Tiro sai pela culatra, e Jorge Jesus se queima no Flamengo e em Portugal
De volta ao Rio de Janeiro após sua histórica passagem pelo Flamengo, Jorge Jesus veio para a Cidade Maravilhosa para ver e ser visto. Amado pelo torcedor do Fla, o Mister chegou com o objetivo de receber o amor da Nação, mas deixa a cidade com as portas da Gávea fechadas. Ao menos por enquanto.
Ao declarar ao colunista do UOL Esporte Renato Maurício Prado que gostaria de retornar e fixar uma data-limite para a volta, o Mister despertou a ira dos dirigentes rubro-negros e queimou parte de seu capital no clube. Além de deixar o colega Paulo Sousa em uma saia justa, ele também deixou Marcos Braz, vice de futebol, e o diretor Bruno Spindel em posição delicada.
Jesus afirmou que não foi convidado pelo clube em dezembro de 2021, porém a versão rubro-negra é diferente. Nos bastidores, a cúpula afirma ter efetivado o convite, mas se viu em uma sinuca de bico ante a demora e a necessidade de acertar com um novo comandante para a temporada. A contratação do conterrâneo magoou o Mister, que nunca escondeu de pessoas mais próximas ter se sentido traído.
Há uma forte convicção dos principais nomes da cena rubro-negra de que Jesus veio ao Rio apenas para tumultuar o ambiente e dar uma espécie de troco por todo o barulho causado por Braz e Spindel durante a passagem por Lisboa. Esse objetivo, diga-se de passagem, foi cumprido. Em conversas com a reportagem, os cartolas repetiram a palavra "confusão" continuamente.
"Não (convidaram). A conversa foi superficial e em momento algum me fizeram um convite ou, ao menos, me perguntaram se eu queria voltar. E aquele era um momento difícil, pois se eu pedisse demissão do Benfica, teria que pagar uma multa de 10 milhões de euros. Por isso, tinha sugerido que só viajassem para Portugal em final de janeiro, quando a situação seria mais fácil para negociar. Mas quiseram ir em dezembro e a sensação que tenho é que, quando me visitaram, já tinham tomado a decisão de contratar o Paulo Sousa. Foram apenas cumprir uma obrigação social comigo", disse.
Não bastasse o desconforto com antigos parceiros de clube, JJ ainda mexeu no vespeiro da política rubro-negra e ampliou o desgaste. As declarações do treinador foram dadas em evento cujo anfitrião era o ex-presidente Kleber Leite. Desafeto de integrantes da diretoria, Leite nunca escondeu que gostaria de ver o português novamente na Gávea. Ocorre que os dirigentes que estão no poder entendem que o ex-mandatário fez isso apenas como uma maneira de pressionar a gestão e capitalizar com uma eventual volta.
No mundo do futebol, Jorge Jesus também enfrentou contrariedade. Horas após a publicação do material, Hugo Cajuda, empresário que agencia Paulo Sousa e Abel Ferreira, detonou o profissional. Em nota oficial, Cajuda subiu o tom:
"A referida pessoa revela total ausência de sentimentos para com a instituição Flamengo, ao contrário do que apregoa, porque a tentativa de desestabilizar um clube "amigo" desta forma é inaceitável. É um ataque nunca antes visto a colegas de profissão e compatriotas, mas mais do que isso, é um ataque à classe dos treinadores profissionais de futebol, um ataque à ética e à dignidade. Agradecemos os muitos contatos de treinadores e outros profissionais do mundo do futebol, em especial dos que trabalham no Brasil e que nos têm procurado para manifestar o seu total repúdio para com esta situação com a qual não concordam".
Ex-clube de Jesus, o Benfica também se pronunciou por meio de comunicado e desmentiu a tese de que houve uma consulta para uma suposta saída em dezembro.
"O Sport Lisboa e Benfica esclarece que em nenhum momento Jorge Jesus solicitou que o deixassem sair do Clube ou se mostrou disponível para abdicar das remunerações a que teria direito até ao final da temporada", afirmou o clube português
Após dias de curtição, encontros e polêmicas, Jesus faz as malas e retorna hoje (7) para seu país. O técnico volta para casa com menos créditos com o Rubro-negro e um pouco mais de resistência em Portugal.
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