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Petraglia fala em emboscada, eleva a voz e gera atrito na reunião da liga

Mario Celso Petraglia - Heuler Andrey/AGIF
Mario Celso Petraglia Imagem: Heuler Andrey/AGIF

Danilo Lavieri, Igor Siqueira e Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo e Rio de Janeiro

03/05/2022 15h54

A reunião que culminou com a assinatura de oito clubes como integrantes da liga brasileira teve momentos de temperatura alta. A discordância com itens colocados em anexo ao estatuto fizeram o tom da discussão se elevar, principalmente por parte do presidente do Athletico, Mario Celso Petraglia.

Figura conhecida por não medir palavras em reuniões, o cartola paranaense aumentou o tom de voz e falou que estava diante de uma tentativa de emboscada por parte de alguns clubes, em uma referência clara aos signatários principais: cinco paulistas (Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos e Red Bull Bragantino) e o Flamengo. Petraglia disse ainda que não seria forçado a assinar documento algum.

O cartola do Athletico alegou após a reunião que foi surpreendido com a pauta do encontro — a assinatura do documento de constituição da liga, agora batizada de Libra. No entanto, pessoas ligadas à organização da conversa em um hotel de São Paulo disseram que o item estava especificado no convite distribuído anteriormente aos dirigentes.

O tom do debate ganhou proporções maiores por causa do anexo que trata da divisão de dinheiro entre os membros da liga. O que era para ser uma conversa para ajustes no estatuto se transformou em mais uma queda de braço sobre as receitas futuras.

Nesse posicionamento, Petraglia está do lado do movimento do Forte Futebol, com 10 clubes da Série A que não assinaram o documento ainda. O Fortaleza é outro clube que fez menção a uma decepção com o desfecho de momento do debate.

"A vaidade dos clubes com grandes torcidas é imensa. Eles querem ser os donos do futebol brasileiro", criticou Petraglia, incomodado até com a presença do presidente da Federação Paulista e um dos vices da CBF, Reinaldo Carneiro Bastos.

O UOL apurou que, na reunião, o dirigente do Athletico chegou a ter uma discussão mais acalorada com o advogado Flavio Zveiter, do grupo Codajas Sports Kapital, um dos idealizadores da atual formatação da liga brasileira. Uma frase proferida por Petraglia é que ele está há mais de 20 anos participando de reuniões que discutiram embriões de liga ou movimentos similares. Em pé, afirmou que ninguém ia ensinar ele a fazer Liga.

Zveiter respondeu está na hora de o dirigente deixar que outras pessoas também tentem colocar esse projeto adiante. Em seguida, ele fez até um elogio a Petraglia ao dizer que seus movimentos lá atrás tinham ajudado a chegar ao momento atual da Liga.

Nos dois blocos de clubes, ninguém se surpreende com o comportamento de Petraglia. Nadar contra a corrente não é novidade, vide a postura de não assinar com a Globo para negociação dos direitos de transmissão no pay-per-view — o Athletico foi quem primeiro bateu na tecla de usar a prerrogativa da Lei do Mandante.

Há quem se incomode com um comportamento de oposição quase constante, na visão de alguns. Vem à memória um episódio relativamente recente. Em julho do ano passado, uma reunião virtual que também tratou sobre a liga teve ameaça do cartola do Athletico a Guilherme Bellintani, presidente do Bahia:

"Se fosse presencial, já tinha acabado porque eu teria metido a mão na sua cara".

O UOL conversou com Petraglia posteriormente naquela ocasião e o dirigente explicou:

"Há divergências naturais do processo. Tudo isso é verdade. Aconteceu. É o meu jeito. Eu não sou politicamente correto".

Semana que vem, na CBF, há um novo encontro marcado. A expectativa é que os clubes resolvam questões internas e tirem dúvidas para quem mais gente assine a adesão à liga.