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Brasileirão - 2022

Corinthians: o que pode acontecer se racismo de Rafael Ramos for comprovado

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

15/05/2022 04h00

Edenilson, do Internacional, acusou Rafael Ramos, do Corinthians, de racismo durante o empate em 2 a 2 ontem (14), no Beira-Rio, pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro. Aos 30 minutos do segundo tempo, o meia Edenilson relatou ao árbitro Bráulio da Silva Machado que o lateral Rafael Ramos o teria chamado de "macaco".

Rafael Ramos negou o ocorrido. De acordo com Roberto de Andrade, diretor de futebol do Timão, a frase foi: "Mano, c...", para Mano Menezes, técnico do Inter. O lateral português foi ao vestiário conversar com Edenilson para tentar se explicar, mas o atleta do Colorado manteve a queixa na Polícia Civil e registrou boletim de ocorrência em Porto Alegre. Rafael chegou a ser preso em flagrante, e acabou liberado após o pagamento de fiança.

Se o caso de racismo for provado, o que pode acontecer com o Corinthians?

De acordo com o artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), a pena é de suspensão de cinco a dez partidas, além de multa de R$ 100 a R$ 100 mil para "ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência".

Quando a infração for considerada de "extrema gravidade", o CBJD pode aplicar as penas dos incisos V, VII e XI do artigo 170. Neste caso, a punição viraria advertência, multa ou suspensão, mas também perda de pontos, interdição do estádio ou perda do mando, perda da renda, indenização, eliminação ou exclusão do campeonato.

Segundo o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, o Brasil registrou 53 episódios de racismo apenas em 2021. Em nenhum dos casos do último ano ou de temporadas anteriores, a punição foi além de multa ou suspensão.

Em 2021, o caso mais emblemático envolveu Brusque e Londrina. Um conselheiro do Brusque chamou Celsinho, do Londrina, de "macaco". A pena inicial do STJD era de perda de três pontos, mas o Brusque recorreu e conseguiu apenas a perda do mando de campo, multa de R$ 60 mil para o clube e de R$ 30 mil ao dirigente, além de suspensão por um ano.

Mais rigor?

Novo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues quer a perda de pontos como punição para casos de racismo. A confederação propôs sentenças mais duras à Conmebol e espera por ajustes para 2022.

A CBF deve realizar em junho um evento para debater medidas de combate à discriminação racial no futebol com representantes da Fifa, Conmebol, federações, clubes, Justiça Desportiva e Ministério Público.

A Conmebol, em nota oficial recente, admitiu a mudança nos regulamentos de competições no continente.

"A CONMEBOL promoverá mudanças na regulamentação para aumentar e endurecer as penalidades em casos de racismo. Também se compromete a desenhar e implementar novos programas e ações que visem banir definitivamente este problema do futebol sul-americano", disse a confederação, em parte do texto publicado no dia 29 de abril.

Posicionamento do Internacional

"Mais uma vez, um lamentável caso de racismo é registrado no futebol nacional. Desta vez, em nossa casa, contra um jogador do Internacional. Na partida deste sábado (14/05), pelo Campeonato Brasileiro, Edenilson relata ter sofrido injúria racial por parte de Rafael Ramos, atleta do Corinthians.

É inadmissível que ainda ocorram fatos desse tipo em 2022, não há espaço para o racismo em nossa sociedade. O Clube do Povo reitera que repudia todo e qualquer ato de preconceito e apoia o seu atleta.

Depois da partida, o jogador colorado prestou depoimento e registrou o incidente junto à Polícia Civil. O Sport Club Internacional acompanha o caso de perto, oferecendo todo o suporte ao atleta e auxiliando na averiguação dos fatos".

O presidente do Internacional, Alessandro Barcellos, falou com a imprensa no estádio.

"Edenilson quis ouvir do atleta [Rafael Ramos] um pedido de desculpas. Ele pediu por alguma possível ofensa, mas não pela injúria racial, então ele optou por fazer a denúncia", falou.

O que diz o Corinthians?

Rafael Ramos não se pronunciou e o Corinthians não emitiu nota oficial sobre a acusação de Edenílson. O diretor Roberto de Andrade foi quem falou pelo Timão.

"Nós acompanhamos o Rafael até o vestiário. Ele conversou com o Edenilson e explicou para ele que talvez ele tenha entendido errado. Ele disse outra coisa. Ele falou "mano, c...". Ele [Edenilson] deve ter entendido outra coisa. Mesmo assim, ele [Rafael Ramos] pediu desculpas se ele entendeu outra coisa, que não é do feitio dele. O menino é bom, a gente assegura que é. O Edenilson também é. Não estamos aqui dizendo nem que um está mentindo ou o outro. Às vezes, com a fala rápida e com o sotaque português, o Edenílson pode ter entendido outra coisa. Eles conversaram e aparentemente está tudo resolvido", disse Roberto.

Na saída de campo, o atacante Jô falou ao Premiere sobre o ocorrido.

"Rafa [Rafael Ramos] falou que disse outra palavra em português de Portugal. Ele falou que não teve a intenção de injúria racial. Não podemos julgar alguém sem ter a certeza", falou o centroavante.

Súmula

O árbitro Bráulio da Silva Machado relatou em súmula a alegação de Edenílson contra Rafael Ramos.

"Aos 31 minutos do 2º tempo, no momento em que a partida estava paralisada, fui informado pelo jogador nº 8, da equipe do Internacional, Edenilson Andrade dos Santos, que seu adversário número 21, Rafael Antônio Figueiredo Ramos, havia proferido as seguintes palavras para ele: 'Fod...-se macaco". Neste momento paraliso a partida e chamo os jogadores envolvidos para relatarem o que havia acontecido, sendo que o Edenilson confirma as palavras anteriormente citadas e o jogador Rafael afirma que houve um mal entendido devido ao seu sotaque e diz ter proferido as seguintes palavras: 'Fod...-se c...", devido à distância dos atletas e barulho da torcida nem eu, nem outro integrante da equipe de arbitragem, consegue ouvir ou perceber qualquer das palavras acima citadas. Então dou continuidade à partida".

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