Por que os jogadores do Inter decidiram se rebelar e boicotar treinamento
A quarta-feira foi quente no Internacional. Pela manhã, o grupo de jogadores decidiu que não entraria em campo no CT Parque Gigante para trabalhar, pois vários jogadores tinham atrasos de até três meses no pagamento de direitos de imagem. O elenco se reuniu com o executivo de futebol William Thomas, se manifestou e deixou o local sem realizar atividades.
Ainda no fim da manhã, a direção política foi acionada. O vice de futebol Emilio Papaléo Zin e o presidente, Alessandro Barcellos, foram ao CT, articularam movimentos financeiros e o clube começou um processo que durou o restante do dia. Dois dos três meses devidos foram pagos.
O grupo foi informado ainda no local de atividades que deveria se reapresentar à tarde para reunião com a direção e treino. Segundo o presidente Alessandro Barcellos, o cancelamento do trabalho matinal aconteceu em comum acordo.
Mas os motivos para a atitude dos atletas montam um ambiente longe do ideal e contra o qual a direção do clube pretende trabalhar nos bastidores.
Conversas, desconfiança e pagamentos
O movimento de cancelamento do treino partiu das lideranças do grupo. O meia-atacante Taison ficou irritado por ter sido citado como articulador do grupo e até cobrou jornalistas no CT. De fato, não partiu apenas do camisa 7 o desejo de resolver o problema, mas sim em ação conjunta e com apoio de todos, até de quem não tinha nada a receber.
A reação extrema foi gerada a partir de contatos sem sucesso. O comando do Colorado e os jogadores conversaram em outros momentos e os prazos definidos para pagamento não foram cumpridos, segundo relatos feitos ao UOL Esporte. O último deles seria no fim de maio.
Com isso, o grupo passou a desconfiar nos próximos passos. Foi exatamente a incerteza sobre receber os valores, que chegam eventualmente a 40% do total do salário do atleta, que ocasionou a atitude.
Falta de informação, versões diferentes
O próprio presidente Barcellos admitiu, em entrevista coletiva, que, se o grupo de jogadores tivesse a informação de que uma quantia em dinheiro seria creditada ao clube entre terça e quinta-feira, tudo isso poderia ser evitado. A ausência de informação concreta turbinou a desconfiança já presente nos bastidores.
Além disso, o grupo de jogadores, segundo apuração da reportagem, ficou descontente com notícias que viu na imprensa e nas redes sociais que descartavam publicamente qualquer débito. Desde terça-feira, os rumores sobre pendências com os atletas eram tratadas como 'normais no mundo do futebol', ou inexistentes.
Falta dinheiro?
Ao mesmo tempo que o Inter repete sua dura situação financeira, o tema investimentos também esteve presente no cancelamento do treino. Depois de fazer 14 contratações na primeira janela de transferências do ano, o Colorado se prepara para duas movimentações robustas: a busca pela compra de Bruno Méndez e a chegada de um centroavante.
O zagueiro uruguaio tem direitos estipulados em US$ 6 milhões (R$ 28,8 milhões na cotação atual) e pertence ao Corinthians. Para agregar um artilheiro ao grupo, o clube está disposto a gastar mais do que o habitual.
Além disso, foi nesta temporada que o Inter fez a maior venda de sua história. Yuri Alberto saiu para o Zenit, da Rússia, por 25 milhões de euros (R$ 128,2 milhões na cotação atual). Boa parte deste valor já foi pago.
Ao mesmo tempo, o clube alega que tinha em seu orçamento a previsão de receber R$ 11,5 milhões como premiação por avanços na Copa do Brasil. Eliminado pelo Globo-RN na primeira fase, levou só R$ 1,2 milhão.
Outro ponto que pesa contra o orçamento vermelho é a saída de treinadores. Considerando os dois últimos anos, o clube paga (ou pagou) rescisões com Miguel Ángel Ramírez, Diego Aguirre e Alexander Medina.
Resolvido? Trabalho para Autuori
Alessandro Barcellos deu o tema por resolvido. Para ele, o que aconteceu foi 'até bom' para mostrar ao grupo de jogadores, com tantos que chegaram há pouco tempo, que a forma com que as coisas acontecem no clube. Ainda de acordo com o mandatário, tal situação pode reforçar a relação de confiança com o elenco.
No entanto, o relacionamento aparenta estar longe do ideal, com reclamações nos bastidores de parte a parte.
Caberá ao diretor técnico, Paulo Autuori, ser a ligação entre as partes e o responsável por contornar maiores problemas. O profissional terá que expor ambos os lados para o outro e procurar um caminho comum entre os interesses do clube e dos atletas.
Torcida contra o grupo
O reflexo imediato dos acontecimentos de ontem aconteceu na torcida. De pronto, as redes sociais mostraram que os aficionados não estão ao lado dos atletas na cobrança por pagamento. Se o relacionamento já vinha atritado há muito tempo, seja pela ausência de títulos ou o rendimento abaixo do esperado, agora ganhou um novo ingrediente no caldeirão de críticas.
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