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Caso Edenilson: delegada diz que vai revisar inquérito após perícia oficial

MAX BECHERER/DIA ESPORTIVO/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: MAX BECHERER/DIA ESPORTIVO/ESTADÃO CONTEÚDO

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

08/06/2022 15h54Atualizada em 08/06/2022 17h45

A investigação do caso envolvendo Rafael Ramos e Edenilson será concluída dentro do prazo (13 de junho) e pode terminar sem indiciar o lateral direito do Corinthians por crime de injúria racial.

Hoje (8), depois de parecer do IGP-RS (Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul) afirmar que não é possível identificar o que o jogador português disse em campo, a delegada responsável pelo caso, Ana Luisa Caruso, afirmou que a ausência da leitura labial teria peso decisivo na conclusão do inquérito sem indiciamento, em primeiro contato com a reportagem do UOL Esporte.

Depois, porém, em uma segunda conversa, ela afirmou que revisitaria os autos e esperaria por últimas diligências para avaliar se cabe uma denúncia contra o português.

Os peritos da polícia gaúcha afirmam ter analisado quatro vídeos da discussão ocorrida no segundo tempo do jogo Internacional x Corinthians, no estádio Beira-Rio, em 14 de maio. Edenilson, meio-campista do Inter, relatou ao árbitro da partida que teria sido chamado de "macaco" pelo lateral do Corinthians. O jogador português argumenta que Edenilson teria entendido errado suas palavras.

Para a polícia, o parecer técnico deixa o inquérito baseado somente na palavra de Edenilson. A perícia de leitura labial era vista como prova científica para dar robustez ao caso, que também inclui a súmula da partida.

De acordo com os peritos, porém, não foi possível identificar as palavras que teriam sido ditas pelo jogador do Corinthians. O laudo afirma que, pelas imagens, não foi possível ver o movimento da língua do jogador do Corinthians —algo que poderia ajudar na conclusão do estudo. Além disso, não há elementos sonoros para se aprofundar a pesquisa. Além do mais, o recurso de leitura labial foi descartado por não ter validade jurídica.

"Sobre o pedido de exame pericial de leitura labial, ressalta-se que não foi encontrada metodologia científica, aplicada à análise forense de vídeos, que sustente esse tipo de trabalho. Existem apenas publicações sobre percepção visual da fala e aprendizagem de leitura labial", escreveram.

O jogador português já apresentou laudos de perícias particulares ao STJD reforçando sua versão. Na última segunda-feira, Edenilson depôs e reforçou sua versão dos fatos.

O parecer do IGP foi uma solicitação da polícia para dar sequência ao tema no âmbito criminal.

O laudo pericial tem 40 páginas e foi assinado por dois peritos criminais da Seção de Áudios e Imagens do Departamento de Criminalística do IGP.

Relembre o caso

Internacional e Corinthians jogaram no dia 14, em Porto Alegre. Em campo, o meio-campista Edenilson, do time da casa, acusou ao árbitro Braulio da Silva Machado uma injúria racial por parte de Rafael Ramos. O protesto foi registrado em súmula, documento que serviu como base para prisão em flagrante do jogador português, antes mesmo de o jogador do Inter prestar queixa.

Na súmula, Braulio descreveu assim o que ouviu dos jogadores: "Aos 31 minutos do segundo tempo, no momento em que a partida estava paralisada, fui informado [por Edenilson] que seu adversário [Rafael Ramos], havia proferido as seguintes palavras para ele: 'Foda-se, Macaco'. Neste momento paraliso a partida e chamo os jogadores envolvidos para relatarem o que havia acontecido. Rafael Ramos afirma que houve um mal-entendido devido ao seu sotaque (português) e diz ter proferido as seguintes palavras: 'Foda-se, caralho'."

No Instagram, Edenilson disse que "sabe o que ouviu" e que "foi a primeira vez que isso aconteceu" com ele. "Me incomoda o fato de ficar chamando atenção de outra forma que não seja jogando futebol: ser xingado pelo tom da minha pele", disse. "Procurei o atleta para que ele assumisse e me pedisse desculpas, afinal, todos erramos e temos o direto de admitir, mas o mesmo continuou a dizer que eu havia entendido errado. Eu não entendi errado."

O jogador voltou a se manifestar sobre o caso depois da partida contra o Independiente Medellín, quando marcou dois gols e comemorou com gesto antirracista. Segundo ele, foi julgado por muitas pessoas por fazer a denúncia.

Rafael Ramos, que teve fiança paga ainda durante a noite da partida no Beira-Rio, afirmou que a denúncia feita por Edenilson teria sido "puramente um mal-entendido". "Estou aqui de consciência e cabeça limpa para explicar o que acontece. No fim do jogo fui ter uma conversa com ele, tivemos uma conversa tranquila. Expliquei o que tinha acontecido, ele explicou o que tinha entendido. Expliquei a verdade. Ele mostrou receio de passar por mentiroso, e expliquei a ele que ele não é um mentiroso, que apenas entendeu errado. Apertamos a mão, e desejo boa sorte a ele", afirmou.

A investigação da acusação de injúria racial é conduzida pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, que já pediu no início da semana imagens do momento em que Rafael Ramos teria cometido o crime contra Edenilson.

No dia 18 de maio, o Plenário do Senado aprovou projeto de lei (PL 4.566/2021) que aumenta as penas por crime de injúria racial em eventos esportivos. Atualmente, o Código Penal estipula a pena de um a três anos de detenção. O texto pede elevação do período para dois a cinco anos. O PL foi direcionado à Câmara dos Deputados.