Confusão, idolatria, pressão e ameaça. Como foi Róger Guedes no Atlético-MG
Após o clássico com o São Paulo, pela sétima rodada do Brasileirão, o técnico Vitor Pereira revelou insatisfação com Róger Guedes. O treinador do Corinthians deixou claro que não é nada pessoal, mas cobrou mais empenho e dedicação para que o atacante volte a ter minutos com ele. A fala do português não gerou nenhuma surpresa para quem conviveu com o jogador na época de Atlético-MG.
Em 2018, foram somente seis meses de Cidade do Galo, mas foram intensos, com algumas confusões, quase dispensa, idolatria relâmpago, muita pressão e ameaças para ser negociado com o futebol chinês. O UOL Esporte recuperou algumas das polêmicas que marcaram a o período em que o atacante esteve em Belo Horizonte.
Bronca pública no técnico
Em 28 de fevereiro de 2018, o Atlético-MG venceu o Figueirense por 1 a 0, no estádio Orlando Scarpelli, no jogo de ida da terceira fase da Copa do Brasil. Mas a importante vitória em Santa Catarina ficou em segundo plano por causa de Róger Guedes, que foi substituído durante o segundo tempo e não pensou duas vezes em reclamar ainda dentro de campo com o técnico Thiago Largui. O então dono da camisa 23 cobrou o treinador por ser substituído pela terceira vez consecutiva - mas, na verdade, era a quarta. A reclamação seguiu no banco de reservas, sem nenhum constrangimento.
"De fato, ele não gostou, mas a gente já conversou e ficou acertado", disse Larghi, após a partida.
No dia seguinte, Róger Guedes usou uma rede social para admitir que estava errado e pedir desculpas para o treinador.
Briga no treino e corte na Sul-Americana
Já em 9 de abril, quem esteve na mira de Róger Guedes foi o argentino Tomás Andrade, que defendeu o Atlético na temporada 2018. Após entrada mais dura do jogador, que estava emprestado pelo River Plate, durante o treino, Guedes não ficou nada satisfeito e partiu para cima do companheiro de clube. A situação só não ficou pior por causa dos demais atletas, que seguraram o atacante. Tudo foi registrado pela imprensa, que ainda frequentava a Cidade do Galo durante os treinos da equipe principal.
Dois dias depois, o Atlético enfrentou o San Lorenzo, em Buenos Aires, pela primeira fase da Copa Sul-Americana. Róger Guedes viajou para a Argentina, mas por coincidência ou não, nem sequer ficou no banco de reservas. Naquele momento, o futuro do atacante era incerto no Galo, apesar de ter contrato até dezembro de 2018.
Estreia desastrosa no Brasileiro
O Atlético levou a virada do Vasco, aos 52 minutos do segundo tempo, na primeira rodada do Brasileiro de 2018, e teve Róger Guedes como protagonista. Mas para o mal, já que o atacante errou no que seria um ótimo contra-ataque para o Galo e terminou num pênalti para a equipe carioca. Ali parecia ser o fim da linha para Róger Guedes, já que a diretoria e a comissão técnica não tinham mais paciência com o atacante, assim como a torcida. Naquele momento, o atleta emprestado pelo Palmeiras era o jogador mais criticado no elenco.
Veteranos impediram saída
Dentro do Atlético não existia a certeza se valia a pena seguir com Róger Guedes, mas a dúvida acabou após a derrota para o Vasco e o comportamento do jogador dentro de campo. Para a diretoria, estava decidido: Róger Guedes estava fora do Galo. Mas como se tratava de um jogador emprestado ao Palmeiras, ele não podia ser simplesmente dispensado.
O diretor de futebol do Atlético, Alexandre Gallo estava acertando um bem bolado com a equipe paulista e com o Bahia. Róger Guedes seria repassado ao Tricolor até o fim de 2018, com o clube mineiro pagando parte do salário.
No entanto, Róger Guedes ganhou voto de confiança dos jogadores experientes do elenco alvinegro. O goleiro Victor, o zagueiro Leonardo Silva, o lateral esquerdo Fábio Santos e o atacante Ricardo Oliveira convenceram a direção que a melhor decisão era dar uma nova oportunidade ao jovem jogador, então com 21 anos. A diretoria alvinegra acatou o pedido dos líderes do elenco, que também conversaram com Róger Guedes. Ele teria nova oportunidade, mas também teria de mudar o comportamento.
Artilharia e idolatria relâmpago
A confiança dada pelos companheiros fez muito bem a Róger Guedes. Já no jogo seguinte, contra o Vitória, o camisa 23 foi titular e fez um dos gols da vitória alvinegra. Foi o primeiro dos nove que marcou em 12 rodadas. Era ano de Copa do Mundo e o Campeonato Brasileiro foi interrompido por causa do Mundial que seria realizado na Rússia. Róger Guedes era o artilheiro da competição, e o Galo estava na segunda colocação, com 23 pontos, quatro atrás do líder Flamengo.
Num intervalo menor do que dois meses, Róger Guedes marcou nove gols e mudou completamente o relacionamento com a torcida alvinegra. Antes criticado, o atacante passou a ser idolatrado. Tanto que ainda hoje, apesar de ter disputado apenas 28 jogos, Guedes é um dos sonhos de consumo de muitos atleticanos. No período em que esteve na China, o atacante alimentou essa relação constantemente. Sempre com postagens comemorando vitórias do Galo e até mesmo provocando o rival Cruzeiro.
"Eu nunca mais jogo aqui"
Enquanto o atleticano sonhava em brigar pelo título brasileiro, muito pela grande fase de Róger Guedes, o futebol chinês chegou com uma bolada de dinheiro. Era uma oferta boa para os clubes, já que os direitos do atleta eram divididos entre Palmeiras e Criciúma, enquanto o Atlético tinha uma taxa de vitrine, além do salário milionário para Róger Guedes. Mas como a proposta chegou próxima ao fechamento da janela de transferências chinesa, a decisão ficou com o então presidente do Galo, Sérgio Sette Câmara.
Por contrato, Palmeiras tinha o direito de chamar o jogador de volta, mas com alguns dias de antecedência. Porém, não era desejo do Atlético liberar Róger Guedes, que utilizou de muita pressão e até ameaçou não jogar mais pelo clube mineiro.
"Quando eu vi, meu celular tinha 500 mil ligações e mensagens do Róger Guedes. Eles deram meu telefone para o Roger, e ele ficava assim: 'presidente, eu nunca mais jogo aqui, eu vou ser problema aqui', revelou Sérgio Sette Câmara, em entrevista ao Canal Alvinegro, no fim do ano passado, dois anos após deixar a presidência do clube.
Róger Guedes chegou a esvaziar o armário na Cidade do Galo, antes mesmo de o clube mineiro aceitar a proposta. No fim, o Galo cedeu ao desejo do atleta, porém ficou com 27% da negociação, ao invés dos 5% que teria direito. Palmeiras e Criciúma aceitaram a pedida do Atlético, para a transferência não fracassar.
A venda dos direitos de Guedes ao Shandong Luneng foi em torno de 9,2 milhões de euros (R$ 41,9 milhões na cotação da época) e o Galo ficou com 2,5 milhões de euros (R$ 11,3 milhões).
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