Mulher registra B.O. contra carnavalesco da Gaviões por importunação sexual
Uma mulher registrou, na noite desta quarta-feira (30), boletim de ocorrência contra o carnavalesco da Gaviões Zilkson da Silva Reis por importunação sexual. No depoimento, ao qual o UOL Esporte teve acesso com exclusividade. No primeiro BO, ela disse que os fatos teriam ocorrido no dia 28. Depois, houve uma retificação e a data foi mudada para o dia 27, domingo. Acusado pela mulher, Zilkson está internado desde a última segunda na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde se recupera de uma agressão sofrida no barracão da Gaviões da Fiel.
O depoimento, porém, gera mais dúvidas de quando os fatos aconteceram. A mulher que acusa o carnavalesco de estupro disse que a confusão ocorreu na segunda-feira. Por sua vez, a defesa de Zilkson cita que ele foi agredido na Gaviões no domingo.
Acusação de estupro
De acordo com o relato, ela, que tem 23 anos, e o namorado Thiago Dionísio, 38, diretor de carnaval da Gaviões da Fiel, chegaram ao barracão por volta das 5h de segunda após terem saído da festa que tinha acontecido na quadra da escola, no bairro do Bom Retiro, onde relatam terem feito uso de "grande quantidade de bebida alcoólica".
Ainda segundo o depoimento da vítima, ela e Thiago foram para o quarto que ele ocupa quando está no barracão, onde tiveram relação sexual e caíram no sono. Ao acordar, por volta das 9h, ela disse que foi surpreendida por um homem de camisa preta e calça jeans fazendo sexo oral nela. Ela descreve que gritou e empurrou o homem, que saiu calmamente do quarto.
Quando Thiago retornou ao quarto, ela diz ter contado o que aconteceu momentos antes e viu o diretor de barracão da escola sair do quarto, enquanto ela ficou para trocar de roupa.
Minutos depois, ao encontrar o companheiro, ela relata que Thiago contou a ela que encontrou Zilkson e que ele o agrediu. O casal, segundo a mulher, deixou o barracão da escola às 16h50 do dia 28 após ficarem sabendo dos fatos pela imprensa. A vítima também informou que não apresentou lesões, por isso não precisou ser encaminhada para exames médicos.
Em contato com a reportagem do UOL Esporte, a advogada do carnavalesco, Ana Cláudia Conde Vieira Alves, disse que a acusação não procede.
"No boletim de ocorrência, eles falam que beberam no sábado e a agressão aconteceu apenas na segunda. Me chama a atenção a cronologia apresentada por eles, os fatos não batem. A Gaviões da Fiel quer jogar nas costas do Zilkson uma acusação de importunação sexual. O Zilkson é a vítima, é ele que foi agredido, que está internado."
Inquérito aberto
A Polícia Civil já instaurou inquérito para apurar o caso de agressão a Zilkson, mas com base em outro boletim de ocorrência registrado no 2º Distrito Policial da capital, no Bom Retiro (região central), após denúncia feita pela advogada do carnavalesco.
Zilkson da Silva Reis foi ouvido por policiais sobre tentativa de homicídio que ele sofreu. Em rápido contato com os policiais, o carnavalesco apontou como seu agressor Thiago Carlos Dionísio, identificado no boletim como diretor de barracão da escola de samba e principal organizada do Corinthians. A reportagem não conseguiu contato com o suspeito.
O documento, obtido pela reportagem do UOL, mostra que a advogada relatou que seu cliente foi encontrado por volta das 15h do último domingo no barracão da Gaviões, "brutalmente ferido, lesionado e ensanguentado, vítima de tentativa de homicídio." A advogada indicou Dionísio como suspeito do crime, que teria ocorrido às 10h.
O documento também relata que "foram solicitadas imagens das câmeras de segurança do hotel, porém, foi informado que o aparelho DVR está com problemas técnicos, não sendo possível o fornecimento de tal registro".
O contato dos policiais com Reis é descrito assim no documento: "ato contínuo, foram realizadas diligências no Hospital Santa Casa, sendo possível breve contato com a vítima, a qual, apesar de estar convalescente e gravemente ferida, reconheceu sem sombra de dúvidas a pessoa de Thiago Carlos Dionisio, como sendo o autor das agressões".
Duas versões
Ontem (30), a Gaviões da Fiel chegou a emitir uma nota oficial sobre o caso. O documento acusava o carnavalesco de tentativa de abuso a uma mulher, que teria pedido socorro. Integrantes da escola teriam, então, agredido o artista. No entanto, pouco depois de divulgar o texto em suas redes sociais, a escola apagou a publicação:
A versão apresentada pela Gaviões é refutada pelo advogada Ana Cláudia Conde Vieira Alves. Para ela, a causa mais provável para o ataque seria uma divergência gerada por cobrança de dívida por parte de Zilkson. "Acredito que a razão dessa brutalidade possa ser o atraso de pagamento do contrato do artista. O que fizeram com o Zilkson não foi uma defesa pessoal, foi um gesto de pura covardia", afirmou a advogada em contato com o UOL Esporte.
De acordo com a apuração da reportagem, a escola de samba assinou um contrato no valor aproximado de R$ 90 mil pela prestação dos serviços do carnavalesco, porém não pagou parte do combinado. O atraso de duas semanas é encarado como algo rotineiro, sobretudo após a remarcação das datas dos desfiles no Sambódromo do Anhembi.
Além de Zilkson, a escola de samba está em atraso com o pagamento de outros colaboradores envolvidos com a criação de toda a estrutura do desfile de Carnaval, que acontecerá no dia 23 de abril. Os valores, no entanto, são mantidos em sigilo. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, a Gaviões considera a situação sob controle já que tem receitas para receber e pretende fazer os pagamentos assim que os novos recursos chegarem.
O UOL Esporte entrou em contato com a assessoria de imprensa da Gaviões. Em nota, a escola de samba informou que está apurando os fatos internamente, cooperando com a investigação do caso e prestando atendimento necessário aos familiares do carnavalesco. A entidade, no entanto, não repetiu a acusação de abuso sexual que constava em sua primeira nota oficial.
"Vimos por meio desta informar que estamos apurando os fatos e colaborando com as investigações sobre o caso do carnavalesco Zilkson Reis. O Departamento Jurídico irá se pronunciar assim que o Inquérito Policial for instaurado e tivermos maiores informações. Esclarece ainda, que não aprova nem compactua com qualquer tipo de violência por parte de seus associados, cabendo à Autoridade Policial apurar com imparcialidade as versões apresentadas pelas partes envolvidas de modo que injustiças ou medidas judiciais prematuras sejam adotadas no curso do inquérito policial. Vale lembrar que não havia expediente de trabalho no dia em questão em nosso barracão, portanto não havia motivos para nenhuma pessoa estar no local à serviço da entidade. Ressaltamos que os Gaviões seguem prestando atendimento ao carnavalesco Zilkson Reis e à sua família", escreveu a agremiação.
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