Jorge, com pés no chão, quer 'briga sadia' para mudar história no Palmeiras
Não raramente, as coisas boas da vida vêm acompanhadas de outras ruins. Jorge, 26, lateral esquerdo do Palmeiras, passou por situações assim algumas vezes, que o ensinaram a manter sempre os pés no chão. Na mais recente, quando, enfim, iniciava uma sequência como titular no clube, foi atacado e intimidado por torcedores com pedras que quebraram o vidro do seu carro, nas proximidades da Academia de Futebol.
"Na hora, tomei um susto. Eu achei que era assalto, pela pancada que foi, no vidro. Só que depois, vi que o cara falava besteiras, xingava. Aí, eu já vi que era torcedor", contou ele em entrevista ao UOL Esporte.
"Fiquei tremendo", conta. "E não foi nem pelo que o torcedor falou, porque a gente está meio que disposto a isso. Falar, cobrar, é do torcedor. Mas sem violência. Aí, já não concordo. Acho que ninguém concorda. Foi porque eu achei mesmo que era um assalto. Você indo trabalhar, e acontece isso", disse ele, que seguiu dirigindo até o CT do clube.
Jorge não conseguiu identificar os torcedores, que estavam de capacete em uma moto velha e sem placa.
"O Abel [Ferreira] e o [Anderson] Barros me chamaram para conversar. Vieram também para a sala o Marcos Rocha e o Weverton, os capitães. E aí, me fortaleceram, perguntaram se eu queria treinar. E eu disse que ia treinar sim, e que isso não ia me afetar. Logo depois, teve o jogo do Fluminense, e joguei muito bem", diz Jorge.
Levantar logo a cabeça
A postura de não se deixar abalar por muito tempo é uma constante na vida de Jorge. Foi assim que ele também superou o baque da lesão de ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, sete jogos depois de chegar ao Basel (SUI), emprestado pelo Monaco. Os suíços já tinham conversado com os franceses sobre estender sua permanência por lá.
No total, foram 11 meses sem jogar —três deles já se recuperando em São Paulo, como atleta do Palmeiras.
"Na hora [da lesão], faz um estalo muito alto, você pensa que não vai mais jogar, passa um monte de coisa na cabeça. Às vezes, se você tem uma lesão e vai ficar uma semana fora, já dá um desânimo. Imagina uma lesão dessa que a recuperação é longa", diz ele. "Não fiz nem terapia com psicólogo, nem nada. Tive fé que ia voltar", conta.
Reservado, Jorge não é de dar muitas entrevistas. Esta, concedida ao UOL, é a primeira exclusiva a ser publicada no Brasil, desde sua chegada ao Palmeiras.
"Nem rede social tenho. Nunca gostei, não me faz falta alguma. O pessoal que trabalha comigo até fica bravo, porque é importante para me promover. Mas é um mundo de ilusão. É claro que tem muitas pessoas famosas, e os fãs gostam de acompanhar o trabalho, o dia a dia. Mas isso é algo meu. Nunca tive e nunca quis ter", sentencia, mais uma vez, com os pés no chão.
Palmeiras o contratou como estava
Jorge caminhava para o nono mês de recuperação quando recebeu a ligação do ex-presidente Mauricio Galiotte e do diretor de futebol Anderson Barros.
"Eu estava há muito tempo sem chutar uma bola, nem correndo, eu estava, mas eles me disseram que sabiam da situação, que me aceitavam do jeito que eu estava no momento. Era um contrato muito bom, de uma equipe do tamanho do Palmeiras", conta.
Jorge chegou junto com Piquerez, mas sabia que largava atrás do uruguaio, que, ao contrário dele, vinha em plena atividade pelo Peñarol (URU).
"O Palmeiras foi espetacular comigo. Esse tipo de lesão precisa de meses de musculação, se não você se lesiona de novo. E a estrutura do Palmeiras, de fisioterapia e fisiologia, é sem dúvida das melhores do Brasil", diz.
Até se machucar na Suíça, sozinho, num lance bobo de domínio de bola, Jorge nunca havia tido uma lesão tão séria. De modo que ficar tanto tempo sem jogar também era uma novidade.
Voltar aos campos foi complicado no início também porque ele não teve sequência, algo fundamental para alguém que tem uma lesão como a de Jorge. Além de recuperação clínica, o jogador precisa retomar a confiança.
"Você vai fazer um movimento normal, que está acostumado, e fica com receio", explica o jogador.
Jorge soma agora seis partidas seguidas como titular do Palmeiras. Pode chegar à sétima contra o Atlético-MG, domingo (5). Piquerez está recuperado de lesão muscular na coxa, mas deve começar no banco.
"Sempre fui de ter um jogo atrás do outro em questão de sequência. Sempre tive oportunidade de estar jogando com frequência", diz.
"Hoje, me sinto fisicamente e mentalmente melhor novamente, pegando confiança nos jogos. Claro que, a parte de qualidade técnica, é com o decorrer dos jogos que você vai pegando de novo. Mas o que me preocupava mais era a parte física. E nisso, o Palmeiras me ajudou demais".
Lateral surgiu como um raio
Jorge, que começou com 7 anos na escolinha de futsal do Flamengo e passou por Vasco e América-RJ, antes de voltar ao Fla, até hoje se espanta com o início de sua trajetória profissional.
"Foi uma coisa inexplicável, cara. Foi muito rápido, eu cheguei no Flamengo depois do Mundial sub-20 e já subi [para o profissional]. Tinha o Anderson Pico e o Armero na minha posição, mas com o [treinador] Cristovão Borges, fui ganhando espaço", relembra. Não tardou para que seu nome chamasse a atenção do técnico Tite.
"Eu estreei num jogo contra o Joinville e não sai mais, a torcida sempre me apoiando e aí foi muito rápido. Eu fiquei um ano e pouco no Flamengo e, no último dia da janela de transferência [de janeiro de 2017], depois de jogar um amistoso com a seleção brasileira, veio uma oferta irrecusável do Monaco. E eu fui", conta.
O jogo da seleção em questão foi um amistoso contra a Colômbia em prol das vítimas do acidente de avião da Chapecoense, em janeiro de 2017.
Na França, após um período de adaptação, ganhou a posição por um tempo, mas acabou sendo emprestado ao Porto (POR). "Lá, não deu certo. O grupo dos caras era muito fechado, não me encaixei", conta.
Em seguida, veio a passagem pelo Santos, que Jorge considera muito boa. Sob comando de Jorge Sampaoli, ele foi novamente convocado para a seleção brasileira. Do Santos, retornou para o Monaco e, depois de alguns meses, estava no Basel, seu último destino antes do Palmeiras.
Deixar uma dúvida na cabeça do Abel e ser feliz
Piquerez está perto da volta, mas Jorge agora se sente apto a disputar a posição em pé de igualdade com o uruguaio.
"Vamos ter uma briga sadia. Isso é bom para atleta. É bom ter alguém ali no dia a dia com você brigando por titularidade. Nosso grupo é totalmente unido. Não é bom viver no departamento médico. Isso é horrível para gente", diz Jorge.
"Tem também o retorno do Luan, e é bom para a gente, nos fortalece mais para poder chegar nos jogos. Porque, realmente, a gente precisa de todos, é um jogo atrás do outro e uma hora a gente vai precisar de todos", diz.
"Particularmente eu precisava disso precisava de sequência para poder ter a confiança que eu tô bem fisicamente. E, agora, é deixar com Abel. É como ele fala, tem que deixar", diz.
"Meu objetivo é fazer história no Palmeiras é mostrar porque porque eu vim para cá. Foi para poder ser feliz e fazer os torcedores felizes. E eu estou muito feliz aqui".
A mesma felicidade que ele, abraçado a Luiz Adriano, demonstrou antes mesmo do apito final na final da Libertadores de 2021, contra o Flamengo, em Montevidéu.
"Não foi nem comemorar a vitória, foi a emoção do jogo mesmo. Ainda mais tendo sido um gol do Deyverson, um amigão meu, que a gente falou que ia entrar e fazer um gol. Foi minha primeira final pelo Palmeiras. E o meu instinto não mente, eu sabia que a gente ia ser campeão", conta.
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