Palmeiras já viu exército em hotel no Equador após Edmundo chutar câmera
"Quando a gente olhou para fora, o exército estava na porta do hotel", relembra-se o ex-volante Amaral, 49. O episódio a que ele se referiu em entrevista ao UOL Esporte aconteceu há 27 anos, antes de o Palmeiras enfrentar, também pela Copa Libertadores, o mesmo Emelec (EQU) que vai encarar hoje, às 21h (Horário de Brasília), em Guayaquil, no Equador.
Em 1995, o regulamento da Libertadores era bem diferente do que é hoje. Apenas dois times se classificavam por cada país —além do campeão, que já entrava na segunda fase. No ano em questão, foi o Velez Sarsfield (ARG). Naquele ano, o campeão brasileiro Palmeiras, além do Emelec, teve no seu grupo o El Nacional (EQU) e o Grêmio, campeão da Copa do Brasil.
Foi em 7 de março, que o Palmeiras perdeu para o El Nacional por 1 a 0 em Quito. Além de desperdiçar um pênalti na partida, Edmundo chutou uma câmera de um canal da rede de TV local Telesistema quando deixava o gramado, depois do apito final.
"Ele não derrubou a câmera de propósito. Ele foi levantar o braço, a câmera caiu e ele acabou chutando", conta Amaral, contemporizando um pouco o episódio.
O ato de Edmundo não passou em branco. O exército visto por Amaral na porta do hotel estava ali por causa do então atacante. "Quando a gente chegou no hotel, queriam que o Edmundo fosse depor e disseram que ninguém ia sair. E a gente tinha voo marcado", relembra-se Amaral.
A viagem em questão era justamente para Guayaquil, onde o time iria jogar contra o Emelec, no dia 10. Após alguma conversa, o Palmeiras teve permissão para viajar, mas sem Edmundo, que ficaria mais seis dias no hotel, proibido de deixar o país e o seu quarto no hotel.
"Foi nessa hora que fiz uma brincadeira com um soldado e disse que o Edmundo estava dentro de um desses baús gigantes que o clube usa para transportar equipamentos em viagens", conta Amaral. "Foi só uma pegadinha do 'Ivo Holanda'. Mas os caras ficaram muito bravos, fizeram a gente abrir todos os baús", disse o ex-jogador.
"Naquela época, não tinha celular com câmera"
Amaral conta que o clima geral, pegadinha à parte, era mesmo de apreensão. "Não era como hoje. Naquela época, não tinha celular com câmera para a gente filmar algo, e a gente não sabia o que os caras iriam fazer, se alguém poderia invadir o hotel à noite", diz ele.
Edmundo ainda ficaria mais quatro dias preso no hotel, na companhia do então preparador de goleiros Valdir Joaquim de Moraes, morto em 2020.
"Inclusive, ele se alimentava dentro do apartamento, e eu fiquei com ele. Eu reuni a imprensa, fui falar com os repórteres. A polícia queria levar o Edmundo, mas o advogado do hotel não deixou. Quando o Edmundo saiu, depois de quase três dias, nós fomos de carro direto para o aeroporto, que estava lotado de torcedores esperando ele para pedir autógrafos", disse ele ao UOL em 2007.
Conforme também disse ao UOL, em 2007, Seraphim del Grande, vice-presidente e chefe da delegação do clube em 95, o ex-jogador chegou a se desculpar em uma reunião, mas não teve perdão dos equatorianos.
"Eu também pedi desculpas. E o Edmundo pediu desculpas daquele jeito irônico dele. E o diretor da TV não aceitou, disse que não iria retirar a queixa", conta Seraphim. No fim das contas, o Palmeiras teve de fazer um acordo com a Telesistema, pagando 10 mil dólares em espécie, conforme noticiou a Folha de S. Paulo, em 14 de março da 1995.
Sem o Animal, com Maurílio na sua vaga, o Alviverde bateu o Emelec por 3 a 1, com dois gols de Roberto Carlos e um de Rivaldo.
A Libertadores era só mais um torneio
Amaral começou a jogar pelos profissionais do Palmeiras em 1992, mas se firmou mesmo em 1993, com Vanderlei Luxemburgo. "Naquela época, a Libertadores era só mais um torneio, não tinha pressão para conquistar. Pressão a gente sentiu em 1993, para ganhar o Paulista, era isso que o clube e a torcida queriam", diz.
"Depois que ganha o Paulista, o Brasileiro, o bi do Paulista e também do Brasileiro, é que o leque se abre mais e a Libertadores se torna mais importante", diz Amaral. Em 1995, de fato, mesmo com um time enfraquecido em relação aos anos anteriores, o clube faz um esforço para trazer o técnico Valdir Espinosa, que já conquistara a competição pelo Grêmio e sabia o caminho das pedras. Espinosa também morreu em 2020.
"O Espinosa era um cara muito legal, tava sempre com seu 'uisquinho' nos momentos de folga. Pena que ficou pouco", relembra-se. "Sou muito grato a ele e a todos os técnicos com quem trabalhei no Palmeiras, o Nelsinho (Baptista), o Vanderlei, o Carlos Alberto Silva, o Felipão", afirma.
FICHA TÉCNICA
EMELEC (EQU) X PALMEIRAS
Motivo: Copa Libertadores, Fase de Grupos
Local e Horário: Estádio George Capwell, em Guayaquil, às 21h (Horário de Brasília)
Árbitro: Patricio Loustau-ARG
Assistentes: Ezequiel Brailovsky-ARG e Diego Bonfá-ARG
Emelec: Pedro Ortiz; Romario Caicedo, Aníbal Leguizamón, Eddie Guevara e Bruno Pittón; Dixon Arroyo, Sebastián Rodríguez, Bryan Carabalí e João Rojas; José Cevallos e Alejandro Cabeza. Técnico: Ismael Rescalvo
Palmeiras: Lomba, Mayke, Gómez, Kuscevic e Jorge; Danilo, Atuesta e Scarpa; Veron, Navarro e Rony. Técnico: Abel Ferreira
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