Como o Brasil vai compensar falta de jogos com europeus em busca do hexa
Classificação e Jogos
Tite jamais tinha enfrentado europeus pela seleção brasileira quando chegou ao estádio de Wembley, em novembro de 2017, para o jogo contra a Inglaterra. Ali, naquele empate em 0 a 0, veio o alerta de que ele precisava corrigir alguma coisa no ataque do Brasil pensando na Copa do Mundo. Em campos russos, o que ele faria contra uma linha defensiva com cinco jogadores? O tempo passou e hoje ele se prepara para o segundo Mundial com uma diferença: se aquele jogo contra a Inglaterra foi um dos poucos contra times de ponta do futebol europeu que o Brasil enfrentou no ciclo para o Mundial de 2018, na preparação atual a seleção vai à Copa sem jogar com nenhuma seleção da elite do Velho Continente.
Desde a Copa do Mundo da Rússia, a seleção completará uma jornada de quase 50 jogos. E só conseguiu enfrentar um adversário europeu — a República Tcheca, há mais de dois anos. Como comparação, antes de estrear na Copa de 2018, o Brasil enfrentou oito seleções do continente, três delas campeãs do mundo (Inglaterra, França e Alemanha), além da Croácia, que seria finalista em 2018 —três desses jogos, incluindo contra a França, foram ainda na Era Dunga, antes de Tite assumir a equipe.
Restam cinco jogos até a Copa. Em nenhum deles haverá europeus. Nesse contexto, surgem críticas à CBF e dúvidas a respeito do real nível de desempenho da seleção. Afinal, os europeus venceram as últimas quatro Copas e dois times do grupo do Brasil são filiados à Uefa. Tite e a comissão tentam amenizar os efeitos dessa brecha na agenda da seleção.
A saída mais recente, segundo apurou o UOL, é o envio de quatro observadores técnicos para a Europa em junho. A ideia é que os ex-jogadores Ricardo Gomes e Marcinho, em dupla com analistas de desempenho de clubes brasileiros a serviço da CBF, acompanhem presencialmente os oito jogos previstos nas agendas das seleções de Sérvia e Suíça. Junto com Camarões, elas formam o Grupo G da Copa do Mundo com o Brasil.
Sérvia e Suíça jogam quatro vezes cada nos dias 2, 5, 9 e 12 de junho pela terceira edição da Liga das Nações.
Lista de observações da seleção em junho:
Marcinho e Gabriel de Oliveira (Fluminense) - Grupo 2 da Liga A
- 2/6 - República Tcheca x Suíça (Estádio Sinobo, em Praga)
- 5/6 - Portugal x Suíça (Estádio José Alvalade, em Lisboa)
- 9/6 - Suíça x Espanha (Estádio de Genève, em Genebra)
- 12/6 - Suíça x Portugal (Estádio de Genève, em Genebra)
Ricardo Gomes e Lucas Oliveira (Palmeiras) - Grupo 4 da Liga B
- 2/6 - Sérvia x Noruega (Estádio Rajko Mitic, em Belgrado)
- 5/6 - Sérvia x Eslovênia (Estádio Rajko Mitic, em Belgrado)
- 9/6 - Suécia x Sérvia (Friends Arena, em Solna)
- 12/6 - Eslovênia x Sérvia (Estádio Stozice, em Liubliana)
Este torneio criado pela Uefa, aliás, é o principal responsável por inviabilizar jogos de seleções da Europa contra o resto do mundo, como por exemplo o Brasil. A Liga das Nações se juntou às Eliminatórias Europeias da Copa do Mundo, à Eurocopa e às Eliminatórias da Eurocopa e criaram uma bolha de enfrentamentos local.
O Tite nos colocou contra a parede pedindo amistosos contra seleções europeias, mas não depende da gente. Eu também quero, o problema é o calendário europeu."
Juninho Paulista, coordenador da seleção brasileira
A seleção tentou um amistoso contra a Inglaterra em junho, mas ouviu que não havia datas. Dos cinco compromissos previstos até a Copa, quatro estão certos: Argentina (duas vezes, sendo uma pelas Eliminatórias), Coreia do Sul e Japão. A lista ainda deve ter o México, em setembro.
Desta forma, o ciclo da Copa do Mundo do Qatar será aquele em que o Brasil enfrentou menos seleções da Europa na história recente — pelo menos desde a preparação para o tetracampeonato mundial, em 1994 (veja o gráfico abaixo).
A esperança é que os amistosos programados tragam respostas para Tite. O treinador tem dito que a seleção não é menos favorita no Qatar por não enfrentar europeus, já que os europeus também não enfrentam sul-americanos e por isso não há referência para análises mais profundas.
Da teoria à prática
O efeito na Copa do Mundo da falta de enfrentamentos contra europeus é imprevisível. E a comissão técnica reconhece isso internamente. O jeito é tentar decifrar o que vem da observação externa e casar o conteúdo com o trabalho junto aos jogadores nos treinos e nas partidas que ainda restam.
Ricardo Gomes e Marcinho já passaram a Tite o relatório do que viram nos jogos que assistiram in loco na data Fifa de março. Entre os europeus observados estiveram Portugal, Holanda, Inglaterra e Alemanha.
No trabalho da comissão técnica, até mesmo as visitas aos selecionáveis nos clubes se tornam uma forma de acompanhar mais de perto o que a elite europeia coloca em campo. Os auxiliares de Tite buscam captar, para além do ambiente do jogo, movimentações ofensivas e defensivas dos jogadores que podem convocar e também dos que, eventualmente, podem enfrentar adiante.
Atualmente, a comissão técnica não trata alguma situação específica de jogo — tal qual fizera com a linha de cinco a partir de 2017 — como um enigma a ser resolvido. O entendimento é que, nos quatro anos desde a Rússia, foi possível trabalhar situações variadas e testar diferentes modelos de seleção. O encaixe mais recente, sem dúvida, é o que tem mais sucesso. E isso vai além dos resultados, chegando a uma formação com pontas jovens, agudos e dribladores.
O foco é trabalhar no que Tite gosta de chamar de três zonas de construção e três zonas de marcação. No tatiquês, os chamados blocos baixo, médio e alto [quando se está sem a bola]. Com a bola, a saída da pressão, transição no meio-campo e criatividade para criar chances lá na frente.
As variações dos jogos recentes das Eliminatórias, sobretudo após a confirmação da vaga na Copa, têm o objetivo de evitar que a seleção chegue engessada ao Qatar e consiga, mesmo sem ter o embate direto com os europeus, se adaptar à situação com a qual lidará. Tite quer levar cartas na manga, sobretudo com jogadores acostumados ao jogo europeu, como a maioria dos convocados recentes.
Para os próximos ciclos, Conmebol e Uefa discutem a entrada dos sul-americanos na Liga das Nações. Mas a solução para esse problema não vai impactar na vida de Tite. Ele tem que resolver tudo isso antes de se despedir da seleção, após a tentativa do hexa.
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