Seleção mostra que não depende de Neymar para encantar. E isso não é ruim
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Depois de algumas partidas de Fortnite, Neymar foi ao Instagram para postar um story com a mensagem "boa sorte, Brasil". À distância, em Paris, o craque acompanhou mais uma vitória da seleção sem ele: 4 a 0 diante da Bolívia. Se em três das quatro partidas anteriores o afastamento foi causado por lesões, o motivo da vez foi um cartão amarelo que o tirou da viagem a La Paz.
Ocasiões como essa, na qual a resposta do time de Tite foi com autoridade e muitos gols, ajudam a mostrar uma seleção brasileira que não depende mais de Neymar para encantar. Não é que o camisa 10 tenha se tornado dispensável ou inútil ao time. O ponto é que o desempenho recente do Brasil aponta um caminho no qual a participação dele deixa de ser preponderante para o sucesso — e isso não é um problema, necessariamente.
O que se viu em termos de protagonismo na seleção foi o crescimento de Vini Jr e Paquetá, a recuperação de Coutinho e o surgimento de Raphinha e Antony — só para citar figuras da parte ofensiva. O Brasil ainda não tem um centroavante definido, mas Richarlison mostrou na altitude que dá conta do recado e ainda há um Matheus Cunha que, até a lesão, vinha jogando bem, embora não tenha balançado as redes.
Vini, Raphinha e Antony trazem características de drible e velocidade que sempre chamaram a atenção no "menino" Ney. Na fase do "adulto" Ney, veio o papel mais cerebral, de construção, jogando pelo meio. E aí Paquetá e Coutinho supriram essa lacuna recentemente.
Para além de situações individuais, o Brasil mostra um crescimento coletivo. Para além da solidez defensiva, exemplificada pelos cinco gols sofridos ao longo de 17 jogos nas Eliminatórias, o repertório de criação melhorou. Esse era um problema identificado por Tite em um passado não tão distante.
De onde veio a Neymardependência
Em ciclos passados, havia a sensação da tal Neymardependência. Sem ele, os lampejos de criatividade sumiam, a seleção penava, caía na burocracia. Teve o 7 a 1 na Copa de 2014, a eliminação para o Paraguai na Copa América 2015 e a derrota na estreia das Eliminatórias, em 2015, diante do Chile, em Santiago. Ainda na era pré-Tite, Neymar não jogou a Copa América Centenário, em 2016, e o Brasil caiu na primeira fase.
A concentração dos gols em Neymar e a faixa de capitão, recebida após a Copa de 2014, também colaboraram para essa percepção de dependência. Ele atingiu a marca de 50 gols pela seleção quando ainda tinha 24 anos, em novembro de 2016. Messi bateu esse número aos 28. Cristiano Ronaldo, aos 29. Hoje, Neymar tem 71 gols pelo Brasil. Ou seja, fez mais 21 desde então.
É verdade que, com Neymar e tudo, a seleção caiu nas quartas de final da Copa do Mundo diante da Bélgica. Mas o cenário da dependência pareceu mudar um pouco quando o Brasil se virou bem na Copa América 2019. Neymar tinha seus próprios problemas dentro e fora de campo: sofreu uma lesão no tornozelo e tinha que lidar com uma acusação de estupro, que, ao fim das contas, acabou arquivada.
O Brasil deu uma rateada ao perder a Copa América 2021 em casa para a Argentina, mas ganhou ritmo quando as Eliminatórias recomeçaram, em setembro de 2021. Neymar teve uma apresentação muito ruim contra o Chile — talvez a pior dele pela seleção —, mas respondeu com gol e assistência logo na partida seguinte, diante do Peru.
"Neymar tem uma estrutura há bastante tempo na seleção brasileira para que possa potencializar sua criatividade", comentou Tite, na semana passada, ressaltando o papel de "verdadeiro 9" do camisa 10.
Os resultados recentes
O jogo do Brasil ainda passa muito por Neymar. Passadas 17 rodadas das Eliminatórias, ele terminou com oito gols e oito assistências. A questão é que Neymar perdeu sete jogos da campanha até agora invicta do Brasil. E a seleção se virou bem, relativamente, sobretudo na série mais recente.
Somando uma reclamação de dores musculares que o tirou do jogo fora de casa contra a Argentina, a lesão ligamentar no tornozelo sofrida em novembro e uma suspensão por cartões amarelos, Neymar só participou de um dos últimos quatro jogos da seleção. Aí, Tite abriu a temporada de variações. Nos últimos dois jogos de ausência do craque, duas goleadas por 4 a 0 — diante de Paraguai e Bolívia.
O "senão" das apresentações sem Neymar fica para o empate em 0 a 0 contra a Argentina, fora de casa, e o jogo insano diante do Equador, na altitude de Quito, que foi 1 a 1. Só aí já foram dois dos três empates do Brasil nas Eliminatórias. O terceiro foi o 0 a 0 contra a Colômbia, e Neymar jogou.
Com ele, o Brasil também ganhou de 4 a 0 do Chile, semana passada, e, ainda em outubro de 2021, fez o primeiro jogo verdadeiramente encantador em muito tempo: a goleada de 4 a 1 sobre o Uruguai.
Com Neymar ou sem Neymar, o que se percebe, inclusive na comissão técnica, é uma constância de efetividade ofensiva na campanha recente do Brasil. E isso faz Tite ficar "em paz", como ele mesmo citou após o duelo em La Paz. A relação deixa de ser de "exploração" de um jogador apenas e vira uma troca, na qual o ambiente da seleção o ajuda a amenizar os problemas no PSG.
A preparação para a Copa do Mundo ainda prevê cinco jogos — inclusive o pendente diante da Argentina, pelas Eliminatórias. Tite não quer abrir mão de Neymar, mas é mais confortável chegar a um Mundial sabendo que pode se virar sem ele.
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