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VP identifica espírito corintiano na equipe: 'Representamos muita gente'

Do UOL, em São Paulo

10/04/2022 19h36

Depois de dias conturbados com eliminação no Campeonato Paulista, derrota na estreia da Copa Libertadores e ameaças digitais a membros do elenco e diretoria, o técnico Vítor Pereira festejou a postura do Corinthians no estádio Nilton Santos, diante do Botafogo. Na visão do comandante, a equipe fez um primeiro tempo irretocável e, na parte final do jogo, demonstrou o 'espírito corintiano' ao barrar as investidas do adversário.

"Os miúdos (garotos) têm qualidade e precisam de um bocadinho mais de maturidade que os jogos vão dar, tenho certeza absoluta. A primeira parte foi de grande nível, não demos chances ao Botafogo e na segunda parte gerimos um pouquinho e vi o espírito corintiano dentro de campo. Muita raça, muita ajuda, é tanta vontade que até exagera. O Roni tem um coração muito grande, acrescenta ao clube como ninguém, mas é natural que estes percalços aconteçam. Fico orgulhoso de termos tanta gente da base em campo e acho sinceramente que temos o apoio da nossa torcida. Merecemos o apoio, eles cobraram e nós reagimos. É assim que tem que ser", afirmou o português do Corinthians em entrevista coletiva.

A vitória no Nilton Santos, por 3 a 1, na estreia do Campeonato Brasileiro afasta a crise no Parque São Jorge que vinha de uma sequência de três jogos sem vitória na temporada. Nos últimos dias, com o aval do clube, membros da Gaviões da Fiel — a principal torcida organizada do Timão — estiveram no CT Joaquim Grava para cobrar satisfações do elenco e melhores resultados dentro de campo.

"A cobrança dentro do respeito é importante. É importante para mim, para os jogadores e percebemos que não podemos baixar o nosso nível. Representamos muita gente pobre, muita gente que para ir ao domingo ao estádio precisa poupar durante a semana e muitas vezes falta comida na mesa. Portanto, a conversa que tivemos foi nesse sentido. A vida nos abençoou com a possibilidade de fazermos o que gostamos e somos bem pagos. É importante não nos esquecermos que representamos muita gente, milhões, muita gente pobre e necessitada. Esse é o espírito que temos que levar para campo", pontuou Vítor Pereira novamente falando sobre o espírito combativo da equipe.

O treinador, no entanto, deixou claro que não compactua com as ameaças digitais feitas a atletas como Cássio, Willian, Paulinho e Gil, e também ao presidente Duilio Monteiro Alves. O português externou uma conversa sobre o assunto com o elenco e lamentou o ocorrido. A Polícia Civil de São Paulo investiga o caso e, inclusive, já identificou a maioria dos autores das ameaças.

"O resto já tenho que criticar, não se pode misturar futebol e família porque a família é sagrada. Não se pode fazer isso, perderam completamente a razão e, sinceramente, não podemos deixar isso acontecer. Tivemos uma conversa onde esse assunto não foi esquecido, tivemos que perceber que temos que focar no trabalho naquilo que controlamos e deixar para as pessoas competentes esse excesso, na verdade passaram dos limites. Por mais paixão que tenham pelo clube não podem fazer isso. Nós temos que correr, lutar e ir bem. Concordo que a cobrança seja feita em cima disso, mas o resto é caso de polícia", finalizou Vítor Pereira.

Motivado pela vitória no Rio de Janeiro, o Corinthians volta aos treinamentos amanhã no CT Joaquim Grava. Na quarta (13), às 21h (de Brasília), o Timão mede forças com o Deportivo Cali, na Neo Química Arena, pela segunda rodada do Grupo E da Copa Libertadores. Os colombianos derrotaram o Boca Juniors na estreia e são os líderes da chave ao lado do Always Ready, o algoz do Alvinegro na Bolívia.

Confira outros trechos da entrevista de Vítor Pereira:

Sobre duelo com o Botafogo em estádio lotado

"Não é fácil, não é fácil. Esse campeonato tem algumas características que estou a conhecer agora. Jogar contra o Botafogo com 40 mil pessoas em euforia, em Portugal só conseguimos isso nos grandes jogos. Aqui (Brasil) já vi várias vezes em pouco tempo. Já joguei grandes jogos com muita gente, o ambiente não é fácil, a competição não é fácil. Estou tentando me adaptar, perceber bem a característica dessa liga para que a equipe se mantenha competitiva e não aconteça, como já aconteceu, chegar na semifinal do Paulistão completamente mortos e sem capacidade de sermos competitivos. A grande lição que tenho deste mês de trabalho, ainda é muito pouco tempo de trabalho, não dá para trabalhar. São muitas viagens, mas acho que fizemos uma partida de grande nível. Temos que digerir porque vamos jogar um jogo fundamental para nós daqui a três dias".

Sobre rodízio no elenco

"De fato, o único caminho que vejo para podermos manter a nossa equipe competitiva é fazendo essa gestão. Não é possível jogar hoje com uma equipe e quarta-feira com a mesma equipe. Iríamos condenar o próximo jogo, uma partida fundamental para nós na Libertadores".

Sobre Renato Augusto

"A gestão do Renato, conversamos os dois, ele é um líder natural e se tivesse como iria ao jogo. O Renato mescla a juventude e experiência ao time, conversamos um bocadinho e decidimos que se fosse necessário ele iria a campo. Não vimos essa necessidade, mas ele está bem. Deve chegar limpo, zerado na quarta-feira".

Ainda sobre rodízio e sobre derrota para o Always Ready, na Bolívia

"De fato, os dois últimos jogos foram difíceis. Jogamos a semifinal com o São Paulo completamente desgastados, chegamos a conclusão de que é impossível responder de forma competitiva a tantos jogos competitivos. A partir de hoje vamos fazer assim, é a única forma, não vejo outra de manter o nível competitivo. Teremos a possibilidade de discutir os jogos e espero que nossa torcida esteja conosco. Agora, é uma torcida de cobrança, fundamentalmente quando não deixamos tudo dentro de campo. O jogo da Libertadores fizemos, na minha opinião, uma primeira parte de qualidade. Tirando o pênalti, acho que foi um jogo controlado. Faltaram os gols que marcamos hoje, estou convencido de que se tivéssemos feito o primeiro gol, o jogo teria virado ao nosso favor. Agora, eu sinceramente não consigo explicar o que aconteceu naquela segunda parte. O time do ponto de vista emocional quebrou. Não senti a reação da equipe, conversei com eles como converso sempre para tentar saber o motivo de não reagirmos. Não consigo dizer o que é que a altitude provoca, mas logo que saí do avião e passei por algumas escadas, parecia que não conseguia respirar. Imagino a facilidade que essa equipe tem em jogar na altitude, não consigo perceber se foi falta de uma atitude agressiva ou se foi o fato da equipe estar morta e não conseguir reagir. O jogo com o São Paulo foi uma lição para nós, não podemos jogar um jogo daquele nível naquele estado de fadiga. Sobre a Libertadores não consigo avaliar bem o que a altitude provocou na equipe. Sinto que é uma equipe que sente quando as coisas correm mal, mas hoje jogou bem com caráter, com responsabilidade, com determinação e demonstrando o espírito corintiano".

Sobre escolha de Raul Gustavo como titular e Gil no banco

"Acho que vamos precisar de toda gente disponível para jogar. Vimos o João Pedro fazer um belíssimo jogo, consistente em defender e atacar. Foi capaz de reagir a um momento ruim com personalidade e caráter. Falei com ele essa semana: 'João, tens que acreditar em ti próprio'. Nós vamos precisar de todos porque são muitos jogos, temos que alternar os jogadores para manter a dinâmica. Foi o que fizemos hoje, na primeira parte fomos muito bem, na segunda nos permitimos gerir um bocadinho. Precisamos nos preparar para um jogo importantíssimo daqui a três dias e olhar para as características do adversário e gerir com a característica deles. Precisamos de todos para jogar".

Sobre duelo com o Deportivo Cali

"Estamos cientes da importância do jogo, sabemos que tem que ser um jogo para ganhar, para deixarmos tudo em campo. Em termos de pontuação é fundamental para voltarmos à luta pela classificação. Estamos confiantes nisto e já começamos hoje a pensar nesse jogo. É um aprendizado. Na Europa, joguei com quatro em quatro dias, mas aqui é sempre a jogar, viagens enormes. Não foi o caso hoje, mas para a Bolívia foi uma viagem que durou toda a noite. De fato, é uma aprendizagem, é uma paixão que se vive. Sabia que viria ao Brasil para competir em várias competições que nos colocam várias possibilidades de trabalhos. É uma grande torcida, uma das coisas que mais me maravilhou aqui. Temos que ganhar fora e ganhar em casa, mas jogar em casa ao lado da nossa torcida é algo fantástico. Nunca senti uma torcida que apoia do primeiro ao último minuto, isso foi pra mim um aspecto que me marcou, que mexeu comigo".

Sobre adaptação ao Corinthians e a São Paulo

"Em termos de São Paulo ainda não conheço, conheço muito pouco. É CT e hotel, hotel e CT. Chego no hotel, como alguma coisa e já vou dormir. No outro dia de manhã já estou no CT novamente, a estrutura do Corinthians é maravilhosa. As pessoas dentro do clube nos faz sentir identificados por estarmos aqui, são pessoas espetaculares, que nos fazem sentir bem. Além de trabalhadores do clube, somos amigos. A identificação foi muito rápida, o clube nos dá um ambiente familiar. Me sinto bem dentro do clube. Daí, São Paulo passou um bocadinho ao lado porque não tive tempo de dar um passeio para conhecer São Paulo. Estamos juntos com nossa torcida, Vai Corinthians, e estamos nos doando de corpo e alma nos jogos. Eles são o 12º jogador e, de fato, sentimos isso".

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