Agnaldo, campeão da Liberta pelo Palmeiras: 'Sempre incomodei a Parmalat'
Agnaldo Liz era um bom zagueiro. Em entrevista ao UOL, ele lembra que foi titular de grandes times, como Grêmio e Palmeiras, e chegou perto de fazer parte do grupo que foi tetracampeão da Copa do Mundo de 1994, quando o técnico Carlos Alberto Parreira teve uma série de problemas com os zagueiros convocados. Mesmo assim, nem todos gostavam dele. Hoje técnico, ele se lembra de um movimento constante quando jogava no Verdão: era só ele virar titular que a diretoria arrumava uma desculpa para buscar um novo zagueiro.
Eu era jogador do Palmeiras, e não da Parmalat. E sempre incomodei a Parmalat, na realidade. Joguei por méritos, eu tinha um diferencial, consegui ser titular (...). O Felipão e eu tínhamos trabalhado juntos no Grêmio, ele sabia que eu era uma referência muito grande, ajudava na questão tática, todos os jogadores me respeitavam, botava mesmo os caras na condição deles. Quando eu ganhava a posição de titular, o Palmeiras [gestão Parmalat] sempre criava um fato novo e trazia um zagueiro para ser titular e logo em seguida eu saia da equipe. Eu não entendia".
Hoje, Agnaldo é técnico. Estava no Altos, do Piauí, que enfrentou o Flamengo no último fim de semana, mas acabou demitido. Seu sonho é dirigir o Palmeiras e ele diz que isso não está tão distante: "Não tenha dúvida, acredito muito. Estou bem próximo de dar um salto na minha carreira, fazer um bom trabalho. Estou me preparando para trabalhar em qualquer time. O meu trabalho é excelente, igual a qualquer outro treinador. Estou familiarizado com tudo, já trabalhei num grande, no Vitória-BA, e sei qual é o comportamento de um treinador de Série A, de alto nível. Então, estou preparado. Mas se não acontecer, não vou ser frustrado, segue a vida". Confira os principais trechos da entrevista:
Palmeiras de Abel tem muito de Felipão
Apesar de os jogadores serem outros, de o esquema tático ser diferente e das posturas em campo dispares, Agnaldo vê, guardadas as devidas proporções, semelhanças entre os trabalhos de Abel Ferreira e Luiz Felipe Scolari no comando do Palmeiras, principalmente pela união do grupo. "Lembra na condução do grupo, do carinho que o grupo tem com ele. A gente sente de fora. O Abel tem o comando do grupo e isso ajuda muito, ele tem um orçamento fantástico", comentou o ex-atleta.
"O Abel Ferreira é um cara diferenciado, conduz bem o grupo, o grupo o abraçou, teve o resultado. O Palmeiras tem uma característica, que já era acostumado com o Felipão. Ele [Abel] é um cara que é eficiente, não pensa em jogar bonito, pensa na eficiência do jogo. O [atual] elenco poderia jogar diferente? Sim, mas não quer dizer que teria resultado. O Abel está sendo eficiente no trabalho dele, não tem contestação e o futebol bom é aquele que vence", acrescentou Agnaldo, hoje aos 53 anos.
Em fevereiro, ao conquistar a Recopa Sul-Americana, Abel alcançou a terceira conquista internacional pelo Verdão (somando as Copas Libertadores de 2020 e 2021), superando Felipão, com duas (Mercosul de 1998 e Libertadores de 1999). Em alta no futebol brasileiro, o português nunca escondeu o seu carinho pelo comandante gaúcho, que recentemente fechou contrato com o Athletico-PR.
Libertadores virou rotina, e Mundial agora é o obsessão
Depois de conquistar dois títulos seguidos da Libertadores, o Palmeiras precisa agora buscar o título do Mundial de Clubes, é o que deseja Agnaldo Liz, torcedor assumido do Verdão. "Não adianta mais ganhar a Libertadores, já virou normal. Era obsessão e agora virou realidade. A obsessão agora é o Mundial, e isso está tendo um peso muito grande", disse o ex-zagueiro, vice-campeão do mundo pelo clube em 1999, quando o time paulista foi superado pelo Manchester United.
"Eu perdi o Mundial, estava lá e senti muito. Falei que não sabia se iria voltar mais disputar [o torneio] como jogador, até pela idade. Mas vou voltar a disputar um outro Mundial, não sei se com o Palmeiras ou com outro time, mas de preferência com o Palmeiras. Aquilo [derrota para o Manchester] me frustrou", disse, recordando o erro do assistente ao assinalar impedimento no gol de Alex, o que empataria a partida.
"O jogo estava na nossa mão, jogamos melhor. Se tivesse VAR, tchau. Estava 1 a 0 quando o Alex fez aquele gol, seria o empate e as coisas na partida poderiam mudar para o nosso lado. Isso me frustrou bastante", esbravejou o ex-zagueiro, que fez 106 jogos e três gols com a camisa palmeirense, além de ter conquistado cinco títulos.
Outros trechos da entrevista com Agnaldo Liz
Injustiça com os treinadores brasileiros
"Os treinadores estão vindo de fora, estão tendo oportunidade, como nós já tivemos. Nossos treinadores já tiveram oportunidade de trabalhar fora do país, Arábia, China, Japão... Tudo é treinador, não diferencia de qual país. Penso que um jornalista é jornalista em qualquer lugar do mundo, independentemente da nossa nacionalidade. Temos aqui muitos treinadores muito bons, porque convivi com coisas diferentes que os outros não convivem. Agora os gringos estão chegando e estão vendo como é a diferença de calendário, distância, competitividade, não é só a competição nacional, são muitas competições. Tem que ter igualdade para todos, não generalizar e dizer que os nossos treinadores não são estudiosos. Dizer que os nossos treinadores, os medalhões estão ultrapassados é mentira. Os caras estão atualizados e têm comissão técnica, staff por trás. Hoje, não é só o treinador, é a equipe do treinador, ele não trabalha mais sozinho."
Relação com Felipão no Palmeiras
"O Felipão é um grande amigo, um cara fantástico. Ele tem uma importância muito grande na minha carreira. Não o defino como um grande estrategista, mas como um grande motivador. Ele é um grande conhecedor dos atletas amigos, companheiros, de tirar o máximo do atleta. O Felipão consegue isso na sua simplicidade e liderança."
Perseguição a Luxa
"O [Vanderlei] Luxemburgo passou pela minha carreira e foi muito importante como estrategista, um cara fantástico que eu respeito até hoje. Estão maltratando muito o Luxemburgo. Ele é um grande cara, um grande treinador. O Oswaldo de Oliveira também é um cara fantástico, que me ajudou. Tenho um pouco de todos os treinadores [com quem trabalhou], fui extraindo, o que eu sempre fiz na minha carreira. Eu vou vendo o que eu tenho para extrair de qualquer momento que eu estou, ou seja, num curso, no trabalho, no estágio que eu participei. Costumo dizer que eu não sou melhor nem pior do que ninguém, sou um cara diferente, sempre fui assim no futebol."
Saiu por não confiar no novo treinador
"O Marco Aurélio [Moreira, treinador] chegou [em julho de 2000] e trouxe três zagueiros na oportunidade. Começou o Brasileiro e fiquei cinco jogos sem ir nem para o banco de reservas. Recebi a proposta do Fluminense e aí eu comecei a jogar muito bem no Palmeiras. O Marco Aurélio veio conversar comigo e pediu pra confiar nele. Inclusive, queria que eu jogasse a sexta partida [o que inviabilizaria a transferência ao time carioca]. Só que eu não confiei. Ele me deu motivos. Pedi para ir embora do Palmeiras. O Mustafá [Contursi, então presidente] não queria que eu fosse. Eu dei a minha palavra e assinei um pré-contrato. Mas eu tenho um arrependimento: poderia ter encerrado a minha carreira no Palmeiras."
Fora do time, deu um jeito para aparecer na foto em 1999
"Eu acompanhei o jogo e nem foi das sociais. Eu dei um jeito de ficar atrás do gol dos pênaltis [na decisão do Palmeiras contra o Deportivo Cali]. Assisti ao jogo inteiro de lá, já o Rivarola, não. Acho que o Rivarola foi o único que não saiu na foto de campeão da Libertadores de 99. Eu falei que não iria ficar fora da foto. O clube a ser batido era o River Plate, e eu joguei [pela semifinal], fui titular. Eu dei um jeito para sair na foto (risos)."
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