, dá risada". A postura de Rogério Ceni na entrevista coletiva depois da vitória do São Paulo sobre o São Bernardo, por 4 a 1, pelas quartas de final do Paulistão, era diferente do jeito mais introspectivo apresentado no início do campeonato, quando ele mesmo admitiu que não tinha motivos para sorrir. Na época, a equipe frequentava a zona de rebaixamento do torneio e vinha de uma disputa dura contra a queda no Brasileirão do ano passado.

A declaração evidenciava o estilo "sincerão" de Rogério Ceni nessa passagem pelo clube, marca constante ao longo da retomada do São Paulo no Paulistão. Na medida em que o time engrenava com uma sequência de apenas uma derrota em 13 jogos, o treinador não hesitava em listar problemas que o clube tinha que lidar, seja com questões físicas de alguns atletas ou a grave situação financeira, que deixou alguns jogadores com até cinco meses de direitos de imagem atrasados.

A postura sempre teve o maior de todos os respaldos: a história que Ceni tem no São Paulo. Aos poucos, a preocupação do treinador e ídolo com as minúcias e sua insistência em apontar tudo que precisava ser melhorada no clube reconquistou a torcida, que estava distante. O motivo do estranhamento era uma declaração de Rogério na época em que comandava o Flamengo dizendo que a torcida Rubro-negra era "diferente". Por um bom tempo, os são paulinos se revezaram entre vaias e silêncio quando o nome do ex-goleiro aparecia no telão do Morumbi.

O amor começou a se reaquecer depois da vitória nos acréscimos sobre o Santo André no dia 9 de fevereiro. Ceni enumerou problemas que havia encontrado no São Paulo e comentou os atritos que teve dentro do CT da Barra Funda por ser uma pessoa "chata", como ele mesmo diz. As declarações foram entendidas pela torcida como vindas de alguém que estava lutando para tirar o clube de um período de poucos títulos e muita crise.

"Quando eu cheguei, a piscina não tinha água. Tinha cadeira e mesa. Então eu sou o cara chato que pediu para colocar água na piscina. Jogador está parado há 30 dias no departamento médico. Quando eu vejo jogador indo embora 13h45, eu penso que o clube está gerando a oportunidade de ele melhorar rápido. Quando eu me machucava trabalhava de manhã, de tarde e de noite para voltar a trabalhar rápido. São ajustes que a gente faz ou cobranças que a gente faz em alguns departamentos que geram realmente alguma insatisfação, porque a pessoa tem que ficar mais tempo, tem que trabalhar por mais tempo", disse.

Ceni começou a ter seu nome cantado nas arquibancadas do Morumbi e a principal torcida organizada do clube voltou a estender um bandeirão com seu rosto. Na chegada do ônibus da delegação ao Morumbi, o treinador é sempre um dos mais exaltados por quem acompanha rente às grades.

Sem a pressão da torcida, Ceni começou a ter paz para montar o time que amanhã inicia a disputa da final do Paulistão contra o Palmeiras. O treinador mudou o esquema tático, deu chance a jovens como Pablo Maia e transformou o São Paulo em um time difícil de ser superado em intensidade e obediência tática.

Perto do microfone, o estilo de falar o que pensa permaneceu. Depois da derrota para o Palmeiras na fase de grupos, Ceni criticou a decisão do médico do São Paulo de recolocar Diego Costa na partida pelo lado esquerdo do campo. O treinador viu na ação uma das causas para a falha defensiva que resultou no gol de Rony.

Ao longo das entrevistas concedidas após os jogos do Paulistão, Ceni seguiu elencando problemas que entendia que o São Paulo precisava corrigir. Com o clube a procura de reforços no mercado da bola, disse que a diretoria deveria ter como prioridade acertar os valores devidos aos jogadores antes de pensar em novas contratações. Sobre o elenco, admitiu que não gostava de trabalhar com tantos atletas - o São Paulo tem mais de 30 à disposição.

Ceni também explicou aos microfones que Luciano e Luan voltaram de lesões em condições físicas abaixo do que ele esperava, o que atrapalhou seus planos de dar mais minutos para a dupla.O atacante voltou a ser titular do time apenas na última rodada da fase de grupos, contra o Botafogo-SP. Na sequência, começou o duelo contra o São Bernardo e entrou no segundo tempo da vitória sobre o Corinthians. Já Luan ainda sofre para chegar à forma ideal depois de cinco meses longe dos gramados.

O estilo 'sincerão' de Ceni se mantém quando o assunto é o próximo adversário. O treinador disse abertamente que o Palmeiras é o favorito da final por ter um trabalho de dois anos sob o comando de Abel Ferreira. "Ninguém é campeão duas vezes seguidas da Libertadores por acaso". Mesmo contra o Corinthians, o ex-goleiro via o rival com peças mais experientes que às dele, mas dizia que o time ia lutar para buscar a vaga na final, algo que conseguiu com uma atuação dominante fisicamente.

Ceni comanda hoje (29) o último treino antes da primeira partida da final contra o Palmeiras. O duelo acontecerá na quarta-feira (30), no Morumbi, às 21h40 (de Brasília).

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