Topo

Corinthians

'Era para prender Leoz': Gobbi, do Corinthians, lembra encontro na Conmebol

Mario Gobbi dá entrevista no Corinthians - Ernesto Rodrigues/Folhapress
Mario Gobbi dá entrevista no Corinthians Imagem: Ernesto Rodrigues/Folhapress

Arthur Sandes, Ricardo Perrone e Vanderlei Lima*

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

09/07/2022 04h00

Em comemoração aos 10 anos do título do Corinthians da Libertadores de 2012, o UOL Esporte entrevistou Mário Gobbi. Presidente do clube na conquista, ele não teve papas na língua e, além de revelar histórias e bastidores inéditos, teceu fortes críticas a Conmebol e ao Santos, adversário derrotado nas semifinais da competição.

O ex-presidente do Corinthians foi categórico ao dizer que a Vila Belmiro não deveria receber jogos do tamanho de um clássico em uma semifinal de Libertadores, falou que a Conmebol "operou" o Corinthians em 2013 e relembrou uma profecia que se realizou do Padre Marcelo Rossi.

Críticas à Vila Belmiro e a torcida do Santos

"Olha, o Tite gosta de chegar na véspera, gosta de treinar no local. Então, descemos (para Santos) na véspera, chegamos pro almoço e, no final da tarde, fomos treinar na Vila. Se a Vila fosse do Corinthians, ninguém ia permitir jogos ali. Não tem a menor condições de se jogar um clássico na Vila. Mas como é a Vila, como é o Santos, [como] é o Pelé, é coitadinho e pequenininho, então rasgaram todas as leis que existem e continuam mandando clássico na Vila Belmiro."

"O ônibus chega, desce na rua, você é cuspido no elevador, você não tem segurança nenhuma. Quer dizer, todas as irregularidades legais têm na Vila. Naquela época eu falei: 'Olha, eu vou mandar os jogos do Corinthians no Parque São Jorge e vocês não vão poder falar nada'. Mas é a Vila, é a Vila, é o Brasil varonil, é o sítio do pica-pau amarelo. Então, fomos jogar na Vila. Chegou lá, fora da Vila, eles soltavam bombas para dentro do gramado; Só pra você ter uma ideia do que é a Vila... Então, nós não conseguíamos treinar por causa da torcida do lado de fora. Porque é assim: se você jogar um palito, ele cai dentro do gramado da Vila. Eu sei que vocês não gostam que falem isso, mas é uma realidade e ninguém fala."

Torcida do Santos ergue bandeirão na arquibancada da Vila Belmiro - Galeria Santista - Galeria Santista
Torcida do Santos ergue bandeirão na arquibancada da Vila Belmiro
Imagem: Galeria Santista

"Não, veja, se eu sou o presidente (do Santos), eu jogo todas lá. Agora, o que é inconcebível é que as autoridades, os poderes constituídos, passem por cima das Leis e permitam jogar lá. Não é o Santos que está errado, o Santos está certo. Errados estão as autoridades e os poderes constituídos que permitem o jogo. Você sabe quantos policias saem de São Paulo pra ter jogo na Vila? Você sabe o custo que o Estado tem pra ter jogo lá na Vila? você sabe que segurança não tem nenhuma lá na Vila? você sabe que a torcida do visitante entra só no segundo tempo lá na Vila? Então, o Santos tem que jogar lá, mesmo. Agora, eu penso que a seriedade com a segurança no futebol começa a cair por aí: lá não tem segurança pra nada. Absolutamente nada."

'Era para prender o Nicolas Leoz'

"O grande desafio de um dirigente é pegar um clube campeão brasileiro e aprimorar, torná-lo campeão da Libertadores, do mundial, da Recopa e não ser bicampeão da Libertadores porque a Conmebol nos operou no Pacaembu contra o Boca por causa da morte do torcedor em Oruro. Então, todos têm o seu mérito. O meu mérito foi primeiro: pegar um time campeão brasileiro e dar um triplo mortal carpado levando a essas três conquistas. Porque quando você pega um time campeão, é uma loja de cristais se você não administra. Trinca alguma coisa ele se esfacela rapidamente. Ao contrário, se você pegar algo esfacelado, juntar tudo e remontar é muito mais fácil. Todos têm a sua contribuição na conquista."

Nicolas Leoz, ex-presidente da Conmebol - Norberto Duarte-23.abr.2013/AFP - Norberto Duarte-23.abr.2013/AFP
Nicolas Leoz, ex-presidente da Conmebol
Imagem: Norberto Duarte-23.abr.2013/AFP

"Eu cheguei em São Paulo, liguei para o presidente da Conmebol e marquei uma visita. Quando eu cheguei na Conmebol, a sala do presidente era a sala do presidente Mesquita Pimenta, do São Paulo. Era uma vergonha, uma vergonha, uma loucura. Era para eu prender o Nicolas Leoz na hora, algemar e tirar ele de lá de dentro. Era pra por algema naquele velho. Eu peguei, olhei pra ele e falei assim: 'O senhor está brincando comigo. Essa é a sua sala? A sua sala é a sala do presidente do São Paulo? Do Mesquita Pímenta? O senhor foi padrinho de casamento e ele do senhor? Só tem coisas do São Paulo aqui!'"

"Tinha umas coisinhas do Boca, umas coisinhas do River, mais um time lá. E na mesa dele tinha um bonequinho do Robinho, do Santos. 'Ah o senhor lembrou do Robinho? Eles foram campeões há duas Libertadores atrás'. Aí eu falei pra ele o que ele tinha que ouvir: 'O que o senhor está pensando que o Corinthians é?' Porque eu não tinha nada pra perder, perdido já estava. Sabe qual foi a impressão que eu tive? Que o Corinthians nunca foi na Conmebol, que o Corinthians era um ilustre desconhecido na Conmebol, que o Corinthians era um Tolima, um Torino de Jaú... Meu Deus do Céu, olha só onde nós estamos..."

Andrés Sanchez "pai" da Arena

Neo Química Arena pronta para receber Corinthians x Guarani pelas quartas de final do Paulistão 2022 - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Neo Química Arena pronta para receber Corinthians x Guarani pelas quartas de final do Paulistão 2022
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

"Ele (Andrés) foi o grande líder desse processo todo. A Arena ficou pronta na minha gestão, mas eu não participei absolutamente nada disso, isso é mérito dele. O CT é mérito dele. [...] Eu nunca participei de absolutamente nada sobre o projeto. A arena tem um pai que fecundou, nasceu e cuida até hoje, que é o presidente Andrés Sanchez. Ele e o presidente Lula e o senhor Emílio Odebrecht, ninguém se meteu nisso. Os méritos são todos do Andrés. Ele que conduziu, idealizou e quem esteve ao lado dele o tempo todo, quem fez o projeto de captação de receitas, foi Luiz Paulo Rosemberg. Quando eu assumi a presidência do Corinthians, a Arena tinha um ano de construção. Estava com 40% do estádio pronto e assinei o contrato. Porque era só assinar. Eu não estou me esquivando disso. Estou dizendo que não participei. E não participei mesmo. Quando começou, eu era diretor de futebol e estava até afastado para campanha pra ser presidente."

Cássio gigante e decisivo

"A comissão técnica, o treinador de goleiros mais o Tite, entendeu que o melhor era tirar o Júlio Cesar. Se acontecesse alguma coisa na Libertadores, a questão ia ficar inviável para o Júlio César. Foi exatamente aquela partida, um marco na campanha, contra o Emelec. O Cássio estava mais que pronto e se saiu bem, tomou conta do gol. O Cássio é um goleiro que tem o estigma das grandes decisões. Ele cresce demais, o gol fica pequeno demais. Ele fica um gigante e decide. Tem o carisma, a estrela de decidir."

Cássio x Diego Souza

"A hora que eu vi o Alessandro errar o passe, na minha cabeça passou muita coisa. Mas o que mais passava era o que o Alessandro ia amargar na vida dele porque o torcedor não o perdoaria em hipótese alguma. Dizer que o Alessandro era o exemplo de profissional, dizer que o Alessandro puxava a fila, dizer que o Alessandro era um líder, que cobrava a todos e que nos ajudava muito, não bastaria. Quer dizer, somente uma defesa do Cássio salvaria a pele do Alessandro. É triste, mas é uma realidade do futebol. E eu entrei em pânico, eu entrei em desespero e tudo isso numa fração de segundos... Quando eu olhei e vi que a bola saiu no leve toque do Cássio, a minha pressão quase foi a zero, entende? Eu fiquei sem forças até para respirar porque seria um final melancólico e aquele grupo não mereceria. [...] Ali também foi a confirmação de que seríamos campeões, em que pese termos o Santos na semi. Sabe, ali foi a confirmação de fé."

A profecia de Padre Marcelo Rossi e Tite "pilhado"

"Uma novidade: o jogo estava para terminar, era questão de segundos, e eu entrei no campo e corri para o nosso banco de reservas e comprimentei a todos. Fui dar um abraço no Tite, mas ele estava tão pilhado, tão pilhado que ele nem sabia quem era. Eu falei: 'Tite, p***a, nós somos campeões'. Ele falou: 'Vai tomar no **', me deu um esporro. Essa eu não havia contado ainda. Depois, nós demos muita risada disso tudo."

"Isso foi no gramado do Mundial: quando terminou o jogo, eu perguntei para o Cássio. 'O que você lembrou na defesa que você fez [contra o Chelsea]?' Ele disse: 'Lembrei do Padre Marcelo, que profetizou a partida que o Cássio ia fazer'. Na Libertadores, nós reunimos todos na capela ecumênica, foi quando nós inauguramos. O Padre Marcelo parou na frente do Sheik e disse que ele era um iluminado e decidiria o título. Então, eu senti ali que nós iríamos pro título."

Bicampeonato da Libertadores em 2022

Eu acho que o Corinthians, quando ele embala assim, pega um pique desse aí, ele cresce muito, ele se agiganta. Eu acho que o Corinthians tem tudo pra ir até o fim. Ele é um candidato a ser campeão."

Cássio defende pênalti de Ramírez em Boca Juniors x Corinthians, válido pelas oitavas de final da Libertadores - Staff Images / Conmebol - Staff Images / Conmebol
Cássio defende pênalti de Ramírez em Boca Juniors x Corinthians, válido pelas oitavas de final da Libertadores
Imagem: Staff Images / Conmebol

*Com texto de Guilherme Colucci

Corinthians