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Casagrande diz que não visitou bar dos Beatles por medo de recaída

Walter Casagrande participa do Roda Viva, programa da TV Cultura - Reprodução/Cultura
Walter Casagrande participa do Roda Viva, programa da TV Cultura Imagem: Reprodução/Cultura

Do UOL, em São Paulo

09/05/2022 23h33

Comentarista e ex-jogador, Walter Casagrande emocionou o mundo da bola no fim da Copa do Mundo de 2018 ao celebrar ter permanecido sóbrio durante toda a cobertura do Mundial da Rússia. Em entrevista ao "Roda Viva" de hoje, Casão narrou uma vitória contra a dependência química antes da viagem para a Rússia.

Andando por Liverpool (ING) com a equipe da Globo, Casagrande - fã declarado de rock - parou acidentalmente em frente ao Cavern Club, conhecido por ser o local inicial da carreira dos Beatles. Após tirar uma foto com a estátua de John Lennon, o comentarista voltou para o hotel, mas, inquieto, se arrumou para voltar ao local. O medo de uma recaída, porém, fez o ex-jogador mudar de ideia.

"Em 2016, as Olimpíadas foram aqui, e as psicólogas estavam do meu lado. Na Copa da Rússia foi a primeira vez que precisei cuidar de mim. Fui para la com a missão de chegar sóbrio e voltar sóbrio. Foi minha missão. Nesse episódio, tenho que ressaltar que a equipe da Globo me ajudou e apoiou muito nisso, fui super bem cuidado. Mas, uma noite, saímos por Liverpool e entramos em um beco, onde estava todo mundo na rua e bebendo. Quando fomos andando, me deparei com a porta do Cavern Club. Sempre fui apaixonado por rock. Tirei uma foto com a estátua do John Lennon e decidi não entrar. Voltei para o hotel e fiquei com isso na cabeça, sobre querer voltar para lá. Foi quando comecei a fazer um treinamento [RDP] que faço na terapia, colocando todos os prós e contras", narrou Casagrande.

Neste processo, Casagrande entendeu que entrar no Cavern Club seria uma porta para uma recaída.

"Vai ser dificil não tomar uma cerveja. Se você tomar uma cerveja, você não vai tomar uma, vai tomar um monte. Aí você sabe o que vai acontecer. Talvez você tenha uma recaída. Eu me convenço quando eu faço RDP. Você não quer voltar para a vida que tinha", completou.

Casagrande ainda destacou sua luta para superar a dependência química e chamou de "covardia" os ataque que sofre até hoje por sua história.

"Era difícil, antes da terapia, eu ouvir que era drogado, financiador do tráfico. Eu lutei muito para sair desse meio, estou saudável, fiz muita coisa e ficava preocupado em saber como faria para as pessoas verem que eu era mais do que isso. E a minha psicóloga me ajudou a ver que tudo fazia sentido. Sou uma pessoa muito discreta na minha vida particular, sou sempre na boa. Consegui criar uma vida tranquila, que me ajuda a me sentir seguro. Eu não mato mais um leão por dia. Essa frase é forte para quem passa por isso. Isso não me atrapalha mais. Os ataques agora se tornam, além de uma grande covardia, ridículo para quem ainda faz", falou o ex-jogador.

"Para você sair de problemas e distúrbios psicológicos é muito complicado, necessita de muita luta. E as pessoas que usam isso para atacar, querem só ferir as outras. Mas, estou tranquilo", complementou.

O comentarista conta que não houve um "ponto de virada" em sua trajetória como dependente químico, pois era um "escravo da droga".

"Não tive ponto-chave, de virada. Estava totalmente escravo da droga, quando sofri o acidente e fui internado. Se me perguntassem, eu não queria ser internado, mas tinha mais droga do que sangue no corpo. Minha cabeça falava para eu parar de aplicar em mim mesmo, mas eu ia lá e aplicava. Não estava conseguindo escolher mais, não conseguia parar. Fui internado, fiquei uns meses revoltado, mas me olhei no espelho e vi em mim que era dependente químico", relatou.