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O que Tite viu nas semifinais da Champions que afeta os planos da seleção

Seleção brasileira enfrentou a Bolívia em março e tem cinco amistosos antes da Copa do Mundo pela frente - Lucas Figueiredo/CBF
Seleção brasileira enfrentou a Bolívia em março e tem cinco amistosos antes da Copa do Mundo pela frente Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Gabriel Carneiro e Igor Siqueira

Do UOL, em São Paulo e Rio de Janeiro

28/04/2022 04h00

Quase um time inteiro de jogadores frequentes da seleção brasileira no ciclo para a Copa do Mundo do Qatar esteve em campo nesta semana para os jogos de ida das semifinais da Liga dos Campeões da Europa.

Manchester City 4 x 3 Real Madrid e Liverpool 2 x 0 Villarreal tiveram sete brasileiros bem conceituados na avaliação de Tite em campo, todos como titulares. Casemiro, que é titular da seleção, ficou no banco do Real porque está voltando de lesão — senão, seriam oito.

Assistentes de Tite acompanharam presencialmente os dois jogos e voltam ao Brasil nos próximos dias para compartilhar as informações e observações que podem mexer com os planos da seleção na reta final da preparação para o Mundial. Uma delas diz respeito a um possível teste de escalação que o treinador estuda para os cinco amistosos pré-Copa já agendados pela CBF.

Fabinho e Casemiro juntos

"Fabinho e Casemiro daqui a pouco são uma situação [de escalação], porque não joguei com os dois juntos. Pode ser uma alternativa", disse Tite, ao UOL.

O jeito como Fabinho jogou contra o Villarreal contribui para o plano de Tite de testar a seleção com o jogador do Liverpool ao lado de Casemiro, mas numa função mais adiantada do que se acostumou a jogar com a Amarelinha.

Fabinho - Oli Scarff/AFP - Oli Scarff/AFP
Fabinho desafia a marcação do Villarreal em jogo do Liverpool pela Liga dos Campeões
Imagem: Oli Scarff/AFP

Na prática, Fabinho foi um segundo volante na vitória de ontem (27), quando o Liverpool dominou a posse de bola em 73% do tempo e jogou naturalmente mais adiantado. Em campo, os comportamentos do brasileiro sem bola traduzem conceitos também usados na seleção: é ele o principal responsável pelas dinâmicas que fazem o time recuperar rápido a posse, antecipando movimentos e fechando espaços para o adversário ao mesmo tempo em que se prepara para manter a bola no ataque graças ao posicionamento do corpo. É o que Tite e sua comissão chamam de "atacar marcando".

Na seleção, é a função de Fred, Bruno Guimarães ou Gérson, entre os jogadores recentemente testados. Fabinho pode executar e Tite quer fazer esse teste para algumas situações específicas. Em entrevista à TNT Sports, o jogador do Liverpool disse que não vê problemas em ser dupla de Casemiro.

Fabinho e Casemiro - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Fabinho e Casemiro disputam vaga na seleção. Isso pode mudar no futuro
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

"Dá. Eu acho que já joguei um ou dois jogos com o Casemiro. A gente se entende bem. Somos dois jogadores de qualidade e isso ajuda muito. Já disse em várias oportunidades que posso jogar com Casemiro, Fred ou o Bruno Guimarães, que foi com quem joguei nas últimas atuações. Eu quero sempre estar bem, mostrando que eu mereço o meu lugar na seleção, e estar preparado. A gente não sabe o que pode acontecer, o treinador pode ter algo na cabeça. Então, quero jogar, independentemente com quem seja."

O que muda entre os atacantes?

Os atacantes brasileiros envolvidos na Champions são os responsáveis por outra boa notícia para a seleção. Em um post exagerado, o jornal espanhol "Ás" colocou Vini Jr diante de um espelho que refletia a imagem de Pelé. Ainda não é para tanto, mas o atacante do Real Madrid parece mostrar repertório mais elevado à medida que a exigência aumenta. A sagacidade para tirar da cartola o movimento para driblar Fernandinho se uniu à explosão do arranque e à tranquilidade na conclusão. Um golaço.

Rodrygo, por sua vez, teve um jogo discreto, mas vem em uma evolução pelo clube. Na fase passada da Champions (quartas de final), fez um gol crucial para manter o Real Madrid vivo diante do Chelsea.

Como um todo, Vini já tinha feito jogos melhores pelo Real Madrid. Mas é esse brilho, essa capacidade de improvisação e a confiança de tentar coisas diferentes, mesmo em situações adversas, que trazem um componente interessantíssimo para a seleção (e qualquer time do mundo). Hoje, ele é titular indiscutível na amarelinha.

Vinicius - Paul Ellis/AFP - Paul Ellis/AFP
Vini Jr comemora seu gol, o segundo do Real Madrid contra o Manchester City na terça (26)
Imagem: Paul Ellis/AFP

No Real Madrid, ter um parceiro na fase atual de Benzema também ajuda muito nas combinações ofensivas. É esse camisa 9 que Tite ainda busca na seleção e que Gabriel Jesus, no conjunto da obra de um fim de semana goleador, pode oferecer, caso a boa fase se consolide. Na Champions, ele deixou sua marca, jogando de forma centralizada na frente e com oportunismo. O gol sobre o Real Madrid veio depois de um fim de semana mágico no qual balançou as redes quatro vezes e deu uma assistência nos 5 a 1 sobre o Watford pelo Inglês.

Jesus ficou fora da convocação passada da seleção. Tite testou Richarlison como centroavante e também uma formação que tinha Neymar e Paquetá centralizados. A briga direta por vagas na frente ainda tem Matheus Cunha, Firmino (reserva no Liverpool), Gabigol e até Pedro (que aparece em pré-listas nas datas Fifa, mas ainda não passou disso).

Problema na zaga

Militão - Paul Ellis/AFP - Paul Ellis/AFP
Éder Militão marca Gabriel Jesus durante Manchester City x Real Madrid pela Liga dos Campeões
Imagem: Paul Ellis/AFP

Quem não teve uma apresentação tão inspirada foi Éder Militão. Além de ter sofrido com Gabriel Jesus, também teve muita dificuldade para marcar Mahrez. A análise da imprensa espanhola foi muito negativa. O "Marca" classificou como "sua pior noite em muito tempo", ressaltando que os erros do brasileiro "eram um foco constante de problemas".

Até pela concorrência, é bem provável que a atuação ruim seja algo isolado na avaliação final que vai decidir quem vai para a Copa. A questão é que, para a titularidade, Militão hoje está atrás de Marquinhos e Thiago Silva.

Até goleiros observados

Ederson - Paul Ellis/AFP - Paul Ellis/AFP
Ederson entre a fumaça da torcida do Manchester City durante jogo contra o Real Madrid
Imagem: Paul Ellis/AFP

Alisson e Ederson foram titulares de Liverpool e Manchester City nos desafios de ida da Champions League e atestaram mais uma vez o alto nível. Ou quase isso, porque o Villarreal simplesmente não acertou finalizações ao longo da partida, então Alisson não foi requisitado na sua função original. Com a bola no pé, ajudou na saída com 100% de precisão nos passes em 23 participações.

A situação de Ederson foi mais desafiadora. O Real Madrid do inspirado Benzema chutou cinco vezes no gol, ele fez duas defesas consideradas difíceis pelas estatísticas oficiais e sofreu três gols. Nenhum deles pode ser considerado como grande falha.

Alisson e Ederson são nomes quase garantidos na Copa do Mundo, com preferência para o primeiro como titular durante o ciclo: 23 contra 16 jogos. Weverton, do Palmeiras, completa a lista. Em caso de problemas, Everson (Atlético-MG) parece hoje o mais bem cotado.