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Alvo de bronca, Wesley conta papo com Abel ao se machucar: 'Ele foi f...'

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, conversa com Wesley em treino na Academia de Futebol - Cesar Greco
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, conversa com Wesley em treino na Academia de Futebol Imagem: Cesar Greco

Diego Iwata Lima

Do UOL, em São Paulo

06/05/2022 04h00

Quem conhece Wesley assegura que ele assimilou e aprendeu com a bronca dada por Abel Ferreira na terça-feira, depois da vitória do Palmeiras sobre o Independiente Petrolero (BOL) pela Copa Libertadores. O jogo já estava 4 a 0 quando o atacante, que acabara de entrar, sem perceber que estava impedido, tocou numa bola que ia ultrapassando a linha e tirou um gol de Zé Rafael. Pouco depois, Murilo fez o quinto do Alviverde.

Parte dessa certeza vem do temperamento de Wesley, que é um cara tranquilo e sabe ouvir direcionamentos necessários. A outra parte vem da confiança e da ótima relação que Abel tem com o camisa 11, ilustrada numa passagem relembrada pelo jogador em entrevista ao UOL Esporte —que foi feita uma semana antes da partida contra os bolivianos.

"Nessa época da recuperação [ainda em 2020], como posso dizer, ele foi f..", revelou Wesley. "Foi tão presente, quase todo dia, ali, conversando comigo, [perguntando] como é que eu estava, dando força", disse.

Wesley se lesionou no primeiro jogo de Abel Ferreira como técnico do Palmeiras, em 5 de novembro, na volta das oitavas da Copa do Brasil de 2020, contra o Red Bull Bragantino. E só foi voltar a jogar em março do ano seguinte, justamente no segundo jogo da final da mesma competição, contra o Grêmio.

"Ele mostrou que confiava em mim. Tanto que na minha volta, com uma semana de treino ele me põe para jogar na final. Foi surpresa para mim. Eu fui convocado para o jogo, mas não sabia que iria jogar de titular, então foi um voto de confiança que ele teve lá e no final acabou dando tudo certo. Eu pude retribuir essa confiança consagrando com um gol e sendo participantes direto do título", relembra-se.

Wesley, do Palmeiras - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Wesley festeja o segundo gol do Palmeiras contra o Guarani
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Wesley conta que a chegada de Abel trouxe aos jogadores do Palmeiras uma necessidade de aprimorar os conhecimentos táticos. E que o sucesso do time com o português tem muito a ver com o rápido entendimento da proposta de jogo dele.

"A gente entendeu as ideias rápido e procurou buscar conhecimentos. Era uma coisa nova para a gente, um treinador jovem vindo da Europa. O sonho de qualquer jogador é atuar na Europa, e a gente tem uma parte da Europa aqui no Palmeiras. O Abel proporcionou isso para a gente", diz ele.

"A gente procurou se dedicar mais ainda para buscar esses conhecimentos para estar mais próximo de chegar e disputar de igual para igual com equipes de alto patamar da Europa. Como foi no final do Mundial, que a gente conseguiu jogar de igual para igual com o Chelsea. A gente procurou e tentou ir mais a fundo para poder receber esses conhecimentos", diz.

Sobre a final do Mundial de Clubes, aliás, Wesley acredita que faltou muito pouco para o time sair campeão. E que uma das coisas que faltou ao Palmeiras para chegar ainda melhor na disputa em Abu Dhabi foi justamente o hábito de enfrentar times de nível mais alto.

"A minha percepção é que a gente não está muito longe [da qualidade do Chelsea]. Eu acredito que eu o diferencial que a gente não teve para esse jogo foi a competitividade em alto nível durante o ano inteiro. Na Premier League, o nível é alto sempre. Aqui, a gente tem poucos jogos de alto nível, como contra o Flamengo, Atlético-MG", diz.

"A gente achou [que ia conseguir a virada]. A gente fez o gol e teve outra chance logo após o gol, se eu não me engano. Tivemos ainda uma ou duas. Então, a gente sentiu o momento e foi para cima. O gol, infelizmente, não saiu. Mas a percepção é essa: a gente jogou de igual para igual com o atual campeão da Europa", diz.

Confiança de Luxemburgo e balde de água gelada

Wesley foi um pedido de Vanderlei Luxemburgo. Cria da base, ele jogou a Série B de 2019 emprestado ao Vitória-BA. Mas Luxa o quis de volta. E na sua chegada, disse a ele que tivesse paciência, que ele seria usado, pois era um jogador driblador, e que ele precisava de alguém assim. Wesley cresceu de produção, e mesmo quando Vanderlei saiu, seguiu no time com o interino Cebola. Quando se lesionou, Wesley vivia um momento excelente.

"[A lesão] não foi nem balde de água fria, foi de água quase congelada. Foi um momento difícil sim, logo chegando o treinador novo, todo mundo procurando seu espaço. Então, essa lesão veio com um balde de água gelada em cima, quem tava comigo nesse momento sabe o que que a gente passou", revela.

"A palavra que eu mais escutei foi resiliência. Que o que aconteceu era para acontecer para poder focar na recuperação e voltar melhor ainda e hoje eu me sinto assim", disse ele. No dia em que concedeu a entrevista, Wesley recebeu da presidente Leila Pereira uma placa comemorativa pelos seus 100 jogos pelo time profissional do clube. Algo que ele comemora, mas que ainda encara com certo espanto.

"Esperar, a gente não esperava, né? Mas a gente sonhava e com essa marca centenária com a camisa do Palmeiras, uma camisa pesada", diz ele, que já esteve na mira do Seattle Sounders (EUA), atual campeão da Concachampions, a Liga dos Campeões da Concacaf.

Wesley, do Palmeiras, na Libertadores - Franklin Jacome/Getty Images - Franklin Jacome/Getty Images
Wesley, do Palmeiras, disputa bola com Bryan Carabali, do Emelec, pela Copa Libertadores
Imagem: Franklin Jacome/Getty Images

Base é a cereja do bolo

Wesley faz parte de uma leva de garotos que transformou a cara do elenco do Palmeiras. Junto com Gabriel Veron, Danilo, Patrick de Paula, Gabriel Menino, Lucas Esteves, aterrissou na Academia de Futebol para rejuvenescer o elenco e mudar a cara de um grupo repleto de jogadores rodados. Junto com eles, não por acaso, vieram conquistas.

"A gente costuma brincar até que [a base] foi a cereja do bolo que faltava né? A gente sabe que o Palmeiras teve, em anos anteriores, um elenco talvez bem mais qualificado e não conseguiram conquistar tanto quanto esse atual. Nesses dois anos que a gente conseguiu chegar, conseguimos agregar com quem já estava, para colaborar diretamente com todos esses títulos", diz.

Série B e a quase ida para a Argentina

Jogar a Série B, na visão de Wesley, foi seu pulo do gato para chegar bem ao Palmeiras em 2020.

"Eu costumava ouvir que jogar a Série B era difícil, então eu indo lá sentindo aquilo, os jogos mais pegados, com mais catimba, contra times menores foi um aprendizado. Acho que o fator principal para o Palmeiras olhar com carinho novamente e querer contar comigo", diz.

Pedir Wesley, aliás, foi algo que o Palmeiras já fizera em 2016, pensando em seu time sub-17. Com a Jacuipense-BA, Wesley disputou um torneio na Argentina e despertou o interesse do San Lorenzo (ARG). Mas, no meio do caminho, estava o Alviverde.

"Eu me destaquei. Foi um dos campeonatos que eu tive mais destaque. Acabei sendo o artilheiro da competição. Quando a gente volta da competição, o presidente do time me fala que o Palmeiras queria contar comigo para uma avaliação. Aí eu em casa, feliz, perguntei quando era. E já era no dia seguinte. Foi correria", conta.

"Acabou que eu acabei desembarcando aqui. Foi a escolha certa, eu acho, né?", finaliza o jogador.

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