Torcedor que denunciou racismo na 3ª diz que Corinthians o tratou como lixo
Uma das vítimas do argentino que imitou macaco em direção à torcida corintiana na última terça-feira (26), o auxiliar de cozinha Felipe Nascimento Palma Cruz, de 23 anos, reclamou que não teve nenhum respaldo do Corinthians e que se sentiu "tratado como lixo" pelo clube do coração. O caso aconteceu na Arena Neo Química, durante a vitória corintiana por 2 a 0 em cima do Boca Juniors em jogo válido pela Copa Libertadores.
"Cadê que o Corinthians veio falar comigo. Eu não quero atenção, não quero que venham me pedir desculpa. Mas eu queria ter tido pelo menos um respaldo na hora: 'Um advogado aqui para vocês, se vocês precisarem'. Não deram nem água para gente. Me senti tratado que nem um lixo", disse em entrevista ao "Fala, Brasil", da TV Record.
Questionado pelo UOL, o Corinthians informou que acompanhou todas as etapas do procedimento e que o advogado enviado pelo clube à delegacia entendeu que os torcedores "não necessitavam de apoio jurídico — uma vez que eram testemunhas, e não partes acusadas" (leia abaixo a íntegra da nota do Corinthians).
Segundo a reportagem da Record, Cruz era o único negro do grupo que se apresentou aos policiais para prestar queixa contra o argentino Leonardo Ponzo. Cruz e Pozo foram conduzidos para um posto policial dentro do estádio, e ficaram próximos um ao outro.
"Ele começou a falar um espanhol enrolado, que eu não estava entendendo. Falando 'não fui eu, não fiz isso'. Só que a imagem é clara".
Depois, eles foram levados para uma delegacia, onde Pozo foi enquadrado no crime de injúria racial, com fiança estabelecida em R$ 3 mil. Segundo a reportagem, o argentino não tinha dinheiro para pagar e foi ajudado pelo Consulado da Argentina, que quitou o valor alegando "questões humanitárias e de amparo a um cidadão fora de seu pais".
Depois de ser liberado, Pozo debochou, pelas redes sociais, da detenção no Brasil. Ele compartilhou no Instagram a publicação de um amigo em que mostra uma foto dos dois com a legenda "Acá no paso nada" (Aqui não aconteceu nada), antes de um emoji de macaco.
"Eu sabia que assim que ele fosse liberado, ele ia tirar sarro da gente. Ele deve ter ido embora e falado 'que otário, estou indo embora, aproveitei meu jogo, causei um pouco. Ele não vai passar pelo perrengue que a gente vai passar", disse Cruz.
"Ninguém é melhor do que ninguém. Não é porque ele é branco e eu sou negro que sou menos cidadão que ele, tenho menos direito do que ele. Mas enquanto não mudar, é chover no molhado", finalizou Cruz.
Leia o comunicado do Corinthians na íntegra:
A respeito da operação realizada na última 3ª feira (26) em caso de injúria racial cometida por torcedor do Boca Juniors na Neo Química Arena, o Sport Club Corinthians Paulista esclarece que:
1) O Corinthians acompanhou e monitorou em tempo real toda a situação junto ao comandante do policiamento do jogo. O clube tinha conhecimento de tudo que estava sendo feito junto aos torcedores do Corinthians que, por iniciativa própria, decidiram ajudar e prestar queixa
2) O Corinthians enviou um advogado ao Jecrim (Juizado Especial Criminal) da Neo Química Arena no momento da ocorrência. Naquele momento, segundo informações da PM, os torcedores acompanhavam a partida na beira do campo enquanto os trâmites necessários eram encaminhados
3) O advogado do Corinthians verificou que os procedimentos eram conduzidos pela Polícia Militar e que as testemunhas não necessitavam de apoio jurídico - uma vez que eram testemunhas, e não partes acusadas
4) O prosseguimento do processo foi conduzido pela Polícia Militar. O Corinthians continuou acompanhando os movimentos, em um trabalho conjunto com a PM. Vale ressaltar que o sistema de monitoramento da Neo Química Arena permitiu a identificação do torcedor argentino
5) Posteriormente, um terceiro torcedor do Corinthians se apresentou e se voluntariou para também ser testemunha. Todos foram, então, ao Departamento de Operações Policiais Estratégicas - este terceiro torcedor, em veículo próprio
6) Os torcedores receberam todo o amparo ao longo da operação, que o Corinthians acompanhou até o fim, já na madrugada de quarta-feira (27), em contato constante com a PM. Os dois torcedores que primeiro fizeram a denúncia foram levados às suas residências pela Polícia Militar
7) O Corinthians lamenta que as reportagens já veiculadas sobre o assunto não tenham procurado o clube sobre tudo que foi e será feito com respeito aos três torcedores.
Como Corinthians e Boca se manifestaram no dia?
Corinthians e Boca repudiaram os gestos racistas de Leonardo Pozo. "O Corinthians repudia todo e qualquer ato de racismo e discriminação e agradece à Polícia Militar pela eficiência no apoio prestado. Esse fato só reforça a importância de nossa luta por um futebol sem ódio", informou o Corinthians.
Respondendo a uma publicação do Corinthians nas redes sociais, o Boca informou que vai estudar uma sanção ao torcedor.
"O Club Atlético Boca Juniors expressa seu repúdio absoluto aos gestos racistas e xenófobos de um torcedor em relação aos torcedores do Corinthians. Na próxima reunião do Conselho de Administração serão analisadas as medidas a implementar e as eventuais sanções a aplicar".
- Assista à entrevista com o torcedor na Live do Danilo e do Vitão:
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