Topo

O PSG está escondendo a camisa de Neymar nas lojas. Entenda os motivos

Neymar comemora gol, depois anulado, do PSG contra o Troyes, em maio de 2022: gesto de silêncio virou padrão nos últimos tempos - John Berry/Getty Images
Neymar comemora gol, depois anulado, do PSG contra o Troyes, em maio de 2022: gesto de silêncio virou padrão nos últimos tempos Imagem: John Berry/Getty Images

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

23/05/2022 04h00

Olha, mãe: a camisa do Neymar só tem tamanho grande."

A observação do menino português para a mãe foi feita enquanto olhavam uma das araras de roupas da loja do Paris Saint-Germain no estádio Jean-Bouin — de frente para o Parque dos Príncipes, em Paris. Ele queria comprar uma camisa com nome e número do jogador brasileiro, mas logo descobriu que precisaria esperar pela personalização. É que naquela hora não tinha uma pronta do tamanho certo.

Uma volta pela loja do PSG na capital francesa mostra que existe uma escassez de produtos relacionados ao camisa 10. Há várias unidades com os nomes de Mbappé, Messi, Verratti ou Kimpembe. E poucas de Neymar. No dia em que o UOL esteve por lá, em 13/5, a linha exclusiva de produtos do jogador brasileiro ficava nos fundos da loja, sem destaque.

A entrada era destinada aos produtos sobre Messi e Mbappé. E isso não é por acaso: desde a eliminação da Liga dos Campeões para o Real Madrid, no meio de fevereiro, o PSG passou a diminuir a exposição do brasileiro. Isso é um projeto do clube, segundo apurou a reportagem A ideia é deixar o camisa 10 em segundo plano, sem aparecer ou dar entrevistas, para que a relação possa recomeçar quando a mágoa, dos dois lados, estiver menor.

Loja - UOL - UOL
Fachada da loja do PSG no estádio Jean-Bouin, de frente para o Parque dos Príncipes, em Paris
Imagem: UOL

O sumiço da figura de Neymar ocorre no momento de maior revolta da torcida do PSG (ou pelo menos parte dela) com o brasileiro. Desde a eliminação nas oitavas de final da Liga dos Campeões, Neymar perdeu a paz em Paris, num movimento de perseguição até então inédito e que motivou uma série de mudanças no comportamento.

Neymar foi criticado e chamado de "filho da p..." nos jogos do PSG em casa desde então. A maioria de seus toques na bola foi vaiada pelas arquibancadas nas últimas apresentações, inclusive no jogo que definiu o título francês. Naquele dia, torcedores organizados do PSG saíram do estádio por volta de 30 minutos do segundo tempo para comemorar do lado de fora do Parque dos Príncipes. A ideia era não permitir que os jogadores fizessem parte da sua festa.

Torcida - Benoit Tessier/Reuters - Benoit Tessier/Reuters
Torcedores do PSG celebram em frente ao Parque dos Príncipes após título francês
Imagem: Benoit Tessier/Reuters

Neymar ficou revoltado com o comportamento, chamou de "surreal". Perguntado sobre ser vaiado, deu a declaração que botou ainda mais lenha na fogueira de sua relação com a torcida: "Vão precisar de fôlego, vão ficar cansados de me vaiar, porque ainda tenho três anos de contrato."

Desde então, o staff do PSG tem mantido Neymar afastado das entrevistas, para evitar alimentar a polêmica. Ao mesmo tempo, internamente a influência de Neymar no elenco vem sendo discutida e sua manutenção em Paris, analisada.

Ruptura definitiva: Neymar pode ser vendido?

A TV britânica Sky Sports informou recentemente que o PSG decidiu que pode vender Neymar nesta janela de transferências. Até definiu o valor no mercado da bola: 90 milhões de euros (R$ 470 milhões, aproximadamente), bem diferente dos 222 milhões de euros (R$ 820 milhões, na cotação da época) pagos em 2017. Por enquanto não há grandes especulações envolvendo o nome do brasileiro.

O que o UOL Esporte sabe é que existe insatisfação por parte da cúpula do clube francês. A informação que chegou à reportagem é que a conta não fecha mais na visão do presidente do PSG, Nasser Al-Khelaifi. Há um desafio grande em relação à imagem que o torcedor construiu sobre o brasileiro ao longo dos últimos anos, especialmente pelo estilo de vida de Neymar. Somado ao desempenho recente em campo, a dinâmica não é mais favorável ao camisa 10.

O desafio para o PSG é mostrar se Neymar ainda merece crédito. Com a renovação de Mbappé e uma possível saída de Leonardo, um movimento dentro do clube que teoriza que a saída de Neymar pode tornar o clima mais leve para outros jogadores diante da torcida ganhou fôlego —pelo que o UOL apurou, porém, essa linha de pensamento ainda não é grande.

Camisa - UOL - UOL
Camisa de Neymar na loja do PSG: não tinha do tamanho que o menino português queria comprar
Imagem: UOL

Por outro lado, Neymar também tem defensores dentro do PSG. Gente que lembra-se da dedicação do jogador durante o tratamento da lesão do tornozelo esquerdo que lhe tirou de ação durante quatro meses e atrapalhou toda a temporada. O brasileiro voltou antes do tempo previsto para ajudar na Liga dos Campeões e fez 14 jogos entre fevereiro e agora, com nove gols e cinco passes para gol. Uma participação em gol por jogo é algo positivo.

Além disso, um dos argumentos da ala pró-Neymar do PSG é que o brasileiro sonha com o título da Copa do Mundo pela seleção brasileira e vai querer chegar voando no Qatar. Ou seja, ele é consciente de que sua história pode tomar um novo rumo nos próximos meses e não vai poupar dedicação. A visão é de que Neymar é orgulhoso demais para admitir o declínio e correrá atrás.

Neymar - Divulgação/PSG - Divulgação/PSG
Neymar em ação durante treino do PSG nesta reta final de temporada na França
Imagem: Divulgação/PSG

Por enquanto, até pela aparente falta de clubes interessados, está ganhando a queda de braço o setor favorável a Neymar. O próprio jogador tem demonstrado interesse de concluir a missão no PSG, o que significa vencer a Liga dos Campeões antes do fim do contrato. Baseado nisso, o clube tem trabalhado para preservar a imagem de Neymar. A exposição foi reduzida em eventos nacionais e ações comerciais e o próprio jogador aconselhado a ficar mais restrito a seu ciclo familiar e de amizades.

A ideia com essa iniciativa é que se diminua o que é falado sobre Neymar fora do campo, porque isso daria paz nos bastidores e transferiria o foco para suas ações nos jogos e torneios. A paz que o PSG busca é para resolver logo os dois assuntos pendentes neste fim de temporada: a novela sobre a possibilidade de saída de Mbappé para o Real Madrid e a situação do técnico Mauricio Pochettino. O assunto Neymar não é prioridade agora.