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Promessa do Ju saiu de cidade com 4 mil habitantes e quase parou no Inter

Kelvi, meio-campista do Juventude em ação pelo time - Fernando Alves/Juventude
Kelvi, meio-campista do Juventude em ação pelo time Imagem: Fernando Alves/Juventude

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

31/03/2022 04h00

Você provavelmente pouco ouviu falar da cidade de Ilópolis. O município distante quase 200 quilômetros de Porto Alegre tem seu nome inspirado na erva-mate (Ilex Paraguariensis), tão tradicional no chimarrão do gaúcho. Mas da cidade da erva-mate não sai apenas o tão necessário conteúdo das cuidas espalhadas pelo Rio Grande do Sul. De lá também vem uma das principais apostas do futuro do Juventude, que por pouco não acabou no Inter.

Trata-se de Kelvi, meio-campista de 19 anos. Inspirado no espanhol Sergio Busquets e também fã de Cristiano Ronaldo, ele tem uma trajetória cheia de curvas na carreira que inicia, e que em breve pode dar passos ainda maiores.

Pois o início no futebol numa cidade tão pequena o fez ser conhecido desde a infância. Hoje, ele é, sem dúvida, uma das pessoas mais populares entre os pouco mais de 4 mil habitantes de Ilópolis, segundo estimativa de 2021.

"Minha ligação com o futebol se deu muito por influência do meu pai. Ele gostava de jogar e me levava junto em jogos da várzea e amistosos nos finais de semana, então desde pequeno fui associando à minha infância com o gosto de jogar futebol", contou ao UOL Esporte.

"Esse reconhecimento é muito bacana. Venho de uma cidade pequena, com apenas 4 mil habitantes, então, sentir o carinho que eles têm comigo e com a minha família é algo que me faz muito bem. Tenho orgulho de onde eu vim e vou levar o nome da minha cidade por onde for", disse, orgulhoso.

Mas Ilópolis ficou para trás também cedo. Antes de completar 14 anos, ele já atraía atenção de grandes clubes. O primeiro foi o Inter, que o levou a Porto Alegre. Mas veio uma encruzilhada na vida do pequeno. Ida e volta da capital geraria deslocamento muito grande e permanecer por lá sozinho tão cedo seria ainda mais complicado.

"Nos primeiros contatos que tive quando fui para Porto Alegre, a nossa situação financeira não era das melhores. Iriam ter certos custos para me manter lá e minha família não tinha condições de arcar com eles. Então, ser monitorado era a solução na época", explicou.

Kelvi em ação pelo Juventude contra o Grêmio pelo Campeonato Gaúcho - Fernando Alves/Juventude - Fernando Alves/Juventude
Imagem: Fernando Alves/Juventude

O monitoramento era feito em uma escolinha de futebol na cidade de Passo Fundo (RS). O Colorado acompanhava cada passo de Kelvi, mas não contava com a intromissão de um rival vindo da Serra Gaúcha. O Juventude cruzou o caminho do garoto — quase literalmente, pois o fato de ser mais próximo de sua cidade pesou — e levou a melhor.

"Passaram-se alguns anos e, quando tive novamente a oportunidade de ficar no Inter em definitivo, já tinha a possibilidade de vir para o Juventude. Por questões do rendimento que tive em Porto Alegre, acabei optando pelo Ju", contou.

Ainda com 14 anos, Kelvi conviveu com algo ímpar. Pela qualidade demonstrada nos treinos, foi utilizado em trabalhos do time profissional. Pela idade, ainda não poderia atuar, mas completou atividades já no time de cima.

"Tive minhas primeiras experiências no profissional cedo, com apenas 14 anos, e não posso negar que senti uma certa diferença entre estar na base e estar no profissional. Busquei sempre me atentar às informações que recebia, à experiência dos atletas, o jeito de jogar, enfim... Foram vários fatores que observava para poder me adaptar o quanto antes", comentou.

Cinco anos depois, Kelvi olha para trás orgulhoso de sua escolha. Conseguiu ficar mais perto da família e entende que se desenvolveu no tempo certo e com a estrutura necessária no Juventude.

"Hoje eu sei que o Juventude me fez muito bem. Passei por um longo processo de evolução para me capacitar e me lançar a esse cenário que estou hoje. A questão não é tentar a sorte, a questão é ter certeza do processo que estou passando, e o Juventude é motivo disso. É o time que me abraçou e abraçou o meu sonho, não poderia pensar em ter escolhido qualquer outro", contou.

"O sentimento é total de realização. Vir de um lugar que não se tem muitas oportunidades em relação ao futebol é difícil. Tive que sair, passei por muita coisa difícil no mundo da bola... Era difícil para mim pensar que para realizar o sonho de ser jogador eu teria que viajar mais de seis horas todos os dias até a capital, e o Juventude apareceu com um projeto melhor que o do Inter nesse sentido. Sou extremamente grato ao clube pelo que fizeram por mim na busca pelo meu sonho", completou.

Estreia e futuro

Ainda completando seu desenvolvimento, pois tem idade de categorias de base, a primeira chance veio neste ano. Kelvi disputou a Copa São Paulo, foi firmado no elenco de cima e fez dois jogos no Gauchão, o primeiro deles logo contra o Grêmio.

Agora, mira preparação para a primeira Série A da carreira. No Ju, quer justificar todo apoio recebido e continuar sendo o "orgulho da cidade da erva-mate".

"Meus planos estão bem traçados na minha cabeça. Quero seguir meu trabalho forte no Juventude, buscando a cada dia meu espaço e, durante esse ano, poder representar mais vezes o clube. Espero poder retribuir em campo todo o carinho e confiança que as pessoas do clube tiveram comigo e com meu sonho todos esses anos. Serei eternamente grato pela oportunidade que me deram lá atrás", finalizou.

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