Quase engenheiro, Piquerez do Palmeiras trocou leitura por cubo mágico
Joaquín Piquerez, 23, teve de fazer uma opção quando concluiu o ensino médio em Montevidéu, no Uruguai. Ou seguiria no futebol, esporte no qual demonstrava aptidão e talento, aliados a uma boa estatura e muita força física. Ou cursava engenharia, calcado em sua facilidade para os cálculos e sua paixão pelos números, em especial nas aulas de física, durante seu período escolar. Venceu aquela que era sua companheira desde que começou a andar: a bola.
"Eu fui conversar [na faculdade]. Mas era muito rígido, eu não ia poder faltar por causa dos jogos e, então, optei por jogar futebol", contou o uruguaio, em entrevista ao UOL Esporte. "Mas eu teria gostado de seguir estudando e me tornado um engenheiro também", acredita.
Piquerez está no Palmeiras desde agosto de 2021, vindo do Peñarol (URU). Chegou ao clube justamente para substituir o compatriota Matias Viña, negociado com a Roma (ITA). "Ele me disse que o Palmeiras era o maior clube do Brasil e da América. Inclusive, em termos de estrutura, ele falou que não tem diferença para a Roma", contou.
No Brasil, em menos de um ano, ganhou uma Copa Libertadores, um Campeonato Paulista e a Recopa Sul-Americana. E também conquistou amizades. Com os demais estrangeiros do time, tem em comum o idioma e o apreço pelo mate, aqui chamado de chimarrão, que os acaba unindo. E com Gustavo Scarpa, passou a partilhar, depois de um tempo, a amizade e o gosto pelo cubo mágico.
De tão interessado pelo quebra-cabeça criado nos anos 1970, Piquerez até deixou de lado o jogo de xadrez e a leitura, seus passatempos preferidos.
"Agora estou estudando cubo mágico. Mas eu li muitos livros ligados à parte psicológica, como "O Segredo" e "Os quatro compromissos". Lii também a biografia do Diego Godín [zagueiro uruguaio, atualmente jogador do Atlético-MG] e do [jogador espanhol Andrés] Iniesta", conta.
"O Scarpa fala que estou bem [no cubo], que sou o segundo melhor depois dele. Consigo montar em menos de um minuto", conta Piquerez. "O Mayke é bom, também. E o pior é o Kuscevic. A gente fica enchendo o saco dele. O chileno não consegue, não tem jeito", brinca o uruguaio, evocando uma rivalidade de séculos entre os dois povos sul-americanos. "Precisamos fazer um campeonato, para ver quem é o melhor aluno do Scarpa", brinca.
Falando mais de Scarpa, não há palmeirense que se esqueça das brincadeiras que o meia fez com Piquerez após a conquista da Libertadores, quando imitava a voz do lateral, rouca e hidratada com cerveja, comemorando, de cima de um trio elétrico, a conquista da Libertadores pelo Palmeiras justamente em seu país natal. Ou das brincadeiras que faz, dizendo que o chileno Kuscevic é argentino, ou que Piquerez é boliviano.
"Eu acho que o Scarpa não queria ser brasileiro, ele queria ser gringo", brinca Piquerez.
Fã de Ronaldinho Gaúcho e Federer, tem autógrafo de Zidane
Por mais que outras atividades tenham sempre acompanhado a vida de Piquerez, era de se prever que ele seria jogador de futebol. Do momento em que voltava da escola até a hora de dormir, se não estava estudando, ele estava jogando bola. Tinha até um pôster do Ronaldinho Gaúcho no seu quarto.
Ronaldinho, ele não teve chance de conhecer. Mas quando tinha dez anos, em 2010, disputou um mundialito de futebol infantil na África do Sul e conheceu Zinedine Zidane, com quem tirou uma foto e pediu um autógrafo. "Ele era o padrinho do campeonato", explicou.
Piquerez conta que não houve uma conversa específica em que ele disse aos pais que seria jogador, as coisas foram simplesmente acontecendo. Em paralelo, ele também jogava tênis e tinha talento. Fã de Roger Federer, ele mais uma vez optou pela bola de futebol. "O caminho para ser um tenista profissional era muito mais complicado", diz.
Piquerez não conhece São Paulo muito bem, e teve de ceder ao churrasco argentino
Com um calendário muito mais complicado que o uruguaio, no qual os times jogam apenas uma vez por semana, Piquerez não teve muita chance de conhecer São Paulo. Seus programas normalmente são restaurantes, como a churrascaria argentina "348".
Não é tão bom quanto o churrasco uruguaio, mas é bom", diz ele, que costuma ter a companhia de Kuscevic nesses passeios gastronômicos.
Piquerez mora sozinho em São Paulo. Mas está em constante contato com seus familiares. Os Piquerez têm um grupo de Whatsapp, no qual, às vezes, comentam os jogos do filho, a que assistem religiosamente em Punta del Leste, onde residem atualmente.
"Eles não falam de todos os jogos porque tem um jogo a cada três dias, e eles nem eu queremos ficar falando tanto de futebol", diz ele. "Mas o contato com a família é muito importante para mim". Enquanto concedia entrevista ao UOL Esporte, inclusive, Daniel Piquerez, pai do jogador, chegou ao apartamento do lateral.
"Se dependesse do meu pai, ele queria ser brasileiro, gostaria de vir para cá toda hora. Eu é que não deixo", conta Piquerez. O palmeirense que esteve em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, muito provavelmente viu o simpático Daniel e seus 1,90 m de altura pulando com torcedores antes da final do Mundial de Clubes, contra o Chelsea, em fevereiro.
Um Mundial depois do outro
O Mundial, aliás, é algo que ainda ronda os pensamentos de Piquerez. Como a maior parte dos jogadores e torcedores alviverdes, o lateral viu a vitória de perto depois que o Palmeiras empatou o jogo com os ingleses com cobrança de pênalti de Raphael Veiga.
"Faltando três minutos para para os pênaltis, aconteceu o pênalti com o Luan. Se fosse para os pênaltis, eu acho que aí seria na sorte, de verdade. Poderia ser para qualquer time. Então, ficamos perto, e é por isso que as dores são ainda maiores", diz. "Mas o nosso objetivo é voltar [ao Mundial] para tentar novamente", diz ele.
Para isso acontecer, uma nova Libertadores precisa ser vencida pelo Palmeiras. E Piquerez confia que o técnico Abel Ferreira vai conseguir equilibrar o elenco para chegar com força às disputas importantes para o time nesta temporada.
Confiar em Abel, aliás, é algo que Piquerez faz de olhos fechados. Como fez em Montevidéu, quando o técnico lhe disse que ele seria titular na final de 2021, contra o Flamengo. Mas não como lateral-esquerdo, e sim como zagueiro.
"Eu nunca tinha jogado como terceiro zagueiro, e fiquei pensando como ia ser. Mas tudo dentro da minha cabeça, não disse nada a ninguém, confiando no que o professor estava dizendo", conta ele, que tem experiência como volante, mas não como beque.
Outro Mundial também ronda a cabeça do jogador, a Copa do Mundo. Convocado com frequência por Óscar Tabárez, com Diego Alonso, que assumiu a seleção uruguaia em dezembro, ele ainda não foi chamado. Mas acredita que o chamado pode vir.
Se tudo sair como Piquerez deseja, serão dois Mundiais seguidos, no fim deste ano.
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