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Libertadores - 2022

Quem é a 'Leila boliviana' que comanda o rival do Palmeiras na Libertadores

Jenny Montaño, presidente que levou o Independiente Petrolero à primeira divisão, ao título e à Libertadores - Divulgação/Independiente Petrolero
Jenny Montaño, presidente que levou o Independiente Petrolero à primeira divisão, ao título e à Libertadores Imagem: Divulgação/Independiente Petrolero

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

12/04/2022 04h00

A partida entre Palmeiras e Independiente Petrolero na noite de hoje (12) marca um encontro raro no futebol sul-americano: dois times presididos por mulheres em um jogo de Copa Libertadores. De um lado, Leila Pereira; de outro, Jenifer Montaño, boliviana de 37 anos que tirou o seu clube da segunda divisão direto para um título nacional inédito.

As duas têm em comum o sucesso, mas chegaram lá por vias bem diferentes. Enquanto Leila Pereira saiu de patrocinadora a presidente, Jenny Montaño ganhou prestígio dentro do próprio clube que agora preside: começou como tesoureira em 2017, logo se tornou secretária geral e em dois anos foi eleita para o cargo mais alto do Independiente.

Os resultados são impressionantes. Já sob a gestão de Montãno, o time foi vice-campeão da segunda divisão em 2020 e voltou à elite nacional após 18 anos. Na temporada de retorno, viveu conto de fadas e conquistou o Campeonato Boliviano, o primeiro troféu da história do clube, e de quebra a classificação para a edição atual da Copa Libertadores.

Montaño nasceu em Sucre, em uma família íntima do futebol. Seu avô foi funcionário do Independiente; o pai era jogador, e o irmão também defendeu as cores do clube local. Ela se formou em bioquímica e abriu uma farmácia, de onde até hoje tira a maior parte de seu sustento. Também contribui na empresa de serviço de buffet da família e foi eleita vereadora de Sucre.

Ficou conhecida após greve de jogadores

Montaño se fez conhecer nacionalmente no começo do ano passado, em uma crise com o elenco. O time se negou a jogar uma partida em apoio às exigências da Associação de Futebolistas da Bolívia (Fabol), que promovia uma paralisação por melhores condições de trabalho para os atletas. Jenny Montaño não gostou nada e foi até o campo discutir o assunto. Como os jogadores mantiveram sua posição, a presidente de pronto anunciou a demissão dos dois capitães, Mijail Avilés e Martín Prost.

"Foi um episódio lamentável. Fiquei irritada porque o estádio estava cheio de pessoas que pagaram os ingressos e um dia antes havíamos combinado que o time jogaria. De toda forma, serviu para marcar. Sou uma pessoa tranquila, mas não consigo me conter quando falham comigo", diz Montaño.

O caso foi um exemplo de sua firmeza nos bastidores. Há cerca de dois meses, comprou uma briga ingrata no futebol boliviano: irritou-se com a arbitragem em uma derrota para o Always Ready —cujo ex-presidente Fernando Costas hoje comanda a Federação Boliviana de Futebol. Chegou a dizer que todos os árbitros bolivianos "estão sendo manipulados" pelo clube adversário e só voltou atrás no dia seguinte, mas ainda assim cobrando esclarecimentos dos supostos erros da arbitragem.

Austeridade na administração

Leila e Jenny também têm relações diferentes com o dinheiro em seus clubes. O futebol boliviano aprendeu na marra a se preocupar com os gastos, afinal, tem sido marcado por clubes em falência. Neste cenário, o Independiente Petrolero tem conseguido fazer mais com menos: foi campeão nacional com uma folha salarial de US$ 85 mil, valor comparável ao que rivais do porte de Bolívar e The Strongest pagam a suas estrelas.

Também por isso a classificação à Libertadores representa tanto ao time boliviano, que recebe US$ 3 milhões por jogar a fase de grupos. O valor é uma fortuna se comparado à operação dos últimos anos e pode ser um degrau importante para o desenvolvimento do Independiente sob a gestão de Montaño. O plano é usar o dinheiro para comprar um ônibus e construir um centro de treinamento.

"Entramos na história do futebol boliviano porque trabalhamos com humildade e responsabilidade", disse a presidente na celebração do título, em dezembro, em clara referência à contenção de gastos. Semanas depois, quando vários titulares do time campeão já saíam para times mais ricos, foi honesta ao dizer que o Independiente "não tem condições de competir com o dinheiro deles". Com uma boa campanha na Libertadores, quem sabe o time de Montaño não passe a ter.