Ex-Santos supera morte dos pais e busca o sucesso no Cazaquistão

Victor Braga, de 21 anos, precisou lutar, e muito, para ser jogador de futebol. E não se trata da luta comum a todo jovem que sonha com espaço nos gramados do mundo, mas de uma luta interna, psicológica, em busca de forças. Ele tinha apenas 8 anos quando perdeu o pai, três anos depois perdeu a mãe. Mas o meio-campista natural de Santa Cruz do Sul, na Serra Gaúcha, perseverou, chegou à base do Santos e hoje busca o sucesso no Cazaquistão.

"Quando eu tinha meus 9 anos, eu despertei um interesse muito grande pelo futebol, por conta do meu tio Dandão, que sempre me incentivou. O amor pelo futebol veio de sangue. Fui para o Avenida [clube de sua cidade natal], ali comecei engrenar minha carreira", contou em entrevista ao UOL Esporte.

Foi pouco depois de Victor ter perdido o pai, e dois anos antes de perder a mãe. O drama familiar abalou muito o jovem, mas hoje ele usa tudo o que aconteceu como forma de se motivar ainda mais pelo sucesso.

"A partir do dia que meus pais morreram, fui morar com minha avó. Ela sempre me deu amor carinho e nunca deixou que faltasse nada, sempre estive em lugares com pessoas que sempre quiseram o meu bem, assim consegui superar tudo isso", contou.

"Sempre lembro de todos os momentos com eles, mas sigo na fé, sei que lá de cima eles estão felizes, e vou vencer por eles", acrescentou.

Victor seguiu na base do Avenida até ter 15 anos, depois foi para o Santa Cruz-RS, rival da mesma cidade. Por lá, chegou a ser promovido ao time principal.

A saída aconteceu em 2020, quando, após contar com um analista de desempenho que gravava seus vídeos e o apoio de seus empresários, conseguiu vaga nas categorias de base do Santos.

"Foi um privilégio estar na base do Santos. Aprendi muito, como venho aprendendo", contou o jovem que chegou a treinar com o time profissional do Peixe. "Mas houve uma troca na presidência do Santos na época e o novo presidente optou pela minha saída. Acontece", lamentou.

Depois do Santos, ele esteve no Londrina e esbarrou em mais um drama familiar. Desta vez perdeu a avó. E o recomeço precisou ser longe do Brasil.

Futuro no Cazaquistão

Um novo horizonte se abriu para Victor neste ano. Ele se transferiu para o Ordabasy, do Cazaquistão, e virou titular absoluto. São 11 jogos na temporada e expectativa alta.

"No começo eu tive dificuldades por causa do fuso horário. Mas me adaptei muito bem e estou dando sequência. Hoje eu consigo compreender eles [colegas de time] e eles me compreendem também", afirmou.

Ainda que seja do Rio Grande do Sul, ele nunca passou por Inter ou Grêmio, sequer na base, mas voltar ao Brasil, atualmente, não está entre os primeiros planos.

"Desde pequeno sempre acompanhei Inter e Grêmio, são equipes muito qualificadas. Mas vou trilhando meu futuro. Deixo o resto nas mãos de Deus", finalizou.

Dos jogos de sua equipe na Liga do Cazaquistão, ele esteve em campo durante quase 100% do tempo. Foram 90 minutos em dez jogos e 88 em outro. Ou seja, só não atuou por dois minutos de todo o período em que poderia jogar.

O Ordabasy ocupa o oitavo lugar na competição, com 14 pontos conquistados.