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Como o Atlético-MG se equilibra financeiramente com uma dívida de R$ 1,4 bi

Conquistar títulos virou rotina no Atlético-MG, ao mesmo tempo que a dívida cresce - Fernando Moreno/AGIF
Conquistar títulos virou rotina no Atlético-MG, ao mesmo tempo que a dívida cresce Imagem: Fernando Moreno/AGIF

Victor Martins

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte (MG)

10/04/2022 04h00Atualizada em 10/04/2022 14h42

Dono da maior dívida do futebol brasileiro, que gira em torno de R$ 1,4 bilhão, o Atlético-MG montou um dos elencos mais qualificados do país. Portanto, tem também uma das folhas salariais mais caras da Série A do Campeonato Brasileiro.

A situação em campo não condiz com as finanças do clube, que venceu o Brasileirão e a Copa do Brasil na temporada passada, mas é um risco calculado. Na prática, o Galo aumentou a dívida para elevar as receitas e, em breve, ter condições de reduzir drasticamente o que deve.

As decisões no clube não são aleatórias, pois o Atlético segue um planejamento elaborado em conjunto com a E&Y. A consultoria está no clube desde 2019 e elaborou o plano a ser seguido. A elevação da dívida estava prevista, já que o Galo não tinha recursos para se manter e tampouco para qualificar o elenco e colher resultados esportivos.

No ano passado, por exemplo, as boas campanhas renderam mais de R$ 200 milhões ao Galo. O mesmo vale na busca por patrocinadores. Só a camisa do Atlético rendeu cerca de R$ 40 milhões em 2021 e haverá valorização de 50% para a temporada, ou seja, mais R$ 60 milhões garantidos.

Já para 2023, a expectativa é que a arrecadação com patrocínio chegue perto dos R$ 100 milhões. Sem contar a inauguração da Arena MRV, construída com recursos do clube e que deve render mais de R$ 100 milhões por ano quando estiver em funcionamento pleno.

Pode parecer estranho o Atlético elevar as receitas, como aconteceu no ano passado, e mesmo assim ver a dívida crescer. A resposta está no planejamento financeiro do clube. Era preciso investir no futebol para gerar recursos suficientes para o time se manter forte e competitivo. Foi o que aconteceu. Para 2022, por exemplo, não existe a previsão de novos empréstimos por parte dos mecenas, que colocaram mais de R$ 400 milhões no Galo entre 2020 e 2021. Aliás, com o faturamento já garantido, o Atlético não corre risco de atrasar os salários nesta temporada.

Dívida inferior a R$ 400 milhões em 2026

De acordo com planejamento elaborado pela E&Y, o Atlético tem condições de reduzir a dívida em R$ 1 bilhão até 2026. Mas para isso será necessário se desfazer de patrimônio. É o caso de 49,9% do Diamond Mall, shopping localizado na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Somente a parte do Atlético está avaliada em R$ 350 milhões.

A dívida com a família Menin, assim como a questão tributária, não preocupa a direção alvinegra. São cerca de R$ 700 milhões que o clube precisa pagar a longo prazo, com juros baixos ou até mesmo sem juros, no caso dos empréstimos feitos com Rubens Menin.

Já o restante da dívida é o que tira o sono dos dirigentes. São débitos com instituições financeiras e outros credores, que geram o pagamento de cerca de R$ 60 milhões apenas com juros a cada ano. A venda do empreendimento comercial pode liquidar ou deixar o Atlético muito próximo de acabar com esse endividamento "do mal".

Afinal, a conta vai chegar?

Para o Atlético, a questão determinante é: o clube está preparado? A resposta hoje é não. "Quanto à participação dos 4Rs, é uma realidade, não tem como fugir e não enaltecê-los. Sem eles, estaríamos na segunda divisão", comenta o presidente do clube, Sérgio Coelho.

Os 4Rs citados pelo mandatário alvinegro são Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador. Conselheiros do clube, os bilionários fazem parte de um colegiado que administra o Atlético ao lado de Sérgio Coelho e do vice-presidente José Murilo Procópio. É através do suporte financeiro desses mecenas, que preferem se tratados como investidores, que o Atlético consegue montar um time forte.

O caminho tomando pelo Atlético é mais parecido com o que seguiu o Palmeiras do que o adotado pelo Flamengo. O Rubro-Negro conseguiu fazer uma recuperação orgânica. Com capacidade de faturamento enorme, o trabalho focou nas contas do clube para alavancar as receitas e cortar gastos desnecessários. Deu certo. Já no Palmeiras, foi necessário o empréstimo de R$ 150 milhões do ex-presidente Paulo Nobre para que o clube tivesse uma recuperação esportiva e administrativa. Também deu certo.

Apesar de já se colocar na briga com cariocas e paulistas em campo, fora dele o Atlético ainda não está no mesmo estágio dos principais concorrentes aos títulos. Mas, por enquanto, está tudo acontecendo dentro do planejado. Se hoje o Galo ainda não está preparado para o dia que a conta chegar, com suporte financeiro dos mecenas, o clube retarda a chegada desse dia até que esteja pronto.

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