'Plantei uma sementinha. Posso viver livre', diz juiz que se declarou gay
A revelação pública de que é homossexual tirou um peso das costas do árbitro Igor Benevenuto. Aos 41 anos, ele sente que finalmente poderá ser feliz da maneira como é, sem o constante medo de que alguém exponha, sem seu consentimento, sua orientação sexual.
"Eu estou revelando para tirar o peso que sempre esteve nas minhas costas e que me incomodou e me causou muitos problemas. Hoje, eu posso viver livre, não preciso me esconder. Se eu estiver em um relacionamento hoje, as pessoas vão saber quem é essa pessoa. A minha ética e a minha conduta vão continuar da mesma forma", disse ele, em conversa com o UOL Esporte.
Benevenuto revelou sua orientação sexual em entrevista ao podcast "Nos Armários dos Vestiários", do ge. Ele se tornou o primeiro árbitro Fifa a se declarar publicamente homossexual. Mesmo com o marco, ele afirma ter se surpreendido com a repercussão.
"É um dos dias mais diferentes da minha vida. Recebi milhares de mensagens e, graças a Deus, todas positivas até agora, de muito apoio, força. Eu não imaginava que seria assim. Sabia que daria repercussão, mas pensei que seria dividido. Achei que um monte de gente ia xingar, falar um monte de besteira".
O medo de ser atacado por sua orientação sexual foi algo que esteve com Igor Benevenuto desde quando ele passou a entender quem ele era. O árbitro afirma ter tido quadros de depressão ao longo da vida. A primeira revelação foi feita para a mãe e para os irmãos, há pouco mais de 15 anos. Mas para levar isso a público, ele precisou passar por acompanhamento psicológico.
"Eu vivi acorrentado e com medo durante uns 32 anos da minha vida. Não vivia plenamente. Foi uma carga muito pesada. E eu nunca pude falar e revelar isso publicamente, nem para psicólogo nem para ninguém. Os psicólogos com quem eu fiz acompanhamento me ajudaram bastante nesse fortalecimento, nesse ganho de força para poder falar. Foram muitos anos de angústia, tristeza e agonia que eu fui vivendo. Mas, com isso, a maturidade veio e eu pude me libertar e me desamarrar dessa prisão", prosseguiu.
A pressão social fez com que Benevenuto nunca conseguisse viver, segundo ele, felicidade plena. Por onde andava, tinha medo de ser fotografado e ter sua vida exposta sem seu consentimento. Os quadros de depressão faziam com que ele desejasse constantemente ter nascido de outra maneira, para que não precisasse passar pelos preconceitos existentes na sociedade.
"Você não imagina o que é ficar pensando 24 horas em uma solução para você deixar de ser gay. (...) Isso era todo dia na minha vida. Imagina você se martirizar mentalmente todo dia. Hoje, eu tenho certeza de que a minha vida será muito mais feliz e muito mais tranquila. Hoje, eu tiro esse peso, não tenho mais que ficar escondendo nada de ninguém, de ficar me cobrando por isso. Vou viver a minha vida que eu ache adequada e feliz", prosseguiu.
A semente foi plantada
Igor Benevenuto entende a importância de sua revelação, mas tem a consciência de que apenas ele não é capaz de mudar o preconceito existente no futebol. O árbitro cita medidas das entidades envolvidas no esporte como atitudes que podem contribuir para que outras pessoas se sintam seguras para tomarem a mesma decisão que ele tomou.
"A CBF, a Fifa e a imprensa têm cobrado muito a questão do respeito no esporte. A mudança não depende só de mim. Nós temos a praia, aqueles milhões de grãos de areia, eu sou um grão de areia naquela imensidão. Mas eu plantei uma sementinha nessa floresta que está para nascer. Eu acho que pode ajudar, vai ajudar, porque a cobrança tem sido mais forte dos próprios clubes. A gente vê as campanhas dos clubes todo ano. Eu espero que tenha mais respeito e tolerância comigo e com todas as outras pessoas".
O árbitro citou como exemplo o ex-jogador Richarlyson que, ao mesmo podcast, revelou ser bissexual. O agora comentarista da "Globo" conviveu com diversos atos de preconceito ao longo de sua carreira, mesmo jamais tendo exposto sua orientação sexual.
"Muitas pessoas no meio são, mas não podem se revelar pelo medo de serem agredidos, cobrados, menosprezados. A gente viu relato do Richarlyson sobre isso, de torcedores sobre isso no podcast que foi feito, vão ter outros podcasts a respeito disso, e são histórias surpreendentes negativamente em relação à falta de respeito e tolerância. Eu espero que a coisa melhore, porque independentemente de a pessoa ser gay ou hétero, é um espaço que ela tem direito de estar ali e viver adequadamente, torcer para o time que ela gosta. Ela é um ser humano", completou Benevenuto.
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